Bolsa recua e dólar sobe com aversão ao risco por coronavírus

620

São Paulo – O Ibovespa fechou em queda acentuada na esteira do sentimento generalizado de aversão ao risco nos mercados financeiros internacionais, mas distante das mínimas registradas no início do pregão. O principal índice do mercado brasileiro de ações chegou a regressar à faixa dos 114 mil pontos, voltando a ficar temporariamente negativo no acumulado de 2020, mas logo recuperou-se dessas perdas, flertando inclusive com a faixa dos 117 mil pontos antes de perder fôlego e fechar em queda de 1,86%, aos 115.822,57 pontos.

Os mercados financeiros internacionais reagiram em bloco à descoberta de uma nova cepa de coronavírus e à proibição, por diversos países, de viagens oriundas do Reino Unido. No Brasil, a média móvel de casos de covid-19 vem batendo recordes.

“Acredito que ainda seja muito cedo para fazermos afirmações mais concretas em relação a essa descoberta em relação ao vírus, mas o impacto econômico de curto prazo está dado e será negativo”, avaliou Dan Kawa, sócio-diretor da TAG Investimentos.

Isto ocorre em um momento no qual o fluxo de notícias e indicadores diminui acentuadamente com a proximidade das festas de fim de ano. “Temos que ficar de olho no fluxo de investidores estrangeiros”, que segue em recuperação desde novembro, observou a equipe da Mirae Asset. Já a Necton Corretora chama a atenção para o aumento das projeções para a inflação.

O dólar comercial fechou em alta de 0,76% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1230 para venda, em sessão de forte volatilidade e estresse na abertura dos negócios, com o mercado reagindo negativamente à notícia de que uma nova variante do novo coronavírus se espalha rapidamente pelo Reino Unido, o que levou o governo britânico a decretar novas medidas de isolamento social. Ao longo do dia, porém, notícias sobre as mutações do vírus e vacinação na Europa levaram a moeda estrangeira a perder força.

“As notícias sobre a mutação do coronavírus, lockdown no Reino Unido, começo do inverno no hemisfério Norte e mais restrições em diversos países assustaram os mercados, principalmente, às vésperas do fim do ano, com as usuais festas de confraternizações”, comenta a equipe econômica do banco Fator, acrescentando que, nem o anúncio de acordo nos Estados Unidos sobre um pacote de estímulo fiscal de pouco menos de US$ 1,0 trilhão foi “capaz de manter os ânimos”.

Após o dólar operar nas máximas acima de R$ 5,22 na primeira parte dos negócios, o dólar perdeu força ao longo da sessão, como ressalta o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek. “À tarde, com vendas de exportadores e melhora de algumas moedas [de países] emergentes em meio às notícias menos pessimistas quanto ao surgimento de uma onda mais contagiosa do covid-19 no Reino Unido, a divisa desacelerou os ganhos”, reforça.

No início da tarde, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) autorizou o uso da vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pela Pfizer e da BioNTech para uso condicional, liberando a União Europeia (UE) a iniciar o processo de imunização nos próximos dias, já autorizada pela Comissão Europeia.

Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, os destaques ficam para a prévia da inflação doméstica neste mês – no qual o mercado estima alta de 1,15%, segundo levantamento da Agência CMA – e para a terceira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no terceiro trimestre.

Para o economista da Nova Futuro Investimentos, Matheus Jaconeli, a movimentação do mercado deve continuar em torno das notícias do novo coronavírus, vacinas e mutações. “Investidores podem continuar digerindo novas notícias sobre a covid-19 com possibilidade de os agentes alocarem em ativos de risco, o que pode tirar a pressão do dólar”, aposta

As taxas dos contratos de juros futuros encerraram a sessão perto da estabilidade, com ligeiro viés de alta. Ao longo do dia os contratos chegaram a apresentar forte avanço, acompanhando a valorização do dólar comercial diante do aumento da aversão ao risco no mundo devido ao crescimento dos casos de covid-19 nos Estados Unidos e na Europa, principalmente no Reino Unido.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 2,97%, de 2,965% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,42%, de 4,405%; o DI para janeiro de 2025 estava em 5,92%, de 5,91%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,72%, de 6,70%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram a primeira sessão da semana sem uma direção comum em meio aos temores de uma nova variante de coronavírus e ao acordo que levará a uma rodada extra de estímulos de US$ 900 bilhões nos Estados Unidos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,12%, 30.219,45 pontos

Nasdaq Composto: -0,10%, 12.742,52 pontos

S&P 500: -0,39%, 3.694,92 pontos