Bolsa fecha em queda e dólar sobe com crise hídrica no radar

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Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – O Ibovespa operou praticamente toda a sessão em queda, com exceção da abertura que registrou volatilidade em um dia em que os investidores ainda reagiram à reforma tributária devido à taxação dos dividendos e lucros e à espera de novas notícias em relação ao tema. A crise hídrica preocupa os investidores. Com isso, o principal índice da B3 encerrou os negócios com ligeira queda de 0,07%, aos 127.327,44.

Como na véspera, foram negociados 12,5% do volume financeiro nos últimos cinco minutos do fechamento.

Segundo Ricardo Oliboni, chefe de mesa da Axia Investing, um dos fatores que ajudam na queda do índice é a reforma tributária. “A tributação dos dividendos é sempre um ponto polêmico a ser discutido”.

Oliboni ressalta que a Bolsa está “barata e atrativa para os investidores brasileiros e estrangeiros”. Ele relembra que que já batemos recordes históricos recentemente e “uma correção é absolutamente normal levando em conta o dólar e o nosso cenário político”.

Amanhã é dia em que a Vale paga os dividendos para seus acionistas e o montante previsto gira em torno de R$ 11 bilhões. A expectativa dos investidores é de que 50% desse valor sejam regressados ao mercado acionário, no entanto o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, acredita que “boa parte desse dinheiro seja reinvestido na própria Vale”.

Ele acrescenta que “quem quiser pode antecipar a compra para hoje porque o recurso vai entrar amanhã e a ação será liquidada dia 1”. Já os fundos só podem comprar quando o dinheiro estiver disponível.

Para o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, a melhora no Ibovespa é atribuída à “aceleração na compra de Vale diminuição da queda dos bancos”, afirma. Mas observa que a liquidez é baixa.

Mas cedo, uma fonte do mercado financeiro afirmou que o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a proposta da reforma tributária em taxar os lucros e dividendos em 20% causou estresse na Bolsa, chegando cair mais de 0,90%. “O ministro disse que é pouco tributar 20% e o mercado reagiu”.

Na véspera o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) disse em taxação de 15%. “Está sendo ventilado uma redução de 10%, mas acredito em 15%”, afirma o sócio da Renova Invest, Rodrigo Friedrich.

Os bancos caíram pelo terceiro dia consecutivo pressionados pelos impactos da reforma tributária. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) perderam 0,85% e 0,60%, respectivamente. Itaú (ITUB4) baixaram 0,98% e Santander (SANB11) desvalorizaram 0,59%.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu aumentar a taxa da bandeira tarifária vermelha nível 2 em 52%, R$ 6,24 por cada 100 quilowatts/hora (kWh) para R$ 9,49 (kWh) consumidos. O valor é cobrado adicionalmente nas contas de luz devido à falta de chuvas e acionamento das termelétricas. “A energia elétrica está ajudando o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] a subir”. O aumento começa a valer em julho.

Os papéis ligados á energia têm forte queda. Eletrobras (ELET3 e ELET6) caíram 1,57% e 1,72%.

Friedrich comenta que a situação política no Brasil é de cautela. “Começa a ficar complicado pela nova proposta da reforma tributária e a crise hídrica, além das complicações para o governo federal na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da covid “.

A respeito da CPI da covid, existe a possibilidade do ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello se manifestar publicamente para blindar o presidente Jair Bolsonaro. A CPI já tem assinaturas para a prorrogação dos trabalhos da Comissão para mais 90 dias.

O dólar comercial fechou em alta de 0,28% no mercado à vista, cotado a R$ 4,9420 para venda, em sessão volátil, acompanhando o exterior, onde a moeda estrangeira ganhou terreno por toda a sessão em meio ao receio com a recuperação econômica global diante do avanço da variante delta do novo coronavírus em países da Europa, Ásia e na Austrália. Aqui, a divisa norte-americana acompanhou o exterior e em sessão de poucos negócios, ficou de lado com investidores dando início à disputa pela formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) – de fim de mês na segunda parte dos negócios.

“A disseminação da nova variante do coronavírus, que já colocou em lockdown importantes regiões na Austrália, renova as incertezas em torno da recuperação econômica mundo afora, colocando os investidores em posição de cautela novamente”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, acrescentando que investidores também operaram na expectativa pelos dados de emprego nos Estados Unidos amanhã, a ADP, e na sexta-feira, o relatório de empregos do país (payroll).

Aqui, ele reforça que a “palavra de ordem” foi cautela, diante da crise hídrica e, consequentemente, energética, e a formação da Ptax de fim de mês.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, avalia que o reajuste “pesa muito” no bolso do consumidor e deverá refletir no índice da inflação oficial. “O IPCA deve subir novamente. No mínimo, podemos ter um cenário extremamente ruim para a inflação”, diz. O cenário inflacionário aqui e no mundo tem sido mencionado e monitorado de perto por bancos centrais e investidores.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a tendência amanhã é de sessão volátil com a tradicional “guerra” para a formação da taxa Ptax na primeira parte dos negócios e com investidores atentos aos números de criação de emprego no setor privado norte-americano em junho. A previsão é de 550 mil solicitações. Hoje, mais tarde, saem na China os números dos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria e de serviços, neste mês.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em queda depois de operarem em baixa do início ao fim do pregão com os investidores reagindo positivamente ao resultado do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) de junho, que desacelerou em relação a maio e veio abaixo das expectativas dos participantes do mercado.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou o dia com taxa de 5,605%, de 5,640% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,965%, de 7,025%; o DI para janeiro de 2025 ia a 7,95%, de 8,02% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,40%, de 8,48%, na mesma comparação.

Após o S&P 500 renovar máxima intradiária, os principais índices do mercado de ações norte-americano perderam um pouco de força e terminaram o dia com ganhos modestos, apoiados em dados econômicos positivos e também em notícias do setor bancário.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,03%, 34.292,29 pontos

Nasdaq Composto: +0,19%, 14.528,30 pontos

S&P 500: 0,02%, 4.291,80 pontos