Bolsa fecha em queda com atenção ao crescimento global e juros; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda pelo segundo dia seguido e aos 106.638,64 pontos, patamar atingindo em meados de janeiro, descolada das bolsas norte-americanas e com os investidores preocupados com aumento de juros nos Estados Unidos, alta da inflação e menor crescimento global.

Outro fator de atenção é a China, segunda maior economia do mundo e importante parceiro comercial do Brasil, com os números da atividade econômica mostrando um arrefecimento diante do cenário de lockdowns. As commodities sofreram em mais uma sessão diante de ambiente desfavorável.

O principal índice da B3 caiu 1,14%, aos 106.638,64 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdeu 0,89%, aos 107.965 pontos. O giro financeiro foi de R$ 28,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta

Ubirajara Silva, gestor de renda variável da Galapagos Capital, disse que a bolsa ainda reflete o mau humor de sexta-feira e esse movimento de aversão ao risco “vem com a preocupação do mercado com o crescimento global, alta da inflação e aumento dos juros nos Estados Unidos em 0,50 ponto porcentual (pp), na quarta-feira (4)”.

O gestor de renda variável da Galapagos Capital também comentou que outros fatores que impactam a Bolsa são “a queda das commodities refletindo a preocupação com o crescimento global e a abertura de juros dos T-10 também pressiona o Ibovespa e as bolsas lá fora, fazendo com que os investidores saiam dos ativos de risco”.

Os setores da economia doméstica e varejo acabam sofrendo com a abertura de juros aqui no Brasil. E o setor elétrico, que vinha performando bem nas últimas semanas, estão pressionados na sessão de hoje com declarações contrárias a privatização da Eletrobras, disse.

Silva destacou que é muito importante acompanhar as decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos esta semana para “definir o rumo da Bolsa”.

Vinicius Augusto dos Santos, assessor de investimentos da SVN Investimentos, comentou que “o temor de uma recessão na China diante dos dados econômicos da China, vieram abaixo das expectativas preocupam os investidores e como o Brasil é forte em commodities, somos impactados”.

Santos também enfatizou que a “preocupação com a recessão global e, principalmente nos Estados Unidos, também deixa o investidor atento”. E as atenções estão voltadas para as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na quarta-feira (4). Mas o assessor de investimentos da SVN Investimentos disse que “volatilidade é que dita o ritmo dos negócios”.

Segundo José Costa Gonçalves, analista da Codepe Corretora, os investidores estão preocupados com China. “Existe uma atenção com os lockdowns no país asiático, se essas medidas de restrições vão seguir e o qual será o impacto na economia [hoje dados econômicos já mostraram desaceleração]. Com o feriado na China e no Reino Unido, a Bolsa fica sem referência, uma vez que a nossa Bolsa tem grande concentração de empresas exportadores de commodities”. O Ibovespa acompanha as empresas ligadas às commodities que operam no mercado londrino.

O dólar comercial fechou em alta de 2,60%, cotado a R$ 5,0720. O ambiente durante toda a sessão foi de forte aversão ao risco, impulsionado pelas expectativas para a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), nesta semana, e pela desaceleração da economia chinesa.

Segundo o sócio e fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “este cenário se deve ao aumento dos juros nos Estados Unidos, o que começa a dificultar a saída de moeda de lá. Isso pode gerar, em breve, uma fuga de capital da bolsa brasileira”.

Nagem acredita que isso demonstra uma crise nos Estados Unidos, além de uma inflação global: “Começa a se desenhar um quadro de estagflação global. É muito difícil segurar a inflação com este valor atual do petróleo”, avalia.

De acordo com o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o foco hoje está nas reuniões do Fomc e Comitê de Política Monetária (Copom). A expectativa é por um Fomc mais duro e se o Banco Central (BC) vai deixar, em aberto, um espaço para novos aumentos na Selic (taxa básica de juros). O comunicado sobre o que vai acontecer é muito mais importante do que a decisão em si”.

Por outro lado, a China não consegue dissipar as dúvidas sobre sua eventual retomada econômica: “Os estímulos, até agora, não conseguiram melhorar a economia, com a meta de crescimento para 2022, que é no mínimo 5,5%, cada vez mais longe de ser atingida”, avalia Komura.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “a sessão é negativa para os ativos de risco globais, exceto nos Estados Unidos. Os ganhos globais do dólar levam à correção das commodities”.

Os feriados na China e Reino Unidos contribuem para uma liquidez menor nesta segunda: “A batalha dos R$5,00 deve continuar, em dia de força global da moeda americana”, analisa Borsoi.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta segunda-feira (2) com temores inflacionários no radar.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,080% de 13,030% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,680%, de 12,580%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,165%, de 12,030% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,985% de 11,830%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em alta numa sessão de alta volatilidade, após o S&P chegar a registrar a pior pontuação em 2022, motivado sobretudo por receios com a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na reunião desta semana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,26%, 33.061,50 pontos
Nasdaq 100: +1,63%, 12.536,0 pontos
S&P 500: +0,56%, 4.155,38 pontos