Bolsa se recupera e sobe em dia volátil; dólar fica estável

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Foto: Myles Davidson / freeimages.com

São Paulo – Em um pregão marcado por fortes oscilações, o Ibovespa fechou em alta de 1,27%, aos 96.582,16 pontos, seguindo o tom mais positivo de Bolsas norte-americanas e a melhora de papéis como os da Petrobras e da Vale, que mostraram bons resultados no terceiro trimestre. Pela manhã, o índice chegou a cair mais de 2% na mínima do dia (93.386,55 pontos), já a máxima foi de 96.688,25 pontos.

O temor em relação à segunda onda da pandemia de coronavírus, os ruídos políticos na cena doméstica e a proximidade das eleições presidenciais norte-americanas, que fizeram Bolsas despencarem e o Ibovespa cair 4,25% ontem, seguem trazendo volatilidade para os mercados. O volume total negociado hoje foi de R$ 35,8 bilhões, uma elevação em relação ao que vinha sendo negociado nos últimos dias.

“O dia foi agitado para o Ibovespa. Foi aos 93 mil e aos 96,5 mil. pontos. A recuperação se dá por causa da Vale, superando recordes no balanço, e Nova York ajuda também com um pouco de respiro após as perdas recentes”, disse a analista da Toro Investimentos, Stefany Oliveira.

O analista da Necton Corretora, Gabriel Machado, também acredita que balanços, como os da Vale ajudaram na recuperação de hoje, que interrompeu quatro dias seguidos de queda do índice. Porém, não descarta mais volatilidade amanhã, último pregão de outubro, e na semana que vem.

“A alta de agora pode não se sustentar, a tendência é continuar volátil principalmente com feriado na próxima segunda-feira por aqui e eleições presidenciais nos Estados Unidos na terça-feira”, disse, lembrando que investidores podem buscar proteção amanhã.

Além das ações da Vale (VALE3 2,47%) as da Petrobras (PETR4 2,63%) também fecharam em alta em meio a dados trimestrais mais fortes, com os papéis da estatal conseguindo se recuperar depois de fortes quedas de manhã seguindo a baixa dos preços do petróleo. Já havia uma expectativa positiva para alguns setores nesta temporada de balanços, mas alguns dados têm superado projeções.

Outros papéis que caíram recentemente também voltam a subir, caso da Cogna (COGN3 6,11%), da Fleury (FLRY3 4,57%) e da Via Varejo (VVAR3 3,77%), maiores altas do Ibovespa. Na contramão, as maiores quedas foram da Ambev (ABEV3 -4,18%), Carrefour (CRFB3 -3,04%) e da Natura (NTCO3 -2,37%).

No exterior, as Bolsas norte-americanas também engataram uma recuperação embalada por dados melhores do PIB do terceiro trimestre e de pedidos de seguro-desemprego, embora também mostrem volatilidade. Já na Europa, a maioria das Bolsas encerrou em queda novamente, com os anúncios de bloqueios na Alemanha e França para combater a segunda onda de coronavírus trazendo temores sobre a economia da região.

Na cena doméstica, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que está no momento de começar a reduzir os auxílios dados em função da pandemia, se a doença está indo embora, e disse que não haverá “irresponsabilidade fiscal”.  Mas também disse que caso ocorra uma segunda onda no Brasil, o governo agirá do mesmo modo decisivo.

Ainda seguem reverberando os ruídos depois de declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, de que o próprio governo estaria obstruindo a pauta e impedindo votações, além das críticas de Maia ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

O dólar comercial fechou estável no mercado à vista, cotado a R$ 5,7650 para venda, em pregão volátil com investidores calibrando o cenário externo, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgado ontem após a decisão de manter a taxa básica de juros (Selic) em 2,00% pela segunda reunião seguida, enquanto começa o movimento da tradicional disputa da formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) – de fim de mês.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, reforça que a moeda operou em alta por quase todo o pregão acompanhando o movimento externo, com o dólar fortalecido ao longo da sessão ante aos pares e divisas de países emergentes. Com isso, o Dollar Index operou no maior nível em um mês, acima dos 94,000 pontos.

“Investidores seguem receosos com o crescimento da disseminação da covid-19 nos Estados Unidos e na Europa, além das incertezas com a eleição presidencial norte-americana”, destaca. Na reta final dos negócios, a moeda passou a renovar mínimas abaixo de R$ 5,75 influenciada pela melhora nas bolsas de Nova York, no qual encerraram com mais de 1% de alta.

Hoje foi dia de investidores locais digerirem o comunicado do BC, visto como “dovish” (suave). A equipe econômica do banco Fator avalia que “boa parte do mercado” vê o Copom se arriscando demais com a aceleração da inflação e a alta do risco fiscal. “A manutenção do postigo para a nova queda da Selic ou compra de títulos mostra que o comitê não descarta cenário desinflacionário em alternativa a seu cenário base”, avalia.

Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque fica para os dados sobre renda e gastos pessoais dos Estados Unidos, em setembro, no qual o mercado esperava altas de 0,5% para a renda e de 1,0% para os gastos pessoais. A analista da Toro Investimentos, Stefany Oliveira, chama a atenção para um pregão de “alta moderada” após a formação de preço da Ptax.

“A primeira parte dos negócios ficará à mercê da disputa da Ptax. Após a formação de preço da taxa, o dólar deve ter alta não muito forte, apesar do viés de cautela que deverá prevalecer na sessão antes de eventos importantes na semana que vem e do feriado local [na segunda-feira]”, comenta Oliveira.

Na próxima semana, tem a eleição presidencial nos Estados Unidos, a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e a divulgação de indicadores de outubro.

No dia seguinte à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), as taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram com leves oscilações e sem rumo único, após passarem quase toda a sessão sem direção definida. Os investidores colocaram em xeque o tom ainda suave (“dovish”) do Copom no comunicado, digerindo o espaço deixado para um corte adicional na Selic, ainda que “pequeno”, e ponderando os riscos fiscais e inflacionários. O tradicional leilão do dia e o comportamento dólar também influenciaram os negócios da curva a termo.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,43%, de 3,51% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,97%, de 5,03% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,71%, de 6,70%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,50%, de 7,47%, na mesma comparação.

A pressão exercida pelo aumento de casos de covid-19 nos Estados Unidos e na Europa deu uma trégua hoje, permitindo que os principais índices de ações do mercado norte-americano terminassem o dia em alta. O motor dos ganhos foram dados positivos, que alimentaram esperanças de que a recuperação econômica segue em curso mesmo sem uma nova rodada de estímulos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,52%, 26.659,11 pontos

Nasdaq Composto: +1,64%, 11.185,59 pontos

S&P 500: +1,19%, 3.310,11 pontos