Bolsa fecha em queda por receio com cenário político e fiscal

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Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – A Bolsa chegou a cair mais de 1,4% e fechou em queda de 0,80%, aos 118.781,03 pontos, com os investidores preocupados com o cenário político e fiscal no País e as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a Petrobras impactaram fortemente nas ações da petrolífera com o temor de ingerência política na empresa. Os papéis da Petrobras, Vale e das siderúrgicas caíram desde a abertura com o recuo do minério de ferro, petróleo e dados piores da economia chinesa.

Para Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, o mau humor no mercado é atribuído às questões internas. “A possibilidade da PEC dos precatórios ficar fora do orçamento e às declarações de Bolsonaro em relação Petrobras afirmando que a estatal poderia ter alguma atuação para conter os preços dos combustíveis pesa sobre a Bolsa” afirmou. Soma-se a isso a performance mais fraca de outras commodities.

Para Rodrigo Moliterno, analista da Veedha Investimentos, a Bolsa reflete a queda das ações das commodities por conta do recuo do petróleo, minério e dados da economia chinesa e potencializa o pessimismo com a questão política-fiscal local. “Praticamente não aproveitamos as melhoras internacionais por conta dos impasses interno-fiscal, rompimento de teto, expectativa da Lei Orçamentária, precatórios e, atrelado a isso, temos a questão política trazendo volatilidade”.

Moliterno acrescentou que o mercado não gosta de incertezas e muitos gestores estão migrando suas posições para o exterior.” O Brasil pode  perder grande espaço de recuperação global por conta de vontades políticas”. O analista da Veedha Investimentos acredita em uma solução do fiscal para os próximos dias em relação ao fiscal. “Se a parte fiscal não for resolvida, pelo menos será endereçado de como deve ser, no entanto ficamos à mercê da política”, enfatizou.

Em relação à Proposta da Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2002 entregue nesta tarde ao Congresso, Moliterno afirmou que “ainda não teve impacto no mercado. Os investidores estão tentando entender a proposta”.

O analista da Veedha Investimentos também comentou sobre os atritos entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. “Essas divergências prejudicam ainda mais o mercado”. Pacheco chegou a comentar o que vier do ministro da Economia até 2002, não vai dar atenção.

Para Leonardo Santana, analista da Top Gain, os papéis das commodities e índice nos Estados Unidos abaixo das expectativas refletem a volatilidade. “As ações ligadas às commodities, com forte peso no índice, são impactadas pelo recuo do petróleo e minério de ferro; além do resultado pior que o esperado do índice de confiança ao consumidor nos Estados Unidos”.

Santana destacou o recuo do petróleo antes da reunião de amanhã da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+). “A postura dos membros da Opep+  deve ser a mesma do encontro anterior, de aumentar a produção em 400 mil barris”.

O analista da Top Gain acrescentou que as ações da Vale (VALE3) pesam muito no índice e devem seguir provocando volatilidade durante o pregão. “Apesar da alta do setor financeiro, não é possível trazer otimismo para a Bolsa”.

O dólar comercial fechou em R$ 5,1720, caindo 0,32%. No cenário global, a moeda norte-americana sofreu um movimento de desvalorização, tanto frente aos seus pares quanto às moedas emergentes. Já no âmbito doméstico, as atenções estão voltadas para o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), que irá sinalizar se o governo irá cumprir o teto de gastos.

Para o head de renda variável da Valor Investimentos, Pedro Lang, “o dólar, hoje, está indo na contramão das bolsas. Estamos, porém, vivendo um momento ruim, com todas estas preocupações com que irá acontecer no dia 7 de setembro e, principalmente, com a definição do orçamento”.

Lang vai além: “As perspectivas em curtíssimo não são positivas. No Brasil tudo se resolve em cima da hora, e o mercado está receoso com isso”, avalia. Lang ainda avalia que o dólar em queda é muito mais uma conjuntura global de enfraquecimento da moeda norte-americana do que propriamente um fortalecimento do real.

Para a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, “o dólar sofre um forte enfraquecimento frente aos pares e moedas emergentes. A perspectiva do tapering (remoção de estímulos), nos Estados Unidos, apenas para dezembro, também contribui para isso”.

O cenário de menos turbulência interna, somado aos números positivos divulgados nesta manhã, reforçam o câmbio favorável: “o déficit (nominal e primário) também foi abaixo do esperado”, pontua Pasianotto.

Para o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, “o orçamento de 2022 é o ponto mais importante do dia”. “A solução é que o governo talvez estenda o auxílio emergencial por mais alguns meses”, diz Serrano referindo-se ao teto do orçamento.

Serrano aborda os impactos negativos da incerteza quanto ao cumprimento das metas fiscais: “Temos tido notícias positivas na área fiscal, que porém são anuladas pelos ruídos. No final, as forças se anulam”, pontua. O head também ressalta que hoje é um dia positivo para as moedas emergentes, no âmbito global.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em forte alta, principalmente nos vencimentos mais longos, em um dia no qual a agenda de indicadores econômicos entrou em choque com a divulgação do Orçamento, a evolução da crise hídrica e a permanência das incertezas políticas no radar dos investidores.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 6,740%, de 6,725% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,48%, de 8,40% o DI para janeiro de 2025 ia a 9,56%, de 9,37% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,95%, de 9,77%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam a sessão em queda, mas encerraram agosto em alta graças aos fortes resultados trimestrais das empresas e também à manutenção da política monetária acomodatícia. A performance marca a maior sequência de ganhos mensal desde janeiro de 2018, quando Wall Street subiu por dez meses seguidos.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações nos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,11%, 35.360,73 pontos

Nasdaq Composto: -0,04%, 15.259,20 pontos

S&P 500: -0,13%, 4.522,68 pontos