Bolsa fecha em queda de 1,81% com receio à inflação global; dólar sobe

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Foto: Myles Davidson / freeimages.com

São Paulo- A Bolsa fechou em queda de 1,81%, aos 104.403,66, perto da mínima do dia-104.112,61 pontos-, descolada do exterior e com os investidores preocupados com a inflação global e um possível aumento nos juros nos Estados Unidos antes do esperado pelo mercado devido à fala mais dura de um integrante do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) sobre a política monetária do país.

Por aqui, os dados do índice de atividade econômica (IBC-Br)-contraíram 0,14% no 3º trimestre-, conhecido como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), também ganharam atenção os investidores com receio de uma recessão técnica.

Os papéis do setor do varejo tiveram impacto negativo na Bolsa também devido ao receio à inflação. A PEC dos precatórios, que deve ser votada na semana que vem no Senado, esteve no radar dos investidores.

Rafael Passos, analista da Ajax Capital, disse que “os dados de vendas no varejo nos EUA-subiram 1,7% na comparação mensal- e a fala de membro do Fed reforçam o discurso de uma inflação global mais latente e preocupam os investidores. O pano de fundo é um aperto monetário mais rápido nas taxas de juros por conta da inflação”.

José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, afirmou que as empresas de varejo “estão apanhando e os investidores esperam pela aprovação dos R$ 400 do Auxílio Brasil para alavancar as vendas para um fim do ano melhor.” As ações da Magazine Luiza (MGLU3) tiveram mais um dia de forte queda de 12,64%, a maior baixa do índice. Na sexta-feira, os papéis da varejista despencaram 18,31%.

Luiz Henrique Wickert, analista sênior da plataforma sim;paul, afirmou que esse mau humor vem do exterior com temor do aumento de juros nos Estados Unidos, após a fala do dirigente do Fed, James Bullard, de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) deve agir mais rápido sobre a taxa de juros e o receio à inflação. “Bullard disse que o Fed vai ter de se mexer mais cedo, o que acabou causando estresse em ativos de mercados emergentes. A nossa Bolsa piorou bastante”.

Wickert ressaltou que a piora na Bolsa não tem relação com o mercado local. “O IBC-Br veio dentro do esperado e o reajuste que o Bolsonaro quer dar aos policiais já estava dentro do valor que ultrapassou o teto de gastos”. No fim de semana prolongado, em viagem a Dubai, o presidente disse que queria destinar parte dos recursos liberados da PEC dos precatórios para reajustar salários de servidores públicos, como os policiais.

Leonardo de Santana, analista da Top Gain, tem outra visão. Para ele, não há nenhuma notícia de impacto, mas o resultado do IBC-Br embora melhor que o esperado pelo mercado, “deu uma desanimada para a projeção para o PIB podendo indicar recessão”.

A Vale (VALE3), que tem forte peso no índice, perdeu 2,88% devido à contração do minério de ferro-0,50%-

Santana ressaltou que o mercado está tentando precificar 2022 com as eleições à frente. “Estamos com uma incógnita de como será 2022 após as falas do CEO do Itaú de que teremos dificuldades no ano que vem e, por outro lado do presidente do Bradesco afirmando que será um ano melhor”.

O dólar comercial fechou em R$ 5,4990, com alta de 0,75%. Isso se deve aos resultados positivos da economia norte-americana – a Produção Industrial cresceu 1,6% em outubro ante setembro e as Vendas no varejo cresceram 1,7% no mesmo período – e às indefinições sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios.

Para o economista da Nova Futura Investimentos, Mateus Jaconeli, “os dados dos Estados Unidos mostram o avanço da atividade econômica por lá”.

“O mercado acredita que que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda está sendo complacente com a inflação, e existem membros da instituição que acreditam que a retirada de estímulos pode ser acelerada”, pontua Jaconeli.

Esta diminuição da injeção de liquidez na economia, ressalta Jaconeli, é ruim para os emergentes: “Existe um movimento de busca por moedas mais desenvolvidas, que ofereçam menos riscos. O dólar também está ganhando do DXY (cestas de moedas desenvolvidas, que inclui, entre outras, euro e libra esterlina)”, analisa.

Já no âmbito fiscal, a situação continua incerta: “Existe um ruído em relação à PEC, com incertezas sobre a votação”, observa Jaconeli. Ele ainda diz que “enquanto há neblina fiscal, o dólar continua forte”.

De acordo com o analista de risco da Ajax Capital, Rafael Passos, “o movimento desta manhã reflete os dados dos Estados Unidos, que veio acima das expectativas. Estes dados reforçam o viés inflacionário mais forte no exterior”.

Passos, porém, considera que a PEC dos Precatórios “deve continuar no radar”, assim como o “front político”. A partir da próxima semana, o tema deve começar a ser votado no Senado, porém o assunto já fervilha nos bastidores.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após o IBC-BR, a prévia do PIB, indicar recessão técnica.

O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,524% de 8,472% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,990%, de 11,965%; o DI para janeiro de 2025 ia a 11,830%, de 11,740% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,660% de 11,640%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo depois de dados melhores do que o esperado e balanços de empresas do setor de varejo.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,15%, 36.142,22 pontos
Nasdaq Composto: +0,76%, 15.973,9 pontos
S&P 500: +0,38%, 4.700,90 pontos