Bolsa fecha em queda, dólar e juros em alta por possível anúncio de isenção de IR pelo governo

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São Paulo -A Bolsa fechou em campo negativo, na mínima do dia de 127.668,61 pontos, em um pregão de forte aversão ao risco em razão da possibilidade de o governo anunciar isenção de imposto de renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil ao ano. A grande maioria das ações caiu, mas commodities metálicas se seguraram.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará pronunciamento às 20h30 em rede nacional de rádio e televisão para detalhar o pacote fiscal e há expectativa sobre a proposta de IR.

A Vale (VALE3) subiu 1,21% e as ações cíclicas caíram. Magazine Luiza (MGLU3) foi destaque de queda de 9,39%. O Indice Small Caps recuou 3%.

O principal índice da B3 caiu 1,73%, aos 127.668,61 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro recuou 2,04%, aos 128.050 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,3 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Caio Henrique Soares Rodrigues, sócio da Átika Investimentos, disse que esses rumores sobre o anúncio de isenção de impostos para quem ganha até R$ 5 mil surpreendeu o mercado.

“Com essa isenção, a conta não fecha. Já temos problemas no orçamento. Para que esses rumores se confirmem tem de tributar na outra ponta. Mesmo tributando em outras pontas, a gente pode não ter as contas públicas de forma saudáveis e equilibradas. Os DIs estão subindo forte, bolsa caindo, o Tesouro Direto suspendeu as negociações com medo do pacote fiscal. Com esse cenário, aumenta o risco do nosso país”.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, disse que “o custo dessa isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil é uma bomba, vai chegar a uma conta de R$ 60 a R$ 90 mi e isso já seria para o ano que vem. E o governo está falando em economizar R$ 30 bi no ano que vem e R$ 40 bi em 2026, mas talvez os R$ 40 bi não se concretize porque é ano de eleições. Estamos em um momento que o mercado não está com muita paciência com o governo. Há semanas que estão enrolando com esse pacote de controle de gastos. O controle de gastos já não era totalmente crível e essa isenção vai comer toda a economia que o governo está se propondo a fazer. Eles estão trocando gato por lebre. O mercado tende a ficar mais volátil porque o governo não consegue se comprometer com aquilo que se propõe a entregar e o mercado vai exigir cada vez mais prêmio de risco”.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que “essa isenção [do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil] vai literalmente custar muito caro a todos os próximos governo. Se eles apresentem uma forma concreta de arrecadar esses valores, ok, mas caso seja frágil, o desequilíbrio fiscal cresce ainda mais rápido”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável dfa Vértiq Invest, disse que o estresse no mercado “foi por conta da questão da isenção do IR (Imposto de Renda) para pessoas que ganham até R$ 5 mil [por mês], a curva de juros estresse bastante. O que o Haddad deve ou não falar já está sendo ventilado nos bastidores”.

Mais cedo, Larissa Quaresma, analista de Research da Empiricus, disse que a dúvida sobre a magnitude do ajuste fiscal gera expectativa no mercado.

“Aqui é samba de uma nota [o pacote fiscal que rege o mercado]. Como ainda não foram divulgados os detalhes do pacote, os valores financeiros, tem-se a percepção que as medidas não sejam suficientes para cumprir com o arcabouço, pode ser que adie o problema em mais um ano. Mas, é bom que vai vir [o ajuste para os ativos de risco]. Mas na ponta negativa, talvez as medidas não sejam suficientes para cumprir com o arcabouço, pode ser que adie o problema em mais um ano. Comenta-se que a votação no Congresso ficaria para o ano que vem e que pode vir desidratado esse ajuste. Não saíram os valores financeiros detalhados. Há deputados redigindo com outros ajustes, falando que o do governo não vai ser suficiente. O cenário hoje pra bolsa é melhor que o anterior. Sabemos que tem ajuste e vai acontecer, antes não se sabia se ia acontecer. Se será bom ou não vai depender da magnitude. Quanto mais profundo e estruturante for o ajuste melhor pra bolsa”.

Em relação à inflação PCE, divulgada mais cedo, Larissa disse que veio em linha tanto a leitura cheia quanto o núcleo e acelerou um pouco quanto ao mês anterior. Ela mantém a expectativa de corte de 0,25 ponto porcentual (pp) na reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de dezembro (17 e 18).

O índice de preços para os gastos pessoais (PCE) subiu 0,2% em outubro em base mensal em linha com as previsões. Na comparação anual, o indicador avançou 2,3% em outubro, depois de +2,1% em setembro, também dentro do esperado.

O núcleo do PCE, que exclui do cálculo os preços de alimentos e energia, subiu 0,3% em termos mensais e cresceu 2,8% em base anual em outubro, ante 0,3% e 2,7% registrados em setembro.

O dólar comercial fechou em alta de 1,81%, cotado a R$ 5,9134. A sessão foi marcada pelo temor do mercado com o pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, hoje, às 20h30, que deve anunciar a isenção do IR para contribuintes com renda até R$ 5 mil.

Na opinião da economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o anúncio prometido para esta noite vai na direção oposta às expectativas que o mercado tem sobre os ajustes fiscais.

“O pacote já está em dúvida há bastante tempo. Um anúncio desses coloca em cheque o que esperar para esta noite”, dispara Quartaroli.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em firme alta, após notícia de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad fará pronunciamento às 20h30 de hoje. As informações dão conta de que deve ser anunciado o tão esperado pacote fiscal, e que o chefe da pasta anunciaria, na mesma ocasião, a isenção do imposto de renda para rendas até R$ 5 mil.

Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,568% de 11,508% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,540%, de 13,270%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,660%, de 13,325%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,570% de 13,270% na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, enquanto os investidores avaliavam novos dados que mostraram pouco progresso da inflação em direção à meta de 2% do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em outubro.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,31%, 44.722,06 pontos
Nasdaq 100: -0,60%, 19.060,5 pontos
S&P 500: -0,38%, 5.998,74 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News