Bolsa sobe com recuperação do mercado externo; dólar cai

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta pelo terceiro pregão seguido, com ganhos de 3,67%%, aos 77.709,66 pontos, refletindo mais um dia de recuperação no exterior com investidores vendo a possibilidade de novas medidas de estímulos depois de dados negativos de seguro-desemprego nos Estados Unidos. Investidores também esperam a aprovação do pacote trilionário de ajuda à economia, que deve ser votado amanhã pelos deputados norte-americanos.

Uma sequência de três altas consecutivas não era vista desde o início de fevereiro (3 a 5 de fevereiro). O volume total negociado hoje foi de R$ 30,4 bilhões.

“Os dados muito negativos dos pedidos de seguro desemprego levaram o mercado a especular que o Fed deve anunciar mais estímulos, já que a autoridade já disse que ainda tem ferramentas para ajudar a economia. Aumentaram as apostas e pressão para isso”, disse o analista da Criteria Investimentos, Vitor Miziara. O número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos subiu em 3 milhões na semana encerrada em 21 de março, o dobro da previsão de 1,5 milhão de analistas.

Mais cedo, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o Fed pode fornecer mais empréstimos se necessário, dando apoio a empresas, diante da possibilidade de a economia já estar em recessão. “Quando se trata desse empréstimo, não vamos ficar sem munição. Isso não acontece”, disse.

Ainda nos Estados Unidos, ontem, o Senado aprovou por unanimidade um pacote de estímulos de US$ 2 trilhões para conter os impactos da pandemia do novo coronavírus. O projeto, agora, será analisado pela Câmara dos Deputados amanhã. Já o presidente norte-americano, Donald Trump, disse em carta a governadores que se prepara para emitir diretrizes para que autoridades estaduais e municipais relaxem ou aumentem medidas de distanciamento social em meio à pandemia.

No entanto, os mercados ainda mostram alguma volatilidade e o índice chegou a reduzir ganhos com a virada para queda das ações da Petrobras, que acompanhou maiores perdas dos preços do petróleo. No fim do dia, porém, as ações voltaram a subir (PETR3 0,06%; PETR4 0,48%).

As maiores altas do Ibovespa foram das ações da CVC (CVCB3 33,15%), da Braskem (BRKM5 28,49%) e da Yduqs (YDUQ3 20,64%), que se recuperaram de perdas recentes. Na contramão, as maiores quedas foram da B2W (BTOW3 -6,66%), da Embraer (EMBR3 -3,97%) e da Suzano (SUZB3 -4,42%).

Na cena doméstica, o ambiente político também é monitorado, com o Congresso sugerindo que o governo tome novas medidas para combater efeitos da pandemia. Para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, não é hora de se preocupar com impacto fiscal e afirmou que se discute um aumento no valor de ajuda para trabalhadores para R$ 500,00. “Aqui acredito que estamos atrasados nas medidas e tem que ter uma melhor coordenação”, avaliou o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

Apesar do foco continuar em torno do noticiário sobre o coronavírus, investidores devem acompanhar dados de renda e gastos pessoais e o índice de confiança do consumidor que serão divulgados nos Estados Unidos amanhã.

O dólar comercial fechou em queda de 0,67% no mercado à vista, cotado a R$ 5,0000 para venda, no terceiro recuo seguido, dando continuidade ao cenário de alívio vindo do exterior com investidores digerindo as ações de Bancos Centrais e medidas anunciadas por autoridades ao redor do globo para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. É a primeira vez no ano que a moeda estrangeira engata três quedas seguidas. A última sequência foi em dezembro do ano passado, enquanto fechou acima de R$ 5,00 pela nona vez seguida.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, destaca que a sessão foi de baixa liquidez no mercado cambial, além de acompanhar o desempenho da moeda no exterior, no qual perdeu terreno frente às moedas pares e de países emergentes.

“Em meio à expectativa dos investidores pela confirmação do pacote fiscal e também dos detalhes sobre o acordo firmado entre Congresso e o governo norte-americano para a aprovação de medidas que podem alcançar US$ 2,0 trilhões para amenizar os impactos da pandemia de coronavírus”, comenta.

Lá fora, o número de pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos assustou com o “salto” na procura em uma semana. Segundo o Departamento de Trabalho do país, até o dia 21, foram registrados 3,2 milhões de pedidos, sendo mais três milhões apenas na semana passada.

Mesmo ficando além das projeções do mercado, de 1,5 milhão de pedidos, o gestor de investimentos, Paulo Petrassi, avalia que o mercado já esperava pela piora nos números. “Não tem como não ter desaceleração econômica”, diz. A equipe econômica da Capital Economics estima que 14 milhões de empregos podem ser “perdidos” nos próximos meses nos Estados Unidos.

“Claro que a pandemia terá um impacto sísmico no mercado de trabalho. Muitos desses danos desaparecerão rapidamente quando o vírus for controlado, mas é provável que a taxa de desemprego permaneça elevada por um período prolongado”, acrescentam os analistas.

Amanhã, o destaque da agenda de indicadores é o dado sobre renda e gastos em fevereiro, nos Estados Unidos. Para o consultor de câmbio da Advanced, Alessandro Faganello, os números podem trazer indícios sobre os efeitos do coronavírus, mas o mercado deverá precificar o fluxo de notícias sobre a doença ao redor do globo. Além de não descartar o viés de cautela à véspera do fim de semana e até viés de correção após três quedas seguidas da moeda.