Bolsa fecha em queda de 2,06% e dólar em alta com temor de recessão mundial; na semana Ibovespa acumula ganho de 2,23%

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A Bolsa fecha em queda de 2,06% com o temor de recessão econômica mundial e com as empresas ligadas as commodities puxando o índice para baixo, com destaque para Petrobras (PETR3 e PETR4)-perda de 7,06% e 6,26%-, impactada pela queda do petróleo no mercado internacional.

A Vale (VALE3), ação de maior peso no índice também foi pressionada, caiu 2,07%. Em uma semana tensa, em que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) decidiu em elevar os juros em 0,75 ponto percentual (pp) e manter o ritmo de alta por um período mais longo e, em contrapartida o Comitê de Política Monetária (Copom) não mexer nos juros, o Ibovespa teve um bom desempenho e encerrou a semana valorizado em 2,23%.

O principal índice da B3 caiu 2,06%, aos 111.716,00 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 1,98%, aos 112.390 pontos. O giro financeiro foi de R$ 37,4 bilhões. Em Nova York, os índices registraram queda.

Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, disse que essa semana foi agitada como a passada e apesar da queda de hoje o Ibovespa “tem uma outperformance [desempenho] relevante e isso é atribuído ao fato de estarmos no final do ciclo de alta. É claro que quando os juros começam a fechar acaba refletindo na performance da Bolsa”.

Rafael Weber, responsável pela renda variável da RJI Corretora, disse a Bolsa cai com a desaceleração da economia global e commodities. “O pano de fundo é a possibilidade de os Estados Unidos entrar em recessão, situação difícil na Europa e China que não consegue ter uma dinâmica melhor de crescimento. Como as commodities tendem a sofrer com o esse cenário e a nossa Bolsa é muito commodity, [commodities] carregam o Ibovespa pra baixo”.

Weber chama atenção para os papéis do ciclo doméstico que “estão performando bem com a sinalização de final de ciclo de alta dos juros. A gente acredita em uma recuperação boa, após a forte queda no ano passado”.

Fabricio Gonçalvez, CEO da Asset Management, disse que o dia é de correção na esteira internacional “com o temor de recessão global após a elevação de juros nos Estados Unidos, na quarta-feira, e o mundo fica de olho no freio da economia norte-americana que atinge os mercados emergentes, os dados fracos da Europa também ajudaram nesse movimento ruim”.

Mais cedo, Um analista do mercado que não quis se identificar disse que a Bolsa deve abrir “em queda mediante o pessimismo no exterior mediante uma cesta de notícias desfavoráveis com a preocupação em relação à economia norte-americana, inflação na Europa, revisão pior para crescimento da China, ameaças de Putin [presidente da Rússia] e pressionada por Vale que deve acompanhar seus pares em Londres e Petrobras com queda do petróleo”.

O dólar comercial fechou em alta de 2,64%, cotado a R$ 5,2480. A moeda norte-americana refletiu a possibilidade cada vez mais próxima de uma recessão mundial, encabeçada por Europa e Estados Unidos, e gerou um fortíssimo cenário de aversão ao risco. Na semana, o dólar teve desvalorização de 0,23%.

De acordo com o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “o que assusta foi o oba-oba de ontem. Hoje reflete o mau humor externo com a situação dos Estado Unidos e Europa. É um movimento de correção risk-off (aversão ao risco) total”.

“Ainda podemos ter bastante emoção na próxima semana, principalmente se o mercado estiver muito otimista. Os números a ser divulgados pelo Banco Central (BC) podem dar um choque de realidade”, diz Leal, referindo-se ao Relatório trimestral de inflação, que será divulgado na próxima quinta (29).

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “por mais que os dados tenham sido positivos, acima da expectativa do mercado, isso pode dificultar um pouco a missão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de controlar a inflação. É inevitável que a gente tenha uma recessão nos Estados Unidos”.

Komura refere-se aos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), de setembro, que foram de 49,2 pontos (Serviços) e de 51,8 pontos (Indústria), ambos acima das expectativas de 45,3 pontos e 51,2 pontos, respectivamente.

“Além da política monetária cada vez mais restritivas dos bancos centrais, em especial o da Inglaterra, os PMI vieram muito ruins e devem fortalecer o dólar”, analisa Komura.

A estrategista de câmbio e economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, entende que não havia sentido na queda do dólar nos últimos dias, e que o comportamento observado hoje é mais condizente com a realidade global.

O PMI industrial e de serviços da zona do euro foram 48,5 pontos e 48,9 pontos, respectivamente. Alemanha (45,4 pontos em serviços e 48,3 pontos na indústria) e Reino Unido (48,5 pontos na indústria e 49,2 pontos em serviços) também demonstraram fraco desempenho. Abaixo de 50 pontos, o indicador aponta para atividade econômica menos aquecida.

Apesar da boa performance durante a semana, Komura entende que o movimento de aversão global ao risco, observado hoje com mais intensidade, inevitavelmente irá afetar o real.

Assim como o câmbio, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta sexta-feira (23), com mercado seguindo mau humor externo. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,680% de 13,675% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,825%, de 12,785%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,625%, de 11,485% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,410% de 11,190%, na mesma comparação.

No mercado internacional, os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, encerrando a semana com fortes perdas e o Dow Jones atingindo seu menor valor em 2022, à medida que Wall Street digere a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de dar continuidade a sua política de aperto monetário para combater a inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,62%, 29.590,41 pontos
Nasdaq 100: -1,80%, 10.867,9 pontos
S&P 500: -1,72%, 3.693,23 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA