Bolsa passa por correção após recordes e fecha em queda; dólar sobe a R$ 4,04

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Após três dias seguidos de alta e renovação de recordes, o Ibovespa fechou em queda de 0,51%, aos 106.986,15 pontos, mostrando uma realização de lucros em meio ao início da temporada de balanços. A queda das ações da Petrobras e da Vale, que devem divulgar balanços ainda hoje pesaram no índice, assim como as ações da CSN e da Localiza, que reagiram a dados trimestrais mais fracos do que o esperado. O volume total negociado foi de R$ 19,5 bilhões.

Para o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, é natural que o Ibovespa mostre maior fraqueza e investidores aproveitam para embolsar lucros em algum momento, depois de uma sequência de ganhos do índice. Além disso, destaca alguma ansiedade dos investidores em relação ao início da temporada de balanços.

“Hoje temos o balanço da Vale e da Petrobras, que deixa todo mundo estressado. Operacionalmente, a Vale parece já ter melhorado, mas as coisas ficaram mais complicadas depois de Brumadinho”, disse Bandeira.

Os papéis da Vale (VALE3 -0,76%) e da Petrobras (PETR3 -1,97%. PETR4 -2,17%), que chegaram a abrir em alta hoje, passaram cair com mais força ao longo do dia. Apesar da ansiedade pelos balanços das companhias, o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, acredita que os resultados devem vir positivos, embora não descarte ainda algum impacto negativo no balanço da Vale como consequência do rompimento da barragem de Brumadinho.

As maiores quedas do Ibovespa, por sua vez, foram de empresas que já divulgaram balanços, que vieram abaixo do esperado pelo mercado, caso da CSN (CSNA3 -6,85%) e da Localiza (RENT3 -6,17%).

Na contramão, as maiores altas foram do BTG Pactual (BPAC11 4,22%), da Ambev (ABEV3 2,73%), que divulgará seu balanço amanhã de manhã, e da BR Distribuidora (BRDT3 1,91%), que reflete notícia de que a companhia pretende estender sua atuação para além da distribuição de combustíveis, criando comercializadores de etanol, energia e gás natural.

Ainda na cena doméstica, investidores observam o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre prisão após segunda instância, sendo que a ministra Rosa Weber acabou de votar contra a prisão neste caso, deixando o placar em três votos favoráveis à prisão a dois votos contrários. Já no cenário externo as bolsas norte-americanas fecharam mistas, também reagindo a balanços e após do Banco Central Europeu (BCE) ter decidido manter os juros inalterados, como esperado pelo mercado.

Amanhã, analistas acredita que o índice pode ser novamente influenciado por balanços, já que empresas de peso devem divulgar resultados e há grande expectativa de que, passada a aprovação da reforma da Previdência, a economia real possa dar sinais de melhora.

O dólar comercial fechou em alta de 0,17% no mercado à vista, cotado a R$ 4,0430 para venda, depois de chegar ao menor valor intraday desde 19 de agosto – na mínima da sessão, a R$ 4,0000 – refletindo o bom humor doméstico após a conclusão da aprovação da reforma da Previdência, além da entrada de fluxo estrangeiro nos últimos dias.

“As expectativas frente à entrada de fluxo no País, um montante de cerca de R$ 100 bilhões referente ao leilão da cessão onerosa [no início de novembro], além do otimismo residual frente à aprovação da reforma, que resultou em dólar a R$ 4,00”, comenta o analista de câmbio de uma corretora local.

Depois de ensaiar a terceira queda seguida, a moeda oscilou até firmar leve alta frente ao real “se alinhando ao exterior”, ressalta o analista, onde a moeda passou a ganhar força. “Um importante ponto que merece destaque é o aumento das expectativas por um afrouxamento de juros tanto no Brasil quanto no mundo, tendência que tem como provável resultado a saída de dólares do País, fato que pode estar por traz da resistência por uma maior queda da moeda”, ressalta.

Na próxima semana, tem as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Banco Central, ambos com expectativa de corte. A maioria do mercado aposta em queda de 0,25 ponto percentual (pp) nos Estados Unidos e em 0,50 pp por aqui.

Pensando nas reuniões dos bancos centrais na próxima semana, o economista da Toro Investimentos, Rafael Winalda, aposta em movimento de cautela amanhã. “Mais neutro, como foi hoje, influenciado por uma agenda mais fraca. Mas os eventos da semana que vem e do fim de semana, não deixam de pedir uma cautela”, diz.

No domingo, será realizada as eleições presidenciais na Argentina, em que, de acordo com prévias e pesquisas de intenção de votos, o presidente Mauricio Macri não deverá ser reeleito. “A eleição da Argentina já está no preço porque as pesquisas têm mostrado uma derrota de Macri. Pode ser que tenha um efeito pontual sobre o real nos negócios na segunda-feira, mas não deverá se sustentar”, avalia o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.