Bolsa sobe com influência externa e dólar avança com risco fiscal

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Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo – Após cair na maior parte do pregão com preocupações sobre as cenas política e fiscal domésticas, o Ibovespa virou durante à tarde e fechou em alta de 0,92%, aos 95.478,52 pontos. O índice passou a acompanhar o movimento de Bolsas no exterior, além de ser puxado pelas ações da Petrobras e de bancos. O volume total negociado foi de R$ 25,4 bilhões.

No cenário externo, as Bolsas norte-americanas avançaram vendo evoluções nas negociações entre democratas e republicanos sobre o novo pacote de estímulo fiscal em relação à semana passada, e após indicadores positivos. No entanto, no final do dia, a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, disse que ainda não há um consenso.

Já entre as ações, as da Petrobras (PETR3 1,51%; PETR4 1,98%), que têm grande peso no índice, passaram a subir com mais mais força com investidores acompanhado o julgamento de uma ação, no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona a venda de subsidiárias da Petrobras sem aval do Congresso Nacional. Há pouco, ministros decidiram que a venda está liberada, independendo de autorização legislativa.

Os papéis de bancos, outros com grande peso no Ibovespa, como as do Bradesco (BBDC4 0,30%), também passaram a mostrar melhor desempenho ao longo do pregão, atraindo compras depois de caírem pela manhã.

Já as maiores altas do índice foram do IRB Brasil (IRBR3 8,67%), da Cogna (CONG3 5,56%) e da Multiplan (MULT3 5,81%). Na contramão, as maiores quedas foram da Natura (NTCO3 -5,14%), da Qualicorp (QUAL3 -2,76%) e da CVC (CVCB3 -2,54%). A Natura anunciou que fará uma oferta pública global de 121.400 ações ordinárias, que pode alcançar R$ 6,207 bilhões. Diante da oferta, decidiu parar de divulgar projeções financeiras, para alinhar sua política de divulgação. Já a CVC informou que teve um prejuízo líquido de R$ 1,151 bilhão no primeiro trimestre do ano.

“Não há nenhuma grande novidade que tenha justificado essa virada do Ibovespa, mas o índice deve continuar em torno dos 94 e 95 mil, é um novo nível de consolidação. Enquanto não houver uma definição sobre o Renda Cidadã e a questão fiscal, o índice pode ficar andando ‘de lado'”, disse o head de produtos da Speed Invest, Carlos Eduardo Pinheiro Corrêa.

A decisão de bancar o programa Renda Cidadã, que irá substituir o Bolsa Família, com parte de recursos de precatórios e do Fundeb foi visto como uma manobra fiscal e muito criticada pelo mercado, que já se preocupava com o aumento dos gastos públicos. Com isso, há rumores de que o governo pode voltar atrás e não usar mais recursos de precatório.

No entanto, além das incertezas sobre o custeio do programa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a trocar farpas com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o que traz receio de estagnação da agenda de reformas e privatizações.

Amanhã, investidores devem continuar atentos às questões fiscais no Brasil e nos Estados Unidos, além de acompanhar uma agenda de indicadores relevante, com destaque para a produção industrial brasileira e para os dados de emprego norte-americanos, conhecidos como payroll.

O dólar comercial fechou em alta de 0,62% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6530 para venda, renovando a máxima de fechamento desde 20 de maio – de R$ 5,6840 – em mais uma sessão de volatilidade e amplitude da moeda em meio ao movimento de cautela do mercado doméstico diante o receio com o cenário fiscal do país, enquanto o primeiro pregão de outubro foi mais positivo para as moedas de países emergentes.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, reforça o movimento descolando do exterior diante das “mazelas internas”, em meio ao impasse sobre as fontes de financiamento do programa Renda Cidadã.

“E também com sinais de desgastes do ministro da Economia, Paulo Guedes. À tarde, a moeda continuou com o viés de alta, mas com poucas oscilações, ainda descolada do exterior. Perto do encerramento, o dólar acelerou os ganhos com investidores cautelosos com o nosso ambiente político e fiscal”, avalia.

Os analistas da XP Investimentos reforçam que as preocupações fiscais e políticas que se intensificaram ao longo do mês passado levaram o real a ficar no posto de moeda mais desvalorizada do mundo no ano, acumulando perdas acima de 40%.

“As preocupações sobre a trajetória fiscal voltaram ao foco, uma vez que o aumento substancial de gastos durante a pandemia [do novo coronavírus] com os pacotes de estímulos aumentou a dívida bruta do país, que chegará próximo à 100% ao final desse ano. Além disso, as discussões sobre a renovação do programa de auxílio emergencial e como custeá-lo levaram a uma forte correção dos ativos locais”, explicam os analistas.

O diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, endossa que o cenário fiscal tem “incomodado” o dólar no mercado local e deverá fazer preço ao longo do trimestre, o último do ano. Além deste assunto seguir no radar dos investidores, amanhã, o destaque na agenda de indicadores é o relatório do mercado de trabalho nos Estados Unidos, o payroll, com números de setembro.

“Esse payroll é especialmente mais importante porque é o último antes das eleições norte-americanas. Os números serão acompanhados de perto e deverão ser usados pelos candidatos, seja pelo presidente [Donald] Trump, seja pelo Joe Biden. Além de trazer um pouco a leitura de como está a recuperação econômica lá”, comenta.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, recompondo parte dos prêmios retirados ontem, em meio ao desconforto dos investidores com a questão fiscal no Brasil.

As dúvidas sobre as formas de financiar o Renda Cidadã, novo programa social do governo, manteve a curva a termo pressionada, relegando o cenário externo favorável ao risco. A oferta de títulos públicos, no tradicional leilão do dia, também influenciou os negócios.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,12%, de 3,05% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,61%, de 4,51% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,53%, de 6,50%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,50%, de 7,48%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, mas reduziram os ganhos depois que a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, disse que os democratas e a Casa Branca ainda estavam distantes do consenso para um acordo sobre um pacote de estímulos bipartidário.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento: 

Dow Jones: +0,13%, 27.816,90 pontos

Nasdaq Composto: +1,42%, 11.326,50 pontos

S&P 500: +0,52%, 3.380,80 pontos