Bolsa fecha em queda sob efeito da alta na curva de juros e recuo das commodities; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda pelo segundo dia consecutivo, oposto a Nova York, com pouquíssimas ações em alta, sob efeito da abertura forte na curva de juros e recuo das commodities.

As ações da Vale (VALE3) caíram 0,26% e as da Petrobras (PETR 3 e PETR4) contraíram, respectivamente, 0,77% e 1,01%.

Os papéis ligados ao setor de educação despencaram, como Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3), respectivamente 6,33% e 6,45%.

“Se Cogna e Yduqs já sofriam com os próprios resultados, com a alta dos juros e, mais recentemente, com a concorrência das apostas e do tigrinho, hoje caem ainda mais com o mau humor do mercado em um dia de aversão a risco”, disse Felipe Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.

Na contramão das mineradoras e siderúrgicas, os papéis da Usiminas (USMI5) subiram 4,48%, após o Morgan Stanley elevar a recomendação das ações da companhia de neutra para compra e com potencial de valorização de 60%. Outro destaque de alta foi Pão de Açúcar (PCAR3), +3,66%.

O principal índice da B3 caiu 1,17%, aos 129.962,06 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 1,28%, aos 130.115 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,5 bilhões. Em NY, os índices fecharam em alta.

Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que a pressão no Ibovespa reflete “a abertura de curva de juros e commodities. O IPCA não foi tão ruim, ficou dentro do esperado, mas o problema é a dinâmica que vem muito ruim desde o último relatório bimestral de despesas e receitas”.

Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que a Bolsa tem um dia mais negativo com as commodities, inflação mais alta e abertura na curva de juros.

“O minério caiu ontem e hoje [impactando a Vale] com o mercado na expectativa de quanto de estímulo o governo chinês vai dar para a economia. Outro ponto é o IPCA mais forte e o número jogou a inflação em 12 meses para 4,45%, é o topo da banda e os DIs estão subindo, testando região máximas que tiveram o ano todo. O DI está sendo precificado com inflação a 4,5%. Mas o Copom também está olhando muito o mercado de trabalho. O petróleo também cai com um certo ajuste, depois de ter subiu muito por conta dos riscos geopolíticos”.

Faust lembrou que amanhã tem dados importantes aqui e lá fora que podem mexer com o mercado, inflação ao consumidor nos Estados Unidos e vendas no varejo no Brasil.

Bruno Komura, analista da Potenza Capital, disse que a queda da Bolsa está atrelada à inflação, commodities e curva de juros.

“Mesmo que o qualitativo [do IPCA] não seja tão ruim, o mercado está vendo deterioração, a curva de juros está abrindo e consequentemente puxando a bolsa para baixo. Somado a isso, as commodities não estão ajudando. Petróleo para baixo puxa Petrobras e frustração com China não ajuda a Vale”.

Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, comentou sobre o IPCA divulgado mais cedo.

“Os riscos inflacionários continuam altos, visto que fatores como o mercado de trabalho com a menor taxa de desemprego da última década mantém uma pressão elevada sobre os salários que podem dificultar uma convergência mais rápida da inflação para o centro da meta ou até mesmo uma reancoragem das expectativas futuras, quando analisamos um horizonte relevante de 18 meses”.

Mais cedo, o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro acelerou 0,44% em setembro, levemente abaixo das previsões do mercado (+0,46%), de acordo com o Termômetro Safras. Em agosto teve deflação de 0,02%.

Em 12 meses até setembro, acumulou alta de 4,42%, abaixo das estimativas de +4,45%, segundo o Termômetro Safras.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,97%, cotado a 5,5865. A moeda refletiu. ao longo da sessão, as incertezas sobre o pacote de estímulos à economia chinesa, as dúvidas sobre a intensidade no corte dos juros norte-americanos e os permanentes ruídos fiscais domésticos.

De acordo com o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “o dólar está no forte no mundo todo, com a expectativa do Fed não fazer cortes agressivos”.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o movimento de hoje é puxado pelo mau humor global com o temor de que o Fed não consiga cortar tanto os juros quanto se imaginava inicialmente.

Borsoi também entende que existe “certa decepção” com a China, gerando nervosismo no mercado e afetando as commodities e moedas ligadas a elas.

Além dos fatores globais, o economista acredita que o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro (0,44% ante projeção de 0,46%) tem sua parcela no movimento de hoje: “Não acho que o IPCA tenha sido bom. Tem sinais bastante significativos de uma piora qualitativa. Fica a sinalização de que o Banco Central está atrasado no ciclo dos juros”, opina.

A mesma forma que o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em firme alta, enquanto digerem os dados de inflação de setembro, considerados fortes para o período. A alta do indicador pode levar a um novo aperto monetário por parte do Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião de novembro.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,108% de 11,088% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 12,500%, de 12,270%, o DI para janeiro de 2027 ia a 12,585%, de 12,325%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,590% de 12,330% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão desta quarta-feira em alta, com investidores digerindo a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e à espera da divulgação do Indice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro, além de novos balanços econômicos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,03%, 42.512,00 pontos
Nasdaq 100: +0,60%, 18.291,6 pontos
S&P 500: +0,71%, 5.792,04 pontos

 

Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes / Agência Safras News