Bolsa fecha em queda em meio a decisões duras de bancos centrais; dólar sobe

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São Paulo – Em dia de aversão ao risco global, a Bolsa fechou em queda na faixa dos 107 mil pontos acompanhando o movimento negativo em Nova York com os investidores preocupados com a aceleração da inflação e, de uma forma mais tardia, reagiram às decisões tomadas pelos principais bancos centrais do mundo, que resultam na redução de estímulos à economia e aumento da taxa de juros. Na semana, o índice encerrou em baixa de 0,51%. 

 

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco central do país) anunciou a aceleração da redução de estímulos e três aumentos na taxa de juros ao longo de 2022. No Reino Unido, o Banco Central da Inglaterra (BoE) elevou os juros de 0,10% para 0,25% ao ano (aa) e o Banco Central Europeu (BCE) confirmou que vai reduzir o ritmo de compra de ativos a partir do ano que vem. Hoje também é dia de exercício de opções sobre as ações, por aqui, e nos Estados Unidos vencimento de opções de ações e índice e futuros de ações e índice. 

 

O destaque na sessão de hoje ficou por conta do anúncio de follow-on anunciado pela BRF. O papel da BRF (BRFS3) chegou a subir 11% e fechou com avanço de 5,39%, a R$ 21,50. Marfrig (MRFG3) foi no embalo e subiu 3,70%, a R$ 23,78. 

 

O principal índice da B3 caiu 1,03%, aos 107.200,56 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu 1,19%, aos 108.600 pontos. O giro financeiro foi de R$ 37,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda. 

 

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA, comentou que a postura mais agressiva dos bancos centrais ativou o risk-off nos mercados impactando o Ibovespa. “Os investidores seguem cautelosos e ainda digerem as decisões de política monetária dos principais bancos centrais do mundo, que priorizam o combate à inflação, enquanto estão de olho nos possíveis impactos da nova variante”. 

 

Rodrigo Moliterno, analista da Veedha Investimentos, comentou que a Bolsa acompanha o mau humor do mercado no exterior assimilando as decisões dos principais bancos centrais ao redor do mundo e com atenção à disseminação da variante Ômicron na Inglaterra. “Os mercados tiveram uma reação meio tardia às definições de bancos centrais, como da Inglaterra que elevou a taxa de juros. Embora seja para conter a inflação, existe expectativa menor para um crescimento econômico mais rápido. O avanço da Ômicron, principalmente no Reino Unido, coloca o mercado em alerta”. 

 

Moliterno ressaltou que o Ibovespa ainda está atrasado em comparação às outras bolsas do mundo por conta das questões internas. “A aprovação PEC dos precatórios tirou um pouco do peso na Bolsa, mas ainda tem a lei orçamentária para ser discutida e votada podendo trazer burburinho no mercado”. 

 

O analista da Veedha afirmou que acredita ainda em ganhos para a Bolsa nos últimos pregões do ano. “Nossos principais ativos, as commodities, terão demanda e vemos um rali para o final de ano”. Na sessão de hoje, apesar da alta do minério de ferro na China, as ações de empresas ligadas às commodities caem. 

 

O único setor de destaque é o setor de proteína com informações pontuais recentes que tem feito o mercado descolar do resto. “A chancela da China de voltar a importar carne brasileira e a notícia pontual da Brasil Foods que pretende fazer um follow-on e utilizar esses recursos para ajustar a estrutura financeira dela favorecem o setor”. 

 

O dólar comercial fechou em R$ 5,6840, com alta de 0,07%. Impactada pela escalada da inflação global e da retirada dos estímulos às economias realizada pelos bancos centrais das economias desenvolvidos, a moeda norte-americana oscilou durante toda a sessão.  Na semana, o dólar comercial avançou 1,25%. 

 

Segundo a equipe de analistas da Ouro Preto, “o cenário global continua complicado”, com o corte de incentivos à economia e começo de aumento dos juros, com o objetivo de frear a inflação que se espalha por diversos países. 

 

A situação no Brasil, porém, é atenuada pelo espaço que a moeda brasileira tem para cair e o aumento agressivo da Selic (taxa básica de juros): “Acabamos nos descolando do exterior, foi mais uma correção do que de fato estamos bem. O BC continua com um discurso duro, e acho que ele está na direção certa”, pontua. A Ouro Preto acredita que o real começou refletir os fundamentos técnicos, e isso se deve à ausência de ruídos políticos e fiscais. 

 

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “o movimento hoje é global, mas o real acaba sendo mais afetado pelas questões de fluxo, com o pagamento de dividendos de empresas, que neste período remessas para o exterior”. 

 

Leal ressalta que a concepção de inflação global temporária “caiu por terra”, e ressalta que os emergentes, que iniciaram o movimento de elevação das taxas de juros, levam vantagem ante os países desenvolvidos, com tarifas mais convidativas ao investidor. 

 

De acordo com boletim matinal da Correparti, esta semana “marcou a guinada dos bancos centrais de economias desenvolvidas, na direção de um modelo de política monetária menos relaxada, em meio a escalada inflacionária”. 

 

A Ajax Capital acredita que a sexta deve ser morna, com a agenda dos Estados Unidos esvaziada: “Espera-se uma abertura mais negativa à bolsa, e alta do dólar”, projeta. 

 

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após uma semana agitada em termos de política monetária. 

 

O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 9,148% de 9,150% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,790%, de 11,710%, o DI para janeiro de 2025 ia a 10,755, de 10,625% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,620% de 10,490%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em queda, cotado a R$ 5,69 para venda. 

 

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, à medida que os mercados seguem inseguros com as mudanças da política monetária dos bancos centrais e o retorno de novos surtos de coronavírus pelo mundo. 

 

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento: 

 

Dow Jones:  -1,48%, 35.365,44 pontos 

Nasdaq Composto: -0,07%, 15.169,7 pontos 

S&P 500: -1,02%, 4.620,64 pontos 

 

Veja o acumulado dos índices na semana: 

 

Dow Jones: -1,68% 

Nasdaq Composto: -2,95% 

S&P 500:  -1,94%