Brasil é alvo de choques e de ruído eleitoral, diz Campos Neto

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Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central do Brasil, apresenta o Balanço da Agenda BC#. (Foto: Raphael Ribeiro/ BCB)

São Paulo – O Brasil tem sido alvo de choques externos e internos com impacto nas perspectivas de inflação e, além disso, também sofre com o ruído comum a períodos que antecedem eleições, afirmou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto durante um evento promovido pelo jornal O Estado de São Paulo.
Segundo ele, o melhor que o BC pode fazer nesta situação é buscar a meta de inflação e deixar claro aos investidores quais as dificuldades que está enfrentando para cumprir o objetivo.
“Tivemos crise hídrica – lembrando que alguns choques são choques de oferta, de disrupção em cadeias, e grande parte deles são globais e é mais difícil você entender quando vai normalizar”, disse ele. “Além disso tem processo eleitoral, que tem um ruído natural, que vários outros países não têm. Tem choques externos, choques internos, crise hídrica e ruído eleitoral.”
“Nossa missão é atingir a meta, entregar a meta de inflação. Isso é muito importante. Elemento mais importante para garantir estabilidade e crescimento sustentável de curto, médio e longo prazo. As empresas fazem projeto de longo prazo e precisam ter certeza em relação a estabilidade de preços no futuro. A melhor forma de lutar contra as dificuldades é explicitar as dificuldades que a gente está vendo e como está agindo.”
O presidente do BC também comentou a respeito da divergência entre as previsões para a inflação vindas da instituição em relação às que são divulgadas pelo mercado financeiro, e disse que há duas teorias do BC para explicar por que os investidores esperam índices mais altos.
“Tem dois grupos. Um grupo de hiato, do hiato fechando, de quando de fato vamos atingir essa condições, e aí com tanta incerteza e com tanto choque a modelagem ficou um pouco mais difícil”, disse ele, em referência ao chamado hiato do produto, a diferença entre o crescimento econômico potencial e o observado.
“Tem outra parte que é inércia. Se eu errei a inflação durante seis, sete vezes, oito vezes, muito provavelmente vou jogar meu balanço de risco para esse lado, vou prever uma coisa no sentido dos meus erros”, acrescentou.
A previsão de inflação mais recente divulgada pelo BC foi no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) publicado em 4 de agosto. Na ocasião, a instituição previa inflação de 6,5% para 2021, 3,5% para 2022 e 3,2% para 2023. O mercado, na mesma época, estimava taxas de 6,8%, 3,8% e 3,25%, respectivamente.
Mais recentemente, a previsão do mercado passou para 7,27% em 2021, 3,95% em 2022 e 3,25% em 2023.