Bolsa sobe no fim do pregão, apesar de correção nos EUA

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Por Danielle Fonseca, Flávya Pereira, Olívia Bulla e Carolina Gama

Após chegar a cair mais de 1% e perder os 99 mil pontos, o Ibovespa voltou a subir no final do pregão e encerrou em alta de 0,51%, aos 101.241,73 pontos, com a correção de Bolsas norte-americanas perdendo força e investidores voltando a comprar papéis como os de bancos e os da Vale. O volume total negociado foi de R$ 35,4 bilhões.

Mesmo com a melhora, o índice fechou a semana em queda de 0,88%, depois de forte volatilidade nos últimos dias, marcados pelas perdas de ações de grande empresas de tecnologia nos Estados Unidos, pelo tombo histórico do PIB brasileiro no segundo trimestre e pelo andamento da agenda de reformas, com a entrega da proposta do governo sobre a reforma administrativa ontem.

Desde ontem, Wall Street passa por uma correção capitaneada por ações de grandes empresas de tecnologia, como Apple, Amazon, Tesla, Google, entre outras, que vinham de uma sequência extraordinária de altas e levando os índices norte-americanos a novas máximas históricas. Depois de altas altas recentes, analistas têm visto uma rotação de setores, com investidores embolsando lucros com as “tech” enquanto buscam ações de outros setores que ficaram para trás. 

Porém, a realização de lucros reduziu de intensidade ao longo do pregão, com a Nasdaq, por exemplo, fechando em queda de 1,27%, após chegar a recuar mais de 5% mais cedo.

A analista da Rico Investimentos, Betina Roxo, ressalta que o setor de tecnologia foi o maior vencedor no mundo pós pandemia, “com a aceleração significativa das tendências de tecnologia e digitalização”, o que fez seus papéis subirem demais e trouxeram até ao temor de uma “bolha” nesses ativos. Na sua avaliação, se essa alta continuar a se espalhar além de apenas alguns nomes específicos e se tornar uma tendência mais ampla de preços, “se desvinculando completamente dos fundamentos”, poderia ocorrer uma bolha, o que não vê acontecendo até o momento. 

No Brasil, as ações de bancos estão entre as que têm tido desempenho mais fraco e voltaram a atrair compradores, com destaque para a ação do Santander (SANB11 1,56%). Outras ações de peso também mostraram uma melhora no final do pregão, caso da Vale (VALE3 1,97%) e da Gerdau (GGBR4 2,78%).

Já as maiores altas do índice foram das ações da Qualicorp (QUAL3 7,67%), da CCR (CCRO3 4,34%) e da Braskem (BRKM5 4,09%). Na contramão, as maiores quedas foram de varejistas com e-commerce, como Hering (HGTX3 -4,94%), da empresa de tecnologia Totvs (TOTS3 -1,81%), do BTG Pactual (BPAC11 -2,41%) e da Cyrela (CYRE3 -1,85%).

Perto da abertura, dados de criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos, conhecido como payroll, chegaram a impulsionar Bolsas. O número de criação de vagas em agosto veio em linha com o esperado, já a taxa de desemprego caiu para 8,4%, melhor do que os 9,9% esperado por analistas.

Porém, o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, lembra que o fato de ser feriado no Brasil e nos Estados Unidos na próxima segunda-feira também fez o dia de ser ajustes. 

Já o analista da Guide Investimentos, Luís Sales, afirma que o Ibovespa não chega a cair tanto quanto os índices norte-americanas, pois não se recuperou das perdas decorrentes da pandemia no mesmo ritmo de Wall Street, que estava em suas máximas históricas. 

Além disso, explica que “as empresas de tecnologia possuem menor representatividade no mercado brasileiro” e que há uma percepção de melhora da cena doméstica. Após preocupações fiscais, o andamento de reformas, com entrega da proposta da reforma administrativa do governo ao Congresso ontem, trouxe algum alívio.

Na segunda-feira, mercados nos Estados Unidos e Brasil ficarão fechados em função de feriado, mas a semana deve trazer uma série de indicadores de inflação em vários países, além da decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). O Congresso norte-americano também deve continuar a discutir um novo pacote de estímulos no país.

O dólar comercial fechou em alta de 0,32% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3080 para venda, interrompendo uma sequência de três quedas seguidas, influenciado pelo viés de correção nas bolsas de Nova York e com o movimento de cautela aqui e no exterior à véspera do fim de semana prolongado com o feriado na segunda-feira no Brasil e nos Estados Unidos. Na semana, porém, a moeda se desvalorizou 2,01%, a segunda seguida de queda.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca que nem mesmo os dados positivos do mercado de trabalho norte-americano retratado no payroll, aliviou a pressão na correção das Bolsas dos Estados Unidos.

“A alta foi apoiada, basicamente, na valorização da divisa no exterior em decorrência do aprofundamento das perdas em Wall Street, especialmente na Nasdaq [que chegou a cair mais de 4%], que reúne os papéis das empresas de tecnologia”, comenta Gomes. 

O diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, acrescenta que Nasdaq estava sobre-comprada no exterior, nas máximas históricas. “Me pareceu uma correção que levou o mercado todo, como Ibovespa e real. Foi um grande movimento de aversão a risco, de venda de ações nos Estados Unidos”, diz. 

O profissional da Correparti reforça que temores de que ruídos políticos entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes, possa atrapalhar o andamento das reformas no Congresso colocou investidores “na defensiva, se refugiando na divisa estrangeira” antes do feriado.

Na semana que vem, mais curta, a agenda de indicadores forte, principalmente, com dados de inflação, deverá corroborar na precificação dos ativos. No fim da semana, o destaque é a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE).  “A inflação ao consumidor norte-americano tende a continuar em patamares mais elevados, enquanto o BCE deverá reconhecer os desafios à continuidade da retomada da atividade econômica e, nesse sentido, poderá sinalizar nova rodada de estímulos”, avalia a equipe econômica do Bradesco.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, mantendo a trajetória desde o início da sessão, apesar do vaivém dos demais ativos locais, que ficaram mais reféns do cenário externo. Ainda assim, o movimento da curva a termo foi limitado pela cena política local e pela proximidade do feriado, na segunda-feira.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,74%, de 2,79% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 3,90%, de 3,96% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,69%, de 5,76%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,64%, de 6,72%, na mesma comparação. 

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram em baixa pelo segundo dia seguido, mas reduziram a queda no final da sessão com nomes que se beneficiariam da reabertura econômica apagando parte das fortes perdas do setor de tecnologia. Na semana, no entanto, os índices amargaram quedas acentuadas.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,56%, 28.133,31 pontos

Nasdaq Composto: -1,27%, 11.313,13 pontos

S&P 500: -0,81%, 3.426,96 pontos

Veja o acumulado dos índices na semana: 

Dow Jones: -1,04%

Nasdaq Composto: -3,93%

S&P 500: -2,10%