Bolsa teve dia volátil com exterior e demissão de Mandetta

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São Paulo – Após um pregão volátil, o Ibovespa fechou em queda pelo segundo dia seguido, com perdas de 1,29%, aos 77.811,85 pontos, refletindo ruídos políticos trazidos pelo imbróglio da demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O volume total negociado foi de R$ 21,020 bilhões.

A cena política ajudou o Ibovespa a se descolar das Bolsas norte-americanas nesta tarde, que fecharam em alta. Mais cedo, o índice chegou a subir mais de 1% e seguiu de perto o movimento de Wall Street. No entanto, ainda há alguma cautela no cenário externo em função de dados norte-americanos fracos e antes de discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deve falar sobre um possível afrouxamento de regras de isolamento social no país.

Mandetta confirmou no final da tarde, por meio do seu Twitter, que foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. Os políticos trocaram críticas em meio a visões divergentes sobre o isolamento social para combater a pandemia. O médico oncologista Nelson Teich assumirá o cargo e afirmou, porém, que não haverá mudança brusca na posição sobre o isolamento.

Para o CEO da WM Manhattan, Pedro Henrique Rabelo, a falta de definição em torno da demissão de Mandetta era um fator negativo. “Há muita incerteza e isso trouxe muitos holofotes para essa questão”, disse.

Analistas também têm afirmado que investidores têm ganhando mais em operações no dia a dia, sem fazer maiores movimentos por enquanto, sendo que o Ibovespa tem mostrado desempenho pior do que seus pares no exterior por ruídos políticos. “O mercado está esperando alguma novidade, o pessoal do day trade que está mandando”, disse um operador de uma corretora nacional.

Investidores ainda seguiram atentos a aprovações de projetos contra o coronavírus, sendo que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, fez críticas à equipe econômica, que é contra o projeto de lei que irá ajudar os Estados.

Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram da Ecorodovias (ECOR3 -5,40%), da BR Distribuidora (BRDT3 -4,66%) e da Cielo (CIEL3 -4,66%). Papéis de peso para o índice, como os da Petrobras (PETR3 -3,06%; PETR4 -3,90%) e de bancos, também fecharam em queda.

Na contramão, as maiores altas foram do Magazine Luiza (MGLU3 4,10%), da Lojas Americanas (LAME4 4,04%) e da Totvs (TOTS3 3,31%). Para o operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos, as ações de varejo e consumo mostraram um desempenho melhor hoje refletindo as expectativas de reabertura da economia.

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos a indicadores da China, como as vendas no varejo, produção industrial e o PIB. Já nos Estados Unidos, o destaque são os indicadores antecedentes. O mercado ainda acompanhará os desdobramentos da demissão de Mandetta e da escolha do novo ministro.

O dólar comercial fechou em alta de 0,22% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2550 para venda, em sessão de forte volatilidade em meio cenário mais negativo no exterior com investidores à espera do discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no qual deverá anunciar diretrizes para a reabertura da economia norte-americana. Aqui, perto do fechamento, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, confirmou que foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca a “intensa volatilidade”, ao longo da sessão. “A moeda caiu na primeira hora repercutindo o indicador americano de pedidos de auxílio-desemprego, que veio melhor que o esperado, o que levou a moeda a transitar pela casa dos R$5,20”, comenta.

Em sessão de liquidez reduzida no mercado doméstico e com atuação do Banco Central (BC) com mais uma operação de swap cambial tradicional, a moeda voltou a oscilar em alta, mantendo-se acima do nível de R$ 5,25 exibindo piora após o estado de Nova York estender a quarentena até 15 de maio.

Aqui, o cenário político segue no radar dos investidores principalmente, após a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Querendo ou não, já estava no preço. O mercado estava esperando pela demissão, só não sabia o dia”, comenta a economista de uma corretora local.

Amanhã, indicadores da China deverão pesar na abertura dos negócios. Mais tarde, sairão os números da produção industrial e das vendas no varejo no país asiático em março, além do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre.

“Os números são muito aguardados porque teremos um panorama da economia onde começou a pandemia [de novo coronavírus]. Certamente, os dados virão bem ruins. Um cenário nada animador”, avalia o consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello.