Bolsa sobe e bate recorde de pontuação com expectativa por andamento da Previdência

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta de 1,23%, aos 106.022,28 pontos, – superando o recorde histórico de fechamento de 105.817,06 pontos registrado no dia 10 de julho – em meio a expectativas de andamento de reformas, com a possível conclusão da votação da reforma da Previdência amanhã. O cenário externo mais tranquilo, com maior otimismo em relação ao acordo comercial entre China e Estados Unidos, também deu suporte a alta do índice hoje.

O volume total negociado foi de R$ 19,2 bilhões, impulsionado pelo exercício de opções sobre ações hoje, no valor de R$ 5,98 bilhões.

“Hoje tivemos várias ações, como de bancos e frigoríficos, subindo e o motivo da alta é a boa expectativa para a agenda econômica. A Previdência vai ser votada amanhã”, disse o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara. Para Miziara, investidores estão mais otimistas com a agenda e se antecipam à possível votação da Previdência em segundo turno no Senado nesta terça-feira (22), que deve concluir a tramitação da reforma no Congresso, embora a aprovação já seja esperada.

Depois da Previdência, há perspectiva também de que outras reformas possam ser destravadas. Hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que se reuniu com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que a reforma administrativa irá avançar em conjunto com a reforma tributária.

No exterior, as bolsas norte-americanas fecharam em alta depois que o vice-presidente chinês Liu He disse que as negociações comerciais entre China e Estados Unidos fizeram progresso concreto em direção a um acordo comercial em Washington, e que interromper a guerra comercial seria bom para os dois lados e para o mundo.

Entre as ações, as de bancos aceleraram ganhos durante à tarde e ajudaram o índice a bater o recorde, caso do Bradesco (BBDC3 1,55%; BBDC4 0,71%), que chegaram a cair mais cedo, e do Itaú Unibanco (ITUB4 1,63%). As ações da Petrobras (PETR3 1,10%; PETR4 0,65%) também passaram a subir mais em meio a rumores de que o leilão da cessão onerosa pode levantar até US$ 45 bilhões para a estatal.

O dia ainda foi positivo para ações ligadas a commodities, na esteira de melhores expectativas para a China, caso da Vale (VALE3 2,56%), Suzano (SUZB3 3,16%) e da BRF (BRFS3 4,43%), que ficaram entre as maiores altas do Ibovespa. Ainda entre as maiores altas ficaram as ações da Qualicorp (QUAL3 5,29%) e da Yduqs (YDUQ3 4,38%), que anunciou a compra da Adtalem Educacional – dona do Ibmec, da Wyden Educacional e da Damásio Educacional – por R$ 1,92 bilhão.

Na contramão, as maiores quedas foram da Smiles (SMSL3 -1,73%), da Cogna, ex-Kroton, (COGN3 -1,30%) e da Hypera (HYPE3 -1,26%).

Amanhã, o sócio da Criteria acredita que o índice pode voltar a apresentar volatilidade enquanto o mercado espera pela votação da Previdência, apesar de o Ibovespa também esteja perto de superar a máxima histórica de 106.650,12 pontos, batida em 10 de julho. Na agenda de indicadores, ainda será divulgado o IPCA-15 de outubro.

O dólar comercial fechou em alta de 0,29% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1320 para venda, em viés de correção após forte queda no último pregão. As incertezas no exterior, que levaram a moeda estrangeira a exibir ganhos ante as moedas de países emergentes, em meio aos conflitos no Chile, corroboraram com a alta firme da divisa na sessão.

“O giro foi fraco, em dia de agenda esvaziada tanto aqui como no exterior. Depois de abrir levemente valorizada, a moeda aqui passou ter uma queda pontual na casa dos R$4,11, o que trouxe para o mercado um movimento de compra por parte de importadores e de algumas tesourarias bancárias em um movimento de recomposição de posições”, destaca o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.

Ele acrescenta que a valorização da moeda estrangeira no exterior frente às moedas emergentes e ligadas às commodities também corroboraram para o movimento de desvalorização do real, que teve um dos piores desempenhos ao longo da sessão.

Para o diretor da mesma corretora, Ricardo Gomes, os conflitos violentos no Chile, no qual levaram o governo a suspender serviços e declarou toque de recolher no fim de semana, podem ter respingado no mercado brasileiro. “O Chile não deixa de provocar insegurança pelo risco da contaminação regional”, diz Gomes.

Já o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, chama a atenção para “uma onda da esquerda na América Latina” que ainda “não foi precificada” pelo mercado. “Todas as principais economias da região [Chile, Argentina, México e Brasil] parecem estar sob algum tipo de confusão e pelo que posso ver o preço dos títulos públicos brasileiros, o mercado ainda não precificou isso de fato”, salienta.

Amanhã, o viés é de alta, aponta o diretor da Correparti. Em dia visto como “o mais importante no ano” para a economia brasileira, ele acrescenta que não existe “uma tranquilidade, já que o mercado está tentando avaliar até onde o “racha” do PSL – partido do presidente Jair Bolsonaro – vai impactar a votação da reforma da Previdência em segundo turno no Senado. “Repito, não há razões domésticas e externas para nos afastarmos desse nível de dólar”, ressalta Gomes.