Bolsa sobe com reforma tributária e dólar avança por correção

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São Paulo – A ausência de grandes novidades no exterior e declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a reforma tributária fizeram o Ibovespa encerrar em alta de 2,32%, aos 102.888,25 pontos. Trata-se do maior patamar de fechamento desde o dia 4 de março (107,224,22 pontos), antes do início da sequência de seis circuit breaker ocorridos em função da pandemia causada pelo coronavírus.

“Lá fora as Bolsas não subiram muito, mas aqui o otimismo está mais forte com investidores ainda acreditando nas falas de Guedes sobre privatizações e sobre a reforma tributária. Alguns papéis de peso para o índice também puxaram a alta”, disse o analista da Necton Corretora, Gabriel Machado.

Para o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, também foi o “discurso de Paulo Guedes que fez o Ibovespa registrar forte alta na sexta-feira e salvar a semana”.

A discussão em torno da reforma tributária vem ganhando destaque e ontem à noite, em evento da XP Investimentos, Guedes afirmou que vai entregar pessoalmente ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a primeira parte da proposta do governo na próxima terça-feira (21). O ministro confirmou que haverá tributação sobre dividendos, mas a questão ficará para outra parte da proposta. Já sobre o imposto sobre transações no comércio eletrônico disse que ele ainda está em estudo, reiterando que é melhor não começar por onde pode ocorrer rejeição no Congresso.

Segundo o analista da Necton Corretora, Gabriel Machado, o ministro também fez indicações positivas em relação a privatizações e há notícias de que estaria conversando com senadores para tentar viabilizar a venda da Eletrobras (ELET3 14,03%; ELET6 11,81%), o que faz os papéis da companhia ficarem entre as maiores altas do Ibovespa hoje.

Ao lado das ações da Eletrobras ficaram as da Cielo (CIEL3 9,12%) e os da Marfrig (MRFG3 8,92%), que continuaram subindo na esteira do otimismo de ontem, quando o Credit Suisse reiterou a recomendação de compra para o papel ao projetar um resultado trimestral bastante positivo para o frigorífico.

Na contramão, fecharam em queda apenas as ações da CVC (CVCB3 -1,62%), Azul (AZUL4 -0,99%), Gol (GOLL4 -1,09%), MRV (MRVE3 -0,09%) e as preferenciais da Petrobras (PETR4 -0,08%).

No exterior, as Bolsas norte-americanas operaram sem uma direção definida e o avanço de casos de covid-19 ainda preocupa. Os casos diários nos Estados Unidos subiram em 77,3 mil e bateram novo recorde nas últimas 24 horas, com novos saltos em estados como Flórida e Texas.

Na agenda de segunda-feira, investidores devem ficar atentos a sinalizações que podem ser dadas pela decisão de política monetária do Banco do Povo da China (Pboc, o banco central do país). Além disso, a evolução da pandemia continuará no radar. O analista da Mirae lembra ainda que será importante ficar atento a entrega da proposta da reforma tributária na terça-feira pelo Guedes ao Senado e a sua receptividade no Congresso.

Para Machado, apesar da volatilidade ainda existente, o Ibovespa pode tentar se manter em patamares mais elevados no curto prazo em função do forte fluxo de entrada de investidores, como de pessoas físicas, e caso não ocorra uma piora do cenário em relação à pandemia. “Há uma junção de vários fatores que não deixa o Ibovespa cair mais, acredito que só cairá mais se tiver segunda onda mais forte e fechar tudo de novo”, disse.

O dólar comercial fechou em alta de 1,05% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3850 para venda, em mais uma sessão de volatilidade, influenciado pelo movimento de cautela no mercado doméstico e acompanhando o cenário das moedas de países emergentes em dia de agenda de indicadores esvaziada.

“O dólar subiu em um movimento predominantemente técnico, novamente deixando evidente que os níveis próximos dos R$ 5,31 representam um ‘piso psicológico’ para a moeda”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, sobre as mínimas da sessão o que atraiu a compra da divisa por parte de importadores e tesourarias de banco.

Na semana, marcada por volatilidade e notícias sobre o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus e o número crescente de contaminação por covid-19 nos Estados Unidos, a moeda se valorizou 1,16%. Para a equipe econômica do Bradesco, o cenário para segundo semestre ainda reserva incertezas, principalmente, relacionadas à evolução da pandemia e às tensões entre norte-americanos e chineses, que continuam anunciando sanções.

“Por ora, os riscos de uma segunda onda de contágio estão concentrados em algumas regiões dos Estados Unidos, sendo que algumas já voltaram a intensificar as restrições de circulação de pessoas. Não acreditamos em fechamentos amplos como observado na primeira onda, mas o aumento de restrições, mesmo de forma localizada, pode reduzir o ritmo de retomada [econômica] nos meses à frente”, avaliam os analistas do banco.

Na semana que vem, com a agenda de indicadores mais esvaziada, o noticiário em torno do novo coronavírus, tanto sobre o número de casos quanto sobre vacinas, e das tensões comerciais entre Estados Unidos e China devem precificar os ativos. Sobre os indicadores, o analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi, acrescenta que ainda será destaque a continuidade da divulgação de números de atividades do mês de junho.

“Temos que ficar de olho na evolução de contaminação da covid-19 nos Estados Unidos e notícias sobre o desenvolvimento da vacina. Outro fator a ser acompanhado são as ameaças do presidente norte-americano [Donald Trump] em lançar sanções contra o país asiático. Seguimos em um período de grandes incertezas, o que tende a gerar volatilidade no mercado cambial”, destaca.