Bolsa sobe e dólar cai por cautela após semana conturbada na política

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Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – A Bolsa operou com bastante volatilidade no pregão desta sexta-feira, mas fechou em queda de 0,93%, aos 114.285,93 pontos, com os investidores mantendo cautela em relação ao cenário interno e observando o tom apaziguador do presidente Jair Bolsonaro com os Poderes, principalmente o Judiciário, mostrado na carta da véspera dirigida à nação.  Somado a isso, os agentes financeiros aguardam pela evolução das reformas e o impacto da atitude de Bolsonaro no andamento da economia.
O movimento negativo das bolsas em Nova York também contribuiu para o pessimismo do mercado local no final dos negócios. As ações do setor financeiro, que têm peso no índice, caíram em bloco.
Cássio Bambirra, sócio da One Investimentos, afirmou que a Bolsa opera com muita oscilação na sessão de hoje devido às incertezas ainda no ambiente interno. “O tom mais apaziguador do presidente ontem animou o mercado”, mas o tema dos precatórios entra na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima semana. “Traz mais um receio  de como isso vai desdobrar, porque é muito importante para o investidor estrangeiro por segurança jurídica”.
Pelo lado positivo, o sócio da One Investimentos disse que o anúncio do ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] projetando chuvas para o sudeste e para a região sul, “trouxe ânimo ao mercado e vai diminuindo os riscos da crise energética”.
Para Aldo Filho, analista da Aware Investments, os investidores ainda mantêm cautela em na sessão desta sexta-feira apesar do aceno positivo de presidente Bolsonaro da véspera. “Internamente o primeiro passo já foi dado e considero favorável para a economia, mas decisões jurídicas precisam ser tomadas em relação aos precatórios, e o Congresso precisa agir em prol dessas e outras medidas para o controle fiscal”.
O analista da Aware Investments enfatizou que o “caminho a percorrer ainda é longo para um acordo definitivo”.
Filho também comentou que a inflação e desemprego preocupam os agentes financeiros, além do fator externo que impacta por aqui. “O cenário lá fora sofre com o aumento de casos de infecção pela covid-19 e atrasos na recuperação global”.
Uma fonte do mercado financeiro que não quis se identificar comentou que o “Ibovespa à vista e futuro estão passando por um ajuste técnico após a forte alta da véspera”. A fonte acrescentou que o movimento de virada no mercado “promoveu mais prejuízo que lucro para os investidores”.
Mais cedo, as vendas do varejo apontaram alta de 1,2% em julho ante junho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mercado previa ganho de 0,6%, conforme a mediana calculada pelo Termômetro CMA.
O dólar comercial fechou em R$ 5,2670, com alta de 0,76%. O começo da sessão apresentou volatilidade, mas no período da tarde a moeda norte-americana guinou para uma sólida alta. A euforia vista ontem nos mercados, após a nota do presidente Jair Bolsonaro, se dissipou a e hoje o dólar voltou a prevalecer ante o real.
Para o analista de investimentos da Toro, Bráulio Langer Fernandes, “o movimento de ontem e hoje é um reflexo das notícias domésticas dos últimos dias, como a nota do Bolsonaro e protestos na terça”. O analista, porém, classifica o movimento de ontem como “emocional”, e hoje ocorre uma correção técnica.
Fernandes, porém, é enfático: “A tendência do dólar, em curto prazo, ainda é de alta. Globalmente, a moeda norte-americana tem ganhado força ante seus pares”, pontua.
De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “neste momento estamos na contramão global. O dólar hoje está em um viés volátil, então o cenário vai se desenhando imprevisível”.
Vieira destaca que o real está se desvalorizando em comparação aos seus pares, como o peso mexicano: “A maior parte das moedas emergentes está se valorizando”, enfatiza o economista.
Segundo relatório da Commcor, “a iniciativa de Bolsonaro ao menos ameniza a relação entre os poderes que vinha sendo rodeado de bastante atrito. Isso coloca de volta as possibilidades de discussão das reformas e ajustes fiscais necessários”.
Embora o clima seja otimista, os desafios continuam no radar: “O desgaste político e institucional que vinha sendo visto ainda é presente e Jair Bolsonaro precisará reconstruir relações políticas”, pondera o relatório.
Assim como previsto desde o início da sessão, as taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) encerraram a sessão em queda, corrigindo parte da alta excessiva de ontem diante de cenário político adverso. Com a calmaria entre os Poderes, restou apenas o avanço das taxas diante de dados de inflação acima do previsto, possivelmente acelerando a alta da Selic (taxa básica de juros) na próxima reunião do Banco Central (BC) no final do mês.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,285%, de 7,40% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,16%, de 9,245%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,18%, de 10,27% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,56%, de 10,72%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda com a apreensão dos investidores em relação à próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) inibindo os riscos.
Confira as variações e pontuações dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,78%, 34.607,72 pontos
Nasdaq Composto: -0,87%, 15.115,5 pontos
S&P 500: -0,77%, 4.458,58 pontos