Bolsonaro volta a estimular uso da cloroquina contra doença

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Os presidentes da República, Jair Bolsonaro e do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, fazem declaração à imprensa no Planalto. (Foto: Carolina Antunes/PR)

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o uso da cloroquina no tratamento da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, mesmo depois de o Ministério da Saúde ter dito que ainda são necessários testes que confirmem a eficácia do medicamento.

“Após ouvir médicos, pesquisadores e chefes de estado de outros países, passei a divulgar nos últimos 40 dias a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial”, disse ele, em referência ao uso da cloroquina.

“Há pouco conversei com doutor Roberto Kalil, cumprimentei-o pela honestidade e compromisso com juramento de Hipócrates, ao assumir que não só usou a hidroxicloroquina, bem como ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos”, disse Bolsonaro, referindo-se ao médico cardiologista, que havia sido contaminado pela covid-19.

“Disse-me mais: que mesmo não tendo finalizado protocolo de testes, ministro o medicamento agora para não se arrepender no futuro. Temos mais boas notícias: fruto de minha conversa direta com primeiro-ministro da India, receberemos até sábado matéria-prima para continuarmos produzindo a hidroxicloroquina, de modo a podermos tratar pacientes da covid-19, bem como malária, lúpus e artrite”, acrescentou.

No início da semana, o Ministério da Saúde publicou um boletim afirmando que “no momento, não há vacina para proteger contra o covid-19 e nem medicamentos aprovados para tratamento.”

“Medicamentos, como a cloroquina associada à azitromicina apresentam importante potencial. No entanto, é necessário mais duas semanas para recebimento de resultados preliminares de segurança e eficácia do uso deste protocolo para uso ampliado”, diz o documento.

POSIÇÃO DO MINISTRO

Antes do pronunciamento, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, havia comentado sobre o uso da cloroquina no tratamento da covid-19 e voltou a defender um uso criterioso e restrito da substância, apenas nos pacientes com quadro mais grave.

Segundo ele, cerca de 85% das pessoas contaminadas pelo novo coronavírus vai se recuperar da doença tratando os sintomas com medicamentos que já estão no mercado e que servem para aliviar os efeitos de uma gripe comum. “Será que seria inteligente dar um remédio para 85% das pessoas que não precisam deste remédio? Remédio que tem efeitos colaterais?”, questionou.

Ele também mencionou que no momento há outras gripes circulando, algumas delas com efeitos mais graves, e que são combatidas com medicamentos específicos – H1N1, por exemplo.

Mandetta também disse que aplicar a cloroquina indiscriminadamente nos pacientes que estão no grupo de risco – pessoas com 60 anos ou mais ou com doenças crônicas – também gera problemas.

“São os que têm maior parte de problemas cardíacos, problemas hepáticos. Será que se dermos esse medicamento vai protegê-los ou será que vão ter arritmia cardíaca e precisar do leito do CTI?”, questionou Mandetta.

Ele acrescentou que encomendou ao Conselho Federal de Medicina um estudo sobre o uso da cloroquina no tratamento da covid-19 e que a conclusão deve ser publicada em 20 de abril.

BOLSONARO E ISOLAMENTO SOCIAL

Durante o pronunciamento de ontem, Bolsonaro também reiterou seu posicionamento quanto à necessidade de preservar a atividade econômica durante a pandemia, ainda que isso signifique retirar as pessoas de casa – o que resultaria em afrouxamento do distanciamento social que está em vigor nos estados.

“Sempre afirmei que tínhamos dois problemas a resolver: o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente”, disse ele. “Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar o seu pão de cada dia. As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença. O desemprego também leva á pobreza, à foma, à miséria e à própria morte.”

“Tenho certeza que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar. Esta sempre foi minha orientação aos ministros observadas as normas do Ministério da Saúde”, acrescentou.