Bolsa sobe e dólar recua com “fico” de Paulo Guedes

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta de 2,47%, aos 102.065,35 pontos, acelerando ganhos na etapa final do pregão, diante da redução de temores sobre uma possível saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, após o próprio e o presidente Jair Bolsonaro negarem a informação, além de reiterarem o compromisso com o teto de gastos. Os ganhos expressivos de ações de empresas varejistas e de siderúrgicas, em meio a balanços e à alta do minério de ferro, também impulsionaram o índice.

Guedes e Bolsonaro vieram à público ontem à noite “passar panos quentes” nos rumores de saída do ministro, que cresceram após a debandada vista na equipe econômica na semana passada e da pressão por aumento de gastos, ameaçando o cumprimento do teto. As especulações em torno de Guedes fizeram o Ibovespa chegar a cair abaixo de 100 mil pontos ontem, o que não ocorria há mais de um mês.

“Os dois deram entrevistas e Guedes falou que o presidente nunca faltou com ele. A expectativa é que o governo também consiga os R$ 5 bilhões para infraestrutura com um remanejamento, sem estourar o teto de gastos. Mas sempre fica aquele alarme ligado”, disse o sócio da Criteria Investimentos, sem descartar volatilidade à frente.

Para o estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, a distensão do ambiente político e também a alta dos preços das commodities sustentou a volta do Ibovespa a acima dos 100 mil pontos, mesmo que ainda permaneça algum desconforto. “As palavras [de Guedes e de Bolsonaro] vêm em boa hora, depois de intensa especulação”, disse, em relatório.

Além do alívio inicial trazido pelas declarações, o dia foi de forte alta dos preços do minério de ferro na China, o que refletiu nas ações da Vale (VALE3 1,33%) e de siderúrgicas, que ficaram entre as maiores valorizações do índice, caso da Gerdau (GGBR4 8,15%).

Ao lado da Gerdau, ficaram os papéis do Magazine Luiza (MGLU3 9,61%), após resultados trimestrais acima do esperado pelo mercado e com analistas vendo um momento positivo para a rede varejista, especialmente, no comércio eletrônico. Ainda entre as maiores altas ficaram os papéis da Via Varejo (VVAR3 8,15%) e do BTG Pactual (BPAC11 8,34%).

No cenário externo, as Bolsas norte-americanas fecharam na sua maioria em alta, com o índice norte-americano S&P 500 em leve alta, depois de bater seu recorde intraday, em meio à divulgação de balanços como os do Walmart e ignorando a tensão sino-americana por enquanto. O governo norte-americano anunciou ontem mais restrições ao grupo chinês Huawei, ao proibir empresas estrangeiras que produzem itens com alguma tecnologia norte-americana façam negócios com a companhia.

Na agenda de amanhã, o destaque é a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que será publicada às 15h, e pode dar mais detalhes sobre os próximos passos da autoridade monetária.

O dólar comercial encerrou a sessão em queda de 0,45%, sendo negociado a R$ 5,4710 para venda, diante de um ligeiro otimismo com a permanência de Paulo Guedes, ministro da Economia, no governo. Ao longo da sessão e moeda norte-americana chegou a opera em alta, refletindo um movimento pontual de saída de recursos.

“No início da tarde o dólar chegou a subir um pouco em um movimento pontual de saída de recursos, mas não sei ao certo dizer se foi uma remessa ou alguma operação bancária específica ou se foi algum receito quanto ao lado fiscal do Brasil. Mas o que valeu mesmo é que o dólar caiu mostrando uma possível volta do otimismo dos investidores com o país, após a confirmação de que Guedes seguirá sendo ministro”, explicou um operador de câmbio de uma corretora.

“Para amanhã, se nada muito grava acontecer a tendência é de seguir em queda, já que a alta de ontem foi bem forte. Mas o investidor seguirá acompanhando o noticiário político no Brasil e essa questão fiscal, que é muito preocupante frente ao que pode acontecer ainda no próximo ano e sem perspectiva de que o coronavírus acabe tão logo”, acrescentou o operador.

Relatório elaborado pelo estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, explica que a situação atual de pandemia será muito prejudicial para diversas economias, mas o Brasil passará por momentos difíceis. “O Brasil terá que enfrentar dolorosos ajustes fiscais após a crise, se quiser colocar sua economia de volta em bases sustentáveis”, explicou.

“O foco deve ser nos gastos obrigatórios, que respondem por mais de 90% do orçamento do governo, e no aumento da produtividade, pois o país já tem uma carga tributária elevada (33% do PIB), o que significa que aumentar os impostos não deve ser uma opção, especialmente neste momento de estresse econômico”, acrescentou.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda acelerada, mantendo a trajetória exibida desde a abertura do pregão, em dia de alívio após o “fico” do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo. Os investidores devolveram boa parte dos prêmios embutidos recentemente, mas a questão fiscal segue no radar, à espera dos ajustes a serem feitos na proposta de Orçamento para 2021, de modo a contemplar os anseios do presidente Jair Bolsonaro sem descumprir o “teto dos gastos”.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,69%, de 2,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 3,88%, de 4,06% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,68%, de 5,95%; e o DI para janeiro de 2027 ficou com taxa de 6,70%, de 6,99%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram mais uma sessão sem uma direção comum, embora o S&P 500 tenha conseguido renovar sua máxima no fechamento depois de flertar com recordes por mais de uma semana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,24%, 27.778,07 pontos

Nasdaq Composto: +0,73%, 11.210,84 pontos

S&P 500: +0,23%, 3.389,78 pontos