Bolsa fecha estável após falas de Haddad, limitada por Vale, balanços e exterior

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Gráfico de ações // Créditos: Pexels/Energipicom

São Paulo, 13 de novembro de 2024 – A Bolsa passou boa parte do pregão desta quarta-feira em queda, reduziu as perdas no final da sessão e terminou estável, após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as medidas de ajuste fiscal que estão sendo negociadas pelo Executivo e propostas ao Congresso. O movimento também reflete a avaliação dos investidores sobre os balanços corporativos e a volatilidade das ações de grandes empresas diante incertezas globais.

Em entrevista após reunião com Arthur Lira, o ministro sinalizou esforço para que a arquitetura das medidas seja de longo prazo e reforçou que o arcabouço tem que ter vigência longa e cumprir o objetivo de atingir o equilíbrio fiscal. As falas levaram o Ibovespa a uma leve alta, mas no fechamento, corrigiu para a estabilidade.

O principal índice da B3 fechou em alta de 0,02%, aos 127.733,88 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 0,05%, aos 128.865 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,4 bilhões. Em Nova York, os futuros fecharam mistos.

Entre as ações de peso, Vale (VALE3) voltou a negociar em campo negativo, mas reduziu as perdas para 0,27%. Os grandes bancos também buscaram reação e fecharam mistos, assim como as ações da Petrobras (PETR3; PETR4).

As ações da Vale vem sofrendo perdas desde que a China anunciou novas medidas de estímulo que frustraram agentes financeiros. Desde o fechamento de quinta-feira até ontem (12), antes do anúncio chinês, a empresa somava perda de R$ 28,1 bilhões em valor de mercado.

CSN e CSN Mineração recuaram forte após o balanço do 3T24 apresentado ontem à noite.

Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, comenta que o mercado segue em compasso de espera quanto às medidas fiscais discutidas pelo governo, especialmente após a inclusão do Ministério da Defesa no pacote de cortes de gastos. “Fica claro que a falta de clareza sobre a implementação dessas medidas adiciona incerteza e aumenta a cautela entre os investidores. Além disso, o foco nos balanços corporativos e a volatilidade das ações de grandes empresas, como Petrobras e Vale, contribuem para o tom negativo do pregão”, opinou.

O analista acrescenta que a divulgação do índice de inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em linha com o esperado trouxe alívio moderado aos mercados americanos. “Ainda assim, a incerteza sobre os próximos passos do Federal Reserve quanto à política de juros persiste, refletindo no apetite dos investidores por ativos de risco e impactando o Ibovespa negativamente”, avalia.

Em relação ao movimento das ações, Almeida destaca que a valorização da CVC (CVCB3 +2,35%) reflete o otimismo do mercado com os sinais de melhoria operacional, apesar das reservas ainda pressionadas. “A empresa segue em um processo de reestruturação e tem focado em produtos mais rentáveis, o que começa a mostrar resultados positivos. Essa leve recuperação na lucratividade é bem vista pelos investidores, que parecem estar mais confiantes na retomada gradual da companhia, embora os desafios no setor de turismo ainda persistam.”

“Outra alta é de Embraer (EMBR3 +4,72%), que apresentou um trimestre sólido, com aumento significativo nas entregas de aeronaves e margens robustas. O ajuste no guidance para 2024 trouxe alguma cautela, mas o desempenho acima das expectativas no trimestre e a redução na dívida líquida evidenciam a resiliência da empresa. Esse cenário impulsiona o sentimento positivo e sugere que a companhia está bem posicionada para capturar novas oportunidades, principalmente no segmento de defesa”, analisa o sócio da AVG.

Sobre as quedas, ele cita Raízen (RAIZ4 -6,41%), que enfrenta um cenário desafiador, com volume de cana-de-açúcar e margens de distribuição de combustíveis abaixo das expectativas. “A revisão para baixo nos volumes anuais de cana adiciona preocupação quanto à capacidade da empresa de cumprir suas metas, o que reflete o ceticismo dos investidores e resulta em pressão negativa nas ações.”

Ele também analisa as baixas de IRB (IRBR3 -6,85%) e Hapvida no pregão de hoje após apresentação de resultados trimestrais. “Apesar do lucro acima das expectativas e do progresso no turnaround, IRB ainda enfrenta desconfiança do mercado. A empresa continua lidando com a falta de visibilidade sobre um ROE sustentável, e essa incerteza quanto à consistência de seus resultados parece manter os investidores cautelosos, o que pressiona as ações para baixo.”

“HAPV3 também cai (-6,34%) após ter apresentado resultados abaixo do esperado, impactados por provisões contingenciais relacionadas a disputas judiciais. Embora a geração de caixa tenha sido um ponto positivo, as incertezas quanto ao aumento dos custos legais geram preocupação. Com isso, o mercado ajusta suas expectativas para um cenário de maior cautela em relação ao desempenho futuro da companhia.”

O dólar comercial fechou em alta de 0,33%, cotado a R$ 5,7926. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a ansiedade que a espera pelo anúncio pacote fiscal do governo tem gerado no mercado.

Na parte final da sessão, contudo, novas declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltando a garantir o cumprimento do arcabouço fiscal foram bem recebidas e o dólar perdeu força.

Mais cedo, foi divulgado que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) avançou 0,2% em outubro e 2,6% no acumulado de 12 meses. Ambos resultados vieram em linha com as expectativas do mercado.

O Banco Central (BC) informou, também mais cedo, que o leilão de US$ 4 bilhões foi cancelado por problemas técnicos.

Para o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o principal driver de hoje é a espera pelos ajustes fiscais, e que a volatilidade deve permanecer até a aprovação das medidas a serem anunciadas pelo governo: “Vai demorar meses”, opina.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o BC ter cancelado o leilão deu uma “estressada” no mercado.

O economista entende que apesar do CPI ter vindo em linha, as medidas protecionistas que o presidente eleito, Donald Trump, deve tomar a partir de janeiro pode mudar a perspectiva do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em 2025, levando o banco a repensar o ritmo e até mesmo a continuidade do corte dos juros, já que a inflação estadunidense tende a não perder força: “O mundo está desinflacionando e os Estados Unidos não seguem o mesmo caminho”, avalia.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, refletindo setor de serviços brasileiro aquecido e possibilidade de nova alta dos juros na reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom). Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,422% de 11,414% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,250%, de 13,060%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,430%, de 12,995%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,350% de 12,995% na mesma comparação. O dólar opera em alta, cotado a R$ 5,8140 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, enquanto investidores avaliavam novos dados de inflação ao consumidor, que parecem manter o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no caminho para mais um corte de juros no próximo mês.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,11%, 43.958,19 pontos
Nasdaq 100: -0,26%, 19.230,7 pontos
S&P 500: +0,02%, 5.985,38 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo (Safras News)

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