Bolsa fecha em queda pelo 4º pregão seguido em meio a PIB forte, recuo das commodities e exterior; dólar sobe

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda pelo quarto pregão consecutivo em um dia de dado positivo do Produto Interno Bruto (PIB) referente ao segundo trimestre- -cresceu 1,4% e ante igual período de 2023 avançou 3,3%-, mas que acabou sendo ofuscado pelo forte recuo das commodities e exterior pessimista.

As ações da economia doméstica se beneficiaram na sessão de hoje com o fechamento da curva de juros futuros.

A Vale caiu (ON, -3,72%) refletindo o recuo do minério de ferro, em Dalian. Petrobras (ON, -1,05%; PN, -1,20%), Itaú (PN, +1,62%) e Assai (ON, +2,04%).

Yduqs subiu (ON, +1,86%) repercutindo a aprovação de um programa de recompra de ações ordinárias no valor de R$ 300 milhões.

O principal índice da B3 caiu 0,40%, aos 134.353,48 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 0,11%, aos 136.065 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,2 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, disse que o Ibovespa caminha para fechar em leve queda “digerindo o PIB [forte] com previsão de aumento de taxa de juros aqui, o que faz a renda fixa ficar mais atrativa. Já nos EUA, o movimento é de queda nos juros levando atratividade para renda variável. O mercado espera pelo payroll, na sexta-feira (6) pra ditar o ritmo do mercado”.

Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Eu me banco, disse que “o Ibovespa cai em dia de forte queda do minério de ferro e do petróleo. Apesar dos dados positivos do PIB, não foram suficientes para manter o Ibovespa em alta devido ao pessimismo internacional. O resultado do PIB acende, por outro lado, uma preocupação em relação ao aquecimento da economia podendo gerar inflação. Com isso, aumentam as chances de uma alta na Selic na próxima reunião do Copom”.

Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que a Bolsa cai, mas está conseguindo se segurar frente ao mercado americano.

“A gente está conseguindo se segurar por causa do PIB forte [divulgado mais cedo], Vale e Petrobras caem e ações ligadas à economia interna sobem-bancões, elétricas, consumo, saneamento, comércio e distribuição, varejistas e construção civil. Já em dólar a Bolsa está caindo bem hoje [EWZ que replica o índice cai 1,44%] porque o dólar está forte. Nos Estados Unidos, o dado mais relevante é o ISM da atividade industrial-subiu 47,2 pontos em agosto e a previsão era de 47,9 pontos- é mais um reforço de desaceleração econômica. Aí vemos a curva de juros [treasuries] caindo bastante porque a economia começa a entrar em um declínio, indústria enfraquecendo e demanda por commodities diminuem e a bolsa americana também cai. Fica o temor de recessão”.

Lourenço comentou que “o mercado já trabalha com possibilidade mais clara de retomada de aumento de juros aqui; não é todo ruim, o DI curto sobe e longo cai, talvez seja uma reprecificação e não gera tanto impacto negativo no Ibovespa, mas no curto prazo o mercado pode ficar um pouco mais amarrado”.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, avaliou o crescimento da economia brasileira no segundo trimestre.

“O PIB veio bem mais forte que o mercado esperava e que a RB Investimentos. A alta de 1,4% [no segundo trimestre] reforça a expectativa de crescimento de 2,5% no ano. O destaque foi a indústria, mas não é um movimento exclusivo do Brasil, boa parte do mundo está com a indústria indo bem. Já o agronegócio não foi tão bem, movimento parecido com 2023. O ponto fraco dos dados do IBGE são os de investimentos. Por mais que tenham tido aumento de 16,4% para 16,8%, são muito mais baixos na média com emergentes. Entendo que esses dados reforçam que a atividade brasileira vem se beneficiado de algumas reformas que foram feitas nos últimos anos, da mesma forma que agências de classificação de risco vêm favorecendo o Brasil, isso aparece nos dados de emprego, atividade. Um dos fatores que favoreceu foi a bandeira de energia. Energia mais barata impulsionou a indústria e outros setores, talvez seja revertido no segundo semestre”.

O dólar fechou em alta de 0,49%, cotado a R$ 5,6433. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a expectativa com o payroll, que será divulgado nesta sexta-feira (6) nos Estados Unidos e pode sacramentar o próximo passo do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Segundo o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, “o payroll vai definir se o corte dos juros nos Estados Unidos será de 0,25 ponto percentual (p.p.) ou de 0,5 p.p. O corte é certo, agora só precisamos saber o tamanho dele”.

De acordo com o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o movimento de hoje reflete a espera pelo payroll, além de alguns indicadores dos Estados Unidos divulgados nesta manhã.

Weigt refere-se ao índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor industrial que caiu a 47,9 pontos em agosto (projeção de 48,1 pontos) e o índice ISM que foi a 47,2 pontosno mesmo período (projeção de 47,9 pontos).

Para o economista André Perfeito, “a leitura inicial dos dados mostram um PIB robusto e cabe agora nos perguntarmos como o mercado deve avaliar estes dados. Em primeiro lugar acreditamos que devemos ver revisões de projeções para o PIB de 2024, hoje a mediana do Focus está em 2,46%, provavelmente deve ser revisado para 3% nas próximas semanas”.

“Por outro lado vivemos hoje uma situação onde a ‘notícia ruim é que está bom’, ou seja, muitos analistas irão avaliar os dados como sinalização de atividade mais forte que o adequado e assim a conta erro dessa leitura irá reafirmar temores de alta de juros por aqui, ou mesmo juros ‘menos menores’ nos próximos anos. Dito isso não devemos ver melhora no PIB para horizontes mais longos”, avalia Perfeito.

“A melhora do PIB deverá ajudar à arrecadação do governo uma vez que hoje muitas das desonerações feitas no passado foram revertidas e nesse sentido o crescimento econômico deverá melhorar o caixa do governo”, projeta o economista.

Já o analista Bruno Komura entende que “para o macro, o efeito não deve ser tão positivo porque reforça a ideia de alta de juros para esfriar a economia e segurar a inflação. Temos nos descolado muito do global”.

O PIB do 2º trimestre apontou alta de 1,4% na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No comparativo com o mesmo período de 2023, a alta foi de 3,3%. Tanto o resultado trimestral quanto o interanual ficaram acima das projeções feita pelo Termômetro Safras, de 0,95% e 2,70%, respectivamente.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em queda, seguindo os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) que caem reagindos aos dados divulgados hoje mais cedo, os quais sugerem desaceleração da economia estadunidense.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,980% de 10,985% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,890%, de 11,895%, o DI para janeiro de 2027 ia a 12,930%, de 11,980%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,030% de 12,090% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em forte queda, com os investidores iniciaram as negociações de setembro com um baque – começando um mês historicamente difícil para os mercados.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,51%, 40.936,93 pontos
Nasdaq 100: -3,26%, 17.136,3 pontos
S&P 500: -2,11%, 5.528,93 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News