Bolsa fecha em queda com avanço do conflito com Ucrânia; dólar sobe

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo  – A Bolsa fechou em queda em dia de aversão ao risco global, mas com um recuo menor se comparado às bolsas no exterior por conta do avanço do conflito na Ucrânia devido ao ataque à usina nuclear de Zaporizhzia, a maior da Europa. Está prevista para este fim de semana a terceira rodada de negociação entre representantes da Rússia e Ucrânia para um cessar-fogo. Na semana, a Bolsa fechou em alta de 1,17%. 
Com esse cenário de crise, o petróleo tipo Brent, referência para a Petrobras, avançou mais de 7%. Na B3, as ações ligadas à commodity fecharam mistas. O destaque positivo ficou para a Vale e o setor de mineração. As ações da Vale (VALE3) e CSN Mineração (CMIN3) avançaram 2,27% e 1,65% 
O principal índice da B3 caiu 0,60%, aos 114.473,78 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 0,80%, aos 115.665 pontos. O giro financeiro foi de R$  27,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no negativo. 
Romero Oliveira, especialista em renda variável da Valor Investimentos, disse que o mau humor na sessão de hoje é atribuído à guerra no leste europeu. “O mercado continua em modo de atenção total com os desdobramentos do conflito entre Rússia e Ucrânia visto que não há muita visibilidade até onde isso pode escalar”. 
Oliveira afirmou que as commodities estão valorizadas nas últimas semanas e, de alguma forma, o Ibovespa se beneficia, mas por outro lado “essa apreciação das commodities reflete na curva de juros, que continua subindo, com a perspectiva de uma inflação mais alta global”. 
Victor Miranda, sócio da One Investimentos, comentou com a sessão mais fraca no exterior por conta do ataque à usina nuclear na Ucrânia pela Rússia também pesa para o Brasil. “Os ativos de tecnologia com valution mais elevado e small caps estão sofrendo forte”. 
Com essa conjuntura de guerra, as commodities seguem performando muito bem com oportunidade para o setor de minério, açúcar, etanol e grãos. “A SLC Agrícola (SLCE3)- empresa produtora de soja, milho e algodão- segue se beneficiando com esse cenário, já subiu mais de 10% desde o dia da invasão”. A Ucrânia e Rússia somam juntas quase 30% da exportação global do trigo e também são relevantes para a venda externa de milho. As ações da SLC Agrícola avançaram 1,51%. 
Segundo Miranda, o resultado do payroll mais forte-abertura de 678 mil vagas – “não será efeito no encontro de março do Fed [Federal Reserve, banco central norte-americano] porque quebra um pouco a confiança [do mercado] o Powell [presidente do Fed, Jerome Powell] chamar um aumento de 0,25 ponto porcentual (pp) na taxa de juros dos EUA e fazer de 0,50 pp”. Jerome Powell disse na quarta-feira que seria apropriado o colegiado aumentar em 0,25 pp a taxa de juros do país na reunião deste mês. 
O dólar comercial fechou em alta de 0,99%, cotado a R$ 5,0780. A moeda foi fortemente influenciada, durante toda a sessão, pela escalada do conflito na Ucrânia, e o consequente aumento da aversão global ao risco. 
Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “mesmo com a intensificação do conflito, conseguimos nos beneficiar com o fluxo para o Brasil. Nossos juros ainda são convidativos”. 
Abdelmalack, porém, observa que as dúvidas não se dissipam: “Vemos um aumento da demanda por títulos norte-americanos, colocando mais incertezas sobre quanto tempo isso pode durar. O otimismo diminuiu com a falta de avanços das negociações diplomáticas”, aponta. 
Para o sócio proprietário da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o payroll (um dos principais indicadores de emprego nos Estados Unidos) não foi bom para a gente, mas o temor hoje é geopolítico, com o risco de um ataque nuclear, o que pode afetar toda a Europa. Existe forte aversão ao risco”. 
Nagem acredita que, apesar da tensão internacional, o fluxo estrangeiro ainda é forte: “O mercado ainda está inundado de moeda, com a perspectiva de entrada de mais capital nos próximos dias”, salienta. 
De acordo com o boletim da Ajax Capital, a “escalada da guerra na Ucrânia impacta negativamente nos preços dos ativos de risco. Espera-se uma abertura mais negativa para bolsa local, com alta dos depósitos interfinanceiros e dólar. 
“Os dados de trabalho mais aquecido que o esperado deve reforçar a visão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de um mercado de trabalho ainda mais apertado, em linha com as recentes declarações de aceleração do processo de ajuste monetário e discussões sobre o ritmo de redução de seu balanço”, analisa a Ajax. 
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após payroll (dados de emprego nos EUA) acima das expectativas. 
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,975% de 12,790% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 12,600%, de 12,390%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,000%, de 11,750% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,710% de 11,500%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em alta, cotado a R$ 5,0750 para venda. 
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda com os desdobramentos do conflito Rússia-Ucrânia durante toda a semana trazendo ares de pessimismo aos investidores, mesmo após os dados positivos no front econômico norte-americano.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
                Dow Jones: -0,53%, 33.614,80 pontos
                Nasdaq 100: -1,66%, 13.313,0 pontos
                S&P 500: -0,79%, 4.328,87 pontos