Bolsa recua 0,20% em dia de aumento de preços de combustíveis; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em leve queda em um dia em que a Petrobras reajustou os combustíveis e foi aprovado o projeto para conter a alta dos combustíveis no Senado. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) tiveram forte valorização de 2,79% e 3,50%. O Ibovespa chegou a perder mais de 1,70 na primeira metade do pregão com a falta de acordo entre Rússia e Ucrânia para um cessar-fogo.
Na sessão de hoje, as ações que tiveram alta na véspera inverteram o movimento e caíram como bancos e setor de consumo. Em contrapartida, a Vale (VALE3) Bradespar e Gerdau (GGBR4) subiram respectivamente 3,30%, 2,10% 4,60%.
O principal índice da B3 caiu 0,20%, aos 113.663,13 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 0,37%, aos 114.370 pontos. O giro financeiro era de R$ 25 bilhões. Em Nova York, as bolsas registraram queda.
Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, afirmou que o aumento da anunciado pela Petrobras fecha bem o spread entre os preços praticados pela estatal em relação à paridade internacional. “Esse reajuste é visto com certa cautela, dado o possível efeito colateral na inflação e possíveis retaliações, com alguma canetada por parte do governo ou até greve dos caminhoneiros, o que traria mais volatilidade ao mercado”.
Um head de renda variável que não quis se identificar disse que “o medo do mercado era o congelamento de preços dos combustíveis, com a aprovação pelo Senado “ficou claro que não haverá interferência na Petrobras”.
Rodrigo Zauner, sócio da SVN Investimentos, afirmou que o mercado segue preocupado com a guerra entre Rússia e Ucrânia e o reflexo na atividade econômica aqui e no exterior. “Não acredito em que a inflação aqui no Brasil ficará nos dois dígitos este ano como em 2021 [10,06%], deve ser entre 6% e 6 e pouco, mas podemos ter surpresas positivas e negativas no meio do caminho”. O Boletim Focus está projetando inflação para 5,65% em 2022.
Segundo Fabricio Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, “o mercado foi derrubado pelo pré-market nos Estados Unidos com a falta de acordo entre Rússia e Ucrânia; no primeiro momento os dados de inflação assustaram e depois os investidores foram digerindo”.
Gonçalvez disse que índice parou em uma importante região dos 112.200 pontos, que é um suporte. “Acredito que a Bolsa feche no zero a zero se não perder até a tarde esse patamar, voltando aos 113 mil e 114 mil pontos”.
Uma fonte do mercado financeiro que não quis se identificar disse que o estresse na Bolsa é causado “pela inflação dos Estados Unidos que faz pressão nos juros pelo Fed e o aumento dos combustíveis aqui”. A Petrobras anunciou um aumento de 18,7% no preço da gasolina; 24,9% no diesel e 16% no gás liquefeito de petróleo (GLP) em meio à disparada nos preços do petróleo. Esses reajustes são repassados às distribuidoras e entrará em vigor a partir de amanhã.
A fonte também comentou que o alívio de ontem em relação ao conflito “parece que acabou e o mercado acha que a guerra deve seguir por mais tempo”.
O dólar comercial fechou em alta de 0,11%, cotado a R$ 5,0170. Após chegar a subir mais de 1,20%, a moeda norte-americana perdeu ainda mais força com a aprovação, no Senado Federal, da conta de estabilização de preços de combustíveis, assim como a valorização global das commodities.
De acordo com o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o movimento de hoje não é de aversão ao risco, mas sim de correção. Os estrangeiros olham para o Brasil como um mercado de commodities, e o real acaba sendo uma moeda beneficiada”.
Weigt não acredita que a alta dos combustíveis influencie no ciclo de aumento da Selic: “O mercado já precifica que, ao final do ciclo, a Selic chegue em 13,65%. É a maior taxa de juros real do mundo”.
“O Banco Central (BC) está exagerando, e vai colocar o país em recessão às custas do controle da inflação. Não sei se precisa dar uma marretada tão forte nos juros”, alerta Weigt.
Segundo a equipe da Ouro Preto Investimentos, “a guerra cria uma forte aversão ao risco, já que não houve avanços nas negociações”. A inflação nos Estados Unidos, destaca a Ouro Preto, poderia ser benéfica para o Brasil, mas a tensão desta quinta neutraliza os efeitos positivos para o real.
O aumento no preço do litro da gasolina, que vai de R$ 3,25 para R$ 3,86, e do diesel, que passa de R$ 3,61 para R$ 4,51, anunciado hoje pela Petrobras, coloca ainda mais pressão inflacionária no âmbito doméstico: “Já existem projeções que o Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima reunião, irá manter a Selic em 1,5%, o que talvez seja benéfico para a entrada do fluxo estrangeiro”, analisa a Ouro Preto.
A Ouro Preto observa que a alta das commodities, que pressionam a inflação global, pode beneficiar o Brasil: “Em um primeiro momento, isso deve gerar uma balança comercial positiva”, projeta.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o dia deve ser marcado pelo CPI e decisão de taxa de juros do Banco Central Europeu (BCE), dia de maior cautela nos ativos de risco, após forte precificação otimista quanto ao conflito no Leste Europeu nas bolsas ontem”.
Borsoi acredita que a forte aversão global ao risco, diferente do movimento observado ontem, deve fortalecer o dólar.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, com mercado sem sinais claros sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e questão de combustíveis no Brasil. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,030% de 12,905% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 12,795%, de 12,595%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,275%, de 12,120% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,145% de 12,035%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em alta, cotado a R$ 5,0180 para venda.
Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam em queda depois que as negociações de paz fracassadas entre a Ucrânia e a Rússia assustaram os investidores sobre como o conflito geopolítico poderia impactar o crescimento global.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,34%, 33.174,07 pontos
Nasdaq 100: -0,95%, 13.130,0 pontos
S&P 500: -0,42%, 4.259,52 pontos