Bolsa renova recorde com balanços e possível acordo comercial entre EUA e China

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta de 0,76%, aos 108.187,06 pontos, – renovando o recorde histórico de fechamento que havia sido batido na última quarta-feira (107.543,59 pontos) – impulsionado pelos ganhos de ações de bancos, que subiram na expectativa de balanços trimestrais. O cenário externo mais otimista hoje, após sinais de avanços nas negociações comerciais entre China e Estados Unidos também ajudou o índice a operar no campo positivo.

Mais cedo, o Ibovespa ainda renovou seu recorde intradiário, atingindo a máxima de 108.392,72 pontos, superando a máxima de 108.083,26 pontos da última sexta-feira. O volume total negociado foi de R$ 15,2 bilhões.

“Estamos acompanhando o cenário internacional, com notícias sobre avanços entre Estados Unidos e China. Os bancos também estão performando bem com expectativas sobre balanços”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila.

As ações de bancos, que têm grande peso no Ibovespa, tiveram um dia positivo à espera de resultados trimestrais. Os papéis do Bradesco (BBDC3 2,97%; BBDC4 3,61%) ficaram entre as maiores altas do índice e foram os mais negociados da B3, sendo que o banco divulgará seus dados na quinta-feira (31). A XP Investimentos, por exemplo, acredita que o Bradesco deve mostrar um bom trimestre, com crescimento em função da maior participação de indivíduos e pequenas e médias empresas na carteira de crédito, fortes resultados da sua seguradora e melhora na qualidade do ativo.

Já as ações do Itaú Unibanco (ITUB4 1,35%) atingiram sua máxima histórica na expectativa dos resultados que serão conhecidos na próxima segunda-feira (4). Analistas também têm citado que investidores estrangeiros podem voltar aos poucos à bolsa brasileira, o que costuma ser feito por meio de ações mais líquidas como as de bancos.

Ainda entre as maiores altas ficaram as ações da Energias do Brasil (ENBR3 2,60%) e da Gol (GOLL4 2,66%), que se beneficia da queda do dólar e divulgará seu balanço também na quinta-feira. Na contramão, as maiores quedas do índice foram da BRF (BRFS3 -2,76%), da Natura (NATU3 -2,28%) e da Marfrig (MRFG3 -2,11%).

Já no cenário externo, as bolsas norte-americanas fecharam em alta, sendo o que o índice S&P 500 também bateu seu recorde histórico. Há sinais de avanços nas negociações comerciais com a China, já que a administração do presidente norte-americano Donald Trump afirmou, na sexta-feira, que está perto de finalizar partes do acordo comercial. Além disso, as empresas Walgreens Boots Alliance, AT&T e Spotify divulgaram hoje resultados financeiros trimestrais melhores do que o esperado.

A melhora no exterior e expectativa por balanços acabou ofuscando preocupações com o mercado argentino, depois que a chapa Frente de Todos, composta por Alberto Fernández e pela ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, derrotou a do atual presidente do país, Mauricio Macri, nas eleições presidenciais ocorridas neste domingo. A vitória de Fernández, no entanto, já era esperada.

Ao longo da semana, porém, estão previstos vários eventos e indicadores, como as reuniões do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, que devem anunciar quedas de juros, mas podem trazer alguma cautela. O sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara, acredita que “a agenda local pode manter o otimismo”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,42% no mercado à vista, cotado a R$ 3,9930 para venda, abaixo de R$ 4,00 pela primeira desde 15 de agosto, quando a moeda encerrou em R$ 3,9900. Desde então, a moeda norte-americana engatou uma sequência de altas e se manteve acima de R$ 4,00 até o pregão anterior, na sexta-feira. A continuidade do bom humor local somado ao exterior com “ventos de alívio” vindos da guerra comercial e da Europa ajudaram na desvalorização da moeda.

“Três fatores sustentaram o movimento de apreciação do real”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes. O mercado abriu reagindo à confirmação de que a União Europeia aceitou a prorrogação do prazo para a saída do Reino Unido do bloco econômico. Previsto para esta semana, agora, os britânicos têm até 31 de janeiro para finalizarem o acordo de saída, o Brexit. Foi o terceiro adiamento do prazo para o fim da “novela”.

O segundo, ele cita, foram as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que assinar um acordo pode ser assinado durante a reunião de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em meados de novembro no Chile. “Manteve o entusiasmo dos investidores”, acrescenta.

Por último, Gomes reforça as expectativas em torno de novos ingressos de recursos no País com a proximidade do leilão de petróleo da cessão onerosa do pré-sal, no dia 6. “O que completou o quadro positivo em dia de giro financeiro reduzido e cautela no mercado em uma semana recheada de indicadores e eventos importantes”, reforça.

O comportamento da moeda, porém, ignorou a eleição da chapa peronista na Argentina. Ontem, o candidato Alberto Fernández, que tem como vice a ex-presidente, Cristina Kirchner”, venceu em primeiro turno o atual presidente argentino, Mauricio Macri. Depois de o presidente Jair Bolsonaro “lamentar” a escolha de Fernández nas urnas, analistas se mostram preocupados com o futuro do Mercosul.

“É preciso uma convergência na união aduaneira e o presidente Bolsonaro já avisou que não negociaria com eles. Pode ser um grande problema até para o acordo do bloco com a União Europeia”, avalia a economista Margarida Gutierrez. O analista da Toro Investimentos, Pedro Nieman, acrescenta que a eleição no país vizinho acende “uma luz amarela” para o futuro dos países emergentes.

Amanhã, o analista destaca que o mercado deverá ter reação parecida com o pregão de hoje, à espera de uma quarta-feira “pesada” com as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americana) e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro. “Poderemos ver também um viés de cautela à espera do comunicado do Fed”, diz.