Bolsa fecha em queda, dólar encerra a R$ 5,99 e juros avança com temor da eficiência das medidas fiscais

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São Paulo -A Bolsa fechou em forte queda, no menor patamar em quatro meses, na faixa dos 124 mil pontos, com o mercado temendo que as medidas do pacote fiscal não sejam eficientes para equilibrar a relação dívida/PIB. Pouquíssimas ações subiram e o Indice Samll Caps despencou.

O estresse do mercado aumento a meia hora do fechamento, e o principal índice da B3 perdeu 2,39%, aos 124.610,41 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro recuou 2,32%, aos 125.130 pontos. O giro financeiro foi de R$ 27,5 bilhões.

Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhou o pacote fiscal. Haddad disse que a queda na receita com a isenção do Imposto de Renda (IR) até R$ 5 mil deverá ser de R$ 35 bilhões e não de R$ 70 bilhões como foi ventilado no mercado ontem.

O ministro disse que a projeção do governo é de uma economia de R$ 71,9 bilhões nos anos de 2025 e 2026.

O mercado deverá acompanhar, logo mais, com atenção a palestra do diretor de Política Monetária do banco Central (BC) e futuro presidente da instituição, Gabriel Galípolo, no evento do Esfera Brasil, após o pacote fiscal. Galípolo fala em evento promovido pelo Esfera Brasil.

Os destaques positivos ficaram para as ações da Suzano (ON, +2,99%), Klabin (KLBN11, +1,97%), JBS (ON, +3,35%) e Weg (ON, +1,92%). O Indice Small Caps caiu 4,36%.

Alexsandro Nishimura, economista-chefe da Nomos, disse que “os preços dos ativos brasileiros se ajustaram totalmente à avaliação do pacote, que sofreu com a inclusão da ampliação da faixa de isenção de IR e dúvidas quanto à efetividade das propostas para a estabilização do quadro fiscal. Creio que o principal incômodo não seja a realização do objetivo de economizar os R$ 70 bi em dois anos, mas a dúvida se este montante é suficiente, principalmente para a estabilização da relação dívida/PIB no longo prazo”.

Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, disse que o mercado reagiu mal ao plano do governo, que inclui cortes de gastos públicos, isenção de imposto de renda para rendas mais baixas e o aumento de impostos para quem ganha mais de R$ 50 mil.

“O mercado esperava o pacote de cortes de gastos, sem menções a renúncias fiscais, neste momento. As medidas não parecem resolver os problemas estruturais das contas públicas, como o crescimento da dívida e a fragilidade fiscal. Esse cenário só eleva o risco-país e pressiona os preços das ações, especialmente em setores mais expostos à economia doméstica. Poucas empresas escaparam da queda, como algumas exportadoras devido ao fortalecimento do dólar e à expectativa de uma moeda ainda mais valorizada caso o cenário atual persista”.

Silva acrescentou que o cenário para os próximos dias promete ser de muita turbulência, com grande volatilidade no Ibovespa”.

Daiane Gubert, head de assessoria de investimentos da Melver, disse que a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil foi o ponto central de estresse do mercado.

“O mercado esperou para uma notícia de alívio para o fortalecimento do arcabouço fiscal, mas o governo trouxe ao contrário, mais pressão nas contas públicas. O pacote foi ofuscado pela isenção do IR [para quem ganha] até R$ 5 mil, vejo como uma promessa eleitoreira, a saída de taxar quem recebe até R$ 50 mil não faz frente ao volume de dinheiro que vai ser anistiado. A nossa expectativa é de R$ 35 a R$ 40 bilhões de renúncia fiscal, e pode chegar a R$ 50 bilhões. Essa medida poderia ser trazida para ter um olhar social depois que a gente tivesse um ambiente mais organizado-quando o novo presidente do BC [Gabriel Galípolo] começasse a trabalhar, quando tivesse mais visibilidade do novo governo dos EUA e o dólar acomodasse. Daiane explicou que à medida que a expectativa de endividamento cresce, aumenta a expectativa do investidor de ter um prêmio maior pra comprar esse risco, e entra na espiral de juros elevados, inflação mais alta e o dólar batendo os R$ 6. Isso porque está em um dia off lá fora. É um ambiente de downgrade de confiança. As ações dolarizadas sobem como Suzano e Klabin. JBS avança com a recomendação [de compra] do Goldman Sachs [para as ações]”.

Bruno Komura, analista da Potenza Capital, disse que no curto prazo cenário é difícil com o pacote fiscal.

“O problema é a questão da tramitação no Congresso da proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para os salários até R$ 5 mil. O Congresso não vai querer se queimar, e vai aprovar a medida populista. Até aí ok. Com isso, o rombo é de R$ 25 a 50 bi [nas contas públicas]. Mas, por outro lado tem a compensação dessa isenção. Por que o Congresso aprovaria a medida de compensação? O governo vai comprar briga com quem tem muita influência. Existe possibilidade de o governo acionar o STF [Supremo Tribunal Federal] se isso não acontecer, o que vai gerar briga de poderes. O cenário é complicado para o curto prazo, totalmente desnecessário”.

Komura ressaltou que a bolsa não cai tanto porque está descontada, mas se “o juro precificado na curva se concretizar, isso vai lateralizar o lucro das empresas e não precisa ter piora dos múltiplos das ações, pode ter uma redução do lucro das companhias, e isso já é fator adicional para reduzir o valor das ações”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,30%, cotado a R$ 5,9903. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o pacote fiscal divulgado pela manhã.

A economia prevista entre 2025 e 2026 é de R$ 71,9 bilhões. Até 2030 é projetado que o corte envolva R$ 327 bilhões.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ponderou que “estamos conseguindo manter a inflação controlada, apesar dos choques climático e externo. Devemos fechar o ano com a inflação dentro da meta e com crescimento de 3,4% a 3,5% do PIB”.

O head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que “apesar de toda a repercussão do mercado em relação ao pacote de corte de gastos, o real não teve uma desvalorização muito discrepante quando comparado a outras moedas emergentes. O dólar se valorizou contra todas as unidades monetárias, incluindo o peso mexicano, que é a divisa mais impactada, assim como o peso chileno, o rand sul-africano e até o próprio euro. Não foi um movimento exclusivo da moeda brasileira”.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, entende que as medidas não resolvem “a incerteza do mercado, seguem opacas e sem sinais de que vão endereçar o problema. Mas, ao afirmar que o governo terá de seguir trabalhando para equilibrar as contas e que, se for necessário, vão voltar ao Lula sugere que devem vir mais ações à frente”.

Borsoi acredita que a coletiva desta manhã apenas acentuou as incertezas sobre o fiscal, que se refletem mais nos juros do que propriamente no dólar.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos fecham em firme alta, já que o tão esperado pacote fiscal não foi bem recebido pelo mercado – especialmente por causa da isenção de imposto de renda sobre rendas menores do que R$5.000.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,614% de 11,500% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,850%, de 13,500%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,970%, de 13,620%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,880% de 13,545% na mesma comparação.

 

Paulo Holland e Camila Brunelli / Agência Safras News