Bolsa recua, dólar e juros sobem com demora do governo em cortar gastos

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São Paulo – No primeiro pregão de novembro, a Bolsa fechou em queda forte com o aumento da tensão sobre o fiscal em razão da demora do governo em revelar as medidas de corte de gastos.

O recuo forte das ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) também contribui para o pessimismo. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 1,36%. O Indice Small Caps tomba 2,14%.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 1,94% e 1,36%, oposto ao movimento do petróleo. “A Petrobras teve uma piora na sessão de hoje, apesar do petróleo em alta, com o investidor preocupado com notícia de que a companhia está pressionando o conselho da Petros para aceitar o nome do Francisco Ferreira Alexandre para o cargo de diretor de investimentos do fundo de pensão. Ele diretor já foi da Previ e é réu em um processo judicial em relação à gestão”.

A partir de segunda-feira (4), a Bolsa de valores brasileira fecha mais tarde com o fim do horário em Nova York. O Ibovespa passa a encerrar às 17h55 e não mais às 16h55.

O principal índice da B3 caiu 1,22%, aos 128.120,75 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro recuou 1,27%, aos 129.480 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no positivo.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o aumento do mau humor “pode ter relação com alguns bancos declarando que o governo acabou gerando expectativa com esse pacote e está demorando para revelar algum tipo de corte de gastos. Além disso, com o final da semana todo mundo prefere não ficar tão posicionado em função das incertezas para a próxima semana”.

Bruno Komura, analista da Potenza Capital, disse que a percepção do mercado de que o corte de gastos não venha tão cedo estressa o mercado.

“Os discursos da Tebet [Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento] durante a semana foram horrorosos dizendo que o impacto fiscal fica 2026, o que mostra descaso do governo. O Haddad viaja pra Europa e sinaliza que vai postergar para daqui a duas semanas as medidas. O tema que é caro para o mercado, não é prioridade para o governo. Parece que não tem censo de urgência e o mercado está estressando cada vez mais. Os juros estão abrindo bastante, principalmente as pontas mais longas, e os nomes mais alavancados, sensíveis a juros, puxam o Ibovespa e Indice Small caps. A queda da Petrobras reflete a questão macro, e só não está caindo mais porque o petróleo está ajudando [sobe]”.

Matheus Spiess, analistas da Empiricus Research, disse que “o payroll veio muito poluído, e acredita que vai ser revisado posteriormente, como visto nos dados recentes. O ciclo de corte de juros [nos EUA] é tranquilo até o final do ano-redução de 0,25pp na próxima quinta-feira (7) e 0,25pp em dezembro. Mas temos de interpretar a formação de emprego em novembro, vai ter reflexo da eleição, formação de expectativa dos empresários, mas um ciclo de corte é contrato. Já no Brasil tem toada própria, o mês começa ruim. Acredito que novembro pode ser mês da virada, mas depende do governo. O mercado se ancorou totalmente na questão fiscal. Existe incerteza qual o caminho o governo vai tomar, não vejo outra alternativa em cortar gastos de maneira estrutural, mas enquanto o mercado não ver a materialização, o mercado vai truncar, curva de juros e câmbio estourando. As cíclicas domésticas apanham e o desempenho de Vale esconde o mau humor do Ibovespa” . Spiess ressaltou que a materialização das medidas de corte de gastos vai demorar. “O ministro Haddad [ministro da Fazenda, Fernando Haddad] vai viajar semana que vem. A ideia de Brasília é que se não fosse apresentado no final da semana que vem, só seria apresentado depois do relatório bimestral de receitas e despesas, no dia 22.É no final do mês e isso é péssimo”.

No mercado de câmbio, o dólar comercial terminou a sessão em alta de 1,52%, cotado a R$ 5,8697 com a acentuação do estresse em relação ao fiscal doméstico, e com as eleições americanas na semana que vem (5) no radar. A divisa oscilou entre a mínima de R$ 5,7625 e máxima de R$ 5,8738. Na semana, a moeda estrangeira subiu 2,88%.

O sócio da Pronto! Invest Vane Nagem acredita que o driver de hoje é basicamente fiscal, até mais do que os fatores externos, e que os juros deveriam aumentar o fluxo para o Brasil.

Por mais que no curtíssimo prazo a moeda possa se valorizar ainda mais, Nagem que patamar não tem sustentação para durar muito tempo.

Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana, pontua que o payroll “extremamente baixo” precifica uma recessão nos Estados Unidos, e corte de juros mais intensos naquele país, o que diminuiria o diferencial de juros praticados no Brasil.

Mais cedo, o payroll, nos Estados Unidos, que apontou a criação de 12 mil vagas em outubro – as expectativas eram de 100 mil.

Para o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, o fraco desempenho surpreendeu, mas as intempéries climáticas nos Estados Unidos podem ter afetado o resultado: “Isso enfraquece o dólar”.

Serrano, contudo, acredita que o resultado do próximo payroll, referente a novembro, pode ser robusto, e que a performance fraca de outubro não deve alterar o ritmo do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que deve cortar 0,25 ponto percentual (pp) na reunião da próxima semana.

Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta, com a abertura forte dos vértices mais longos, puxadas pelo aumento do estresse com o descontrole fiscal.

Por volta das 16h26 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,326% de 11,290% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,060%, de 12,825%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,250%, de 12,995%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,275% de 13,005% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, iniciando novembro em alta, com a Amazon liderando os grandes estoques de tecnologia no verde, e os traders ignorando o payroll mais fraco que o esperado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,69%, 42.052,19 pontos
Nasdaq 100: +0,80%, 18.239,9 pontos
S&P 500: +0,40%, 5.728,80 pontos

 

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safra News