Bolsa se recupera no final e fecha estável; dólar sobe

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São Paulo – Após chegar a cair mais de 1% perto da abertura, o Ibovespa mostrou uma melhora ao longo do dia e fechou praticamente estável, com queda de apenas 0,01%, aos 96.999,38 pontos. O índice foi puxado pela alta de ações como as da Vale e Suzano, além de acompanhar o movimento das Bolsas norte-americanas. O volume total negociado foi de R$ 19,3 bilhões, considerado mais baixo dos que os dos últimos pregões por analistas, com a ausência de grandes novidades.

Por outro lado, persiste um sentimento de cautela entre os investidores, com Bolsas mostrando volatilidade nos últimos dias diante do aumento de casos de coronavírus na Europa e da demora para a aprovação de um novo pacote de estímulos econômicos nos Estados Unidos, além do receio em relação à insistência do governo Bolsonaro de criar um novo imposto nos moldes da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Dessa forma, o Ibovespa caiu 1,31% na semana, a quarta seguida de perdas.

“Há uma aversão ao risco lá fora ainda, países como França e Reino Unido vem batendo novos recordes de contaminações por covid-19, o que traz medo de novos lockdowns. Essa semana vários membros do Fed e o próprio Powell [Jerome, presidente do Fed] também bateram a tecla na necessidade de o governo continuar com estímulo fiscal”, disse o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

O primeiro-ministro da França, Jean Castex, advertiu ontem que o governo poderia ser forçado a recolocar algumas áreas em confinamento, enquanto países como Reino Unido e Espanha já implementaram o retorno de medidas restritivas. Com isso, a maioria das Bolsas europeias fechou em queda.

Já as Bolsas dos Estados Unidos fecharam com altas expressivas após mostrarem volatilidade, com recuperação de ações do setor de tecnologia, embora algumas preocupações permaneçam no horizonte. Democratas e republicanos voltaram a negociar a um pacote de ajuda que pode chegar a US$ 2,2 trilhões, apesar das dificuldades de se chegar a um acordo com a proximidade das eleições presidenciais no país.

Entre as ações, as da Vale (VALE3 1,09%) e da Ambev (ABEV3 1,34%), que têm grande peso no índice, ganharam força ao longo do pregão, além de papéis como os da Suzano (SUZB3 4,65%), que registraram a maior alta do Ibovespa. A Suzano teve o seu preço-alvo elevado e a recomendação de compra reiterada pelo Credit Suisse, que vê melhora da demanda e preços de papel e celulose.

Ao lado da Suzano, entre as maiores altas, ficaram as ações da Via Varejo (VVAR3 4,16%) e da Cogna (COGN3 1,63%). Na contramão, as maiores perdas do índice são da Petro Rio (PRIO3 -2,71%), da Cemig (CMIG4 -2,31%) e da Multiplan (MULT3 -2,89%).

Na cena doméstica, discute-se a reforma tributária e a criação de um imposto similar à CPMF, defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O governo articula com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para a ideia emplacar, mas analistas veem resistência de parlamentares e dificuldades de avanços de reformas em ano eleitoral. “A cena doméstica tem uma aversão adicional por conta do quadro fiscal, o governo está tendendo a fazer um ajuste não por corte de gastos, mas a criação de um imposto, o que atrapalha mais ainda”, afirmou Bandeira.

Na semana que vem, a previsão é que a reforma tributária e os casos de covid-19 continuem a ser monitorados pelo mercado, assim como negociações em torno do pacote norte-americano. Na segunda-feira, a comissão mista sobre a covid-19 ouve o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues.

Entre os indicadores ao longo da semana, os destaques são a taxa de desemprego no Brasil e dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos, que podem dar mais detalhes sobre o ritmo da recuperação econômica.

O dólar comercial fechou em alta de 0,79% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5560 para venda, em sessão de aversão ao risco com investidores atentos ao aumento de casos do novo coronavírus na Europa, o que leva países a adotarem novas medidas restritivas para conter o avanço da covid-19, elevando as incertezas quanto a recuperação econômica. Na semana, o assunto ganhou impulso e com isso, a moeda se valorizou em 3,37% e engatou a terceira alta semanal.

O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, destaca que foi mais uma sessão de dólar fortalecido globalmente. “Lá fora, a tendência de imposição de novas medidas de isolamento por países novamente afetados pela covid-19 e os entraves na aprovação de medidas de estímulos pelos Estados Unidos injetam novas incertezas nos mercados”, comenta.

Ele acrescenta que, mesmo com a “virada” das bolsas de Nova York para o positivo, impulsionadas pela recuperação do setor de tecnologia no Nasdaq, o mercado cambial continuou “pesado”.

Na próxima semana, a agenda de indicadores traz os números da produção industrial em setembro na China e na Europa, além dos dados de atividade, do mercado de trabalho e a terceira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no segundo trimestre. No fim da semana, tem feriado na China.

“A agenda concentrará indicadores de atividade que devem reforçar a acomodação de serviços, com a indústria em expansão”, comenta a equipe econômica do Bradesco. Já o analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi, acrescenta que é preciso “ficar de olho” no avanço da covid-19 no mundo, já que mostra ser um fator de grande preocupação para a retomada da economia mundial.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão com leves oscilações, após passarem o dia em um intervalo estreito, alternando altas e baixas, sem um rumo definido e com poucas movimentações. Os investidores mostraram-se divididos entre o avanço do dólar e a mensagem deixada pelo Banco Central nas publicações desta semana, de Selic estável nos próximos meses. A questão fiscal também ficou no radar.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,85%, de 2,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,23%, de 4,25% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,22%, de 6,21%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,21%, de 7,19%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em alta liderados pelos ganhos no setor de tecnologia, que vem tentando recuperar as perdas das últimas semanas.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,34%, 27.173,96 pontos

Nasdaq Composto: +2,26%, 10.913,56 pontos

S&P 500: +1,59%, 3.298,46 pontos