Bolsa fecha em queda com alta de juros nos EUA e risco fiscal local; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda, pelo segundo dia consecutivo, e na faixa dos 103 mil pontos com os investidores preocupados com os juros dos títulos do Tesouro norte-americano de dez anos-que subiram de 1,635% para 1,667%- e com os temores em relação ao quadro fiscal por aqui em um ano de eleições.
O principal índice da B3 caiu 0,39%, aos 103.513,64 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu 0,45%, aos 104.270 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,9 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.
Alexsandro Nishimura, head de conteúdo e sócio da BRA, comentou que o cenário fiscal “continua pesando por aqui, após novas reivindicações de servidores públicos por aumento de salário, além de uma sugestão de mudanças no teto de gastos feita por Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, ajudando a pressionar os juros”. A alta dos títulos norte-americanos também fica no radar do mercado.
A elevação na curva de juros por aqui também pressionou a maioria das ações do varejo, de tecnologia e as construtoras, que são setores muito sensíveis às taxas principalmente pelo encarecimento do financiamento. O destaque positivo fica por conta da CSN Mineração (CMIN3) avançou 7,09%. Os bancos subiram em bloco e as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) valorizaram 1,26% e 0,37%, nessa ordem.
Mais cedo, com a divulgação de indicadores econômicos dos Estados Unidos, o Ibovespa chegou a elevar um pouco o índice, mas logo passou a cair.
O relatório Jolts, reflete a saúde do mercado de trabalho norte-americano, mostrou abertura de 10,562 milhões em novembro ante 11,091 milhões no mês anterior. O Indice ISM de atividade industrial de caiu para 58,7 pontos em dezembro na comparação mensal; o mercado estimava retração de 60,5 pontos.
José Costa Gonçalves, analista das Codepe Corretora, comentou que os dados econômicos dos Estados Unidos divulgados mais cedo “deram um bom sinal para que o Fed não aumente os juros do país [previsto para acontecer no primeiro semestre, de acordo com o mercado]. O temor global é em relação à elevação da taxa básica de juros por lá e o presidente Joe Biden preocupado com a inflação já está interferindo no mercado de carnes”.
O presidente dos Estados Unidos anunciou na véspera que quer dar mais incentivos às pequenas processadoras de carne para aumentar a concorrência do setor.
O dólar comercial fechou em alta de 0,47%, cotado a R$ 5,6890. Com alta volatilidade, a moeda norte-americana foi pressionada durante todo o dia pela expectativa do aumento das taxas de juros nos Estados Unidos ainda este trimestre e, em segundo plano, pelo avanço exponencial da Ômicron nos Estados Unidos e Europa.
Segundo o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “dependendo de como for o aumento dos juros nos Estados Unidos, isso pode prejudicar o Brasil, retendo investimentos”. Para ele, não existe perspectiva, em curto prazo, deste cenário mudar.
Nagem ainda acredita que uma nova onda de Covid poderia ser letal à economia brasileira: “Não temos fôlego para um novo lockdown, todos os recursos já foram gastos de maneira equivocada”, pontua.
De acordo com o economista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “existe uma continuidade do movimento de valorização das taxas dos títulos norte-americanos”.
Rostagno salienta que a possibilidade de antecipação do aumento dos juros americanos desvaloriza não apenas o real, mas as emergentes de modo geral: “O mercado acredita que existe 66% de chances de aumento dos juros já em março, totalizando quatro altas, diferente das três previstas inicialmente”, pontua.
Além disso, Rostagno acredita que o governo norte-americano não irá adotar restrições para a variante Ômicron, apesar deu seu rápido crescimento. Isso, observa o economista, ajuda a retomada econômica daquele país.
Para a equipe da Ajax Capital, “no curto prazo, as atenções devem se concentrar nas pressões por maiores gastos públicos locais. Há uma forte pressão por reajustes salariais, e a recente disseminação da Ômicron pode também aumentar a pressão por novos auxílios”.
Com a nova cepa disseminada amplamente nos Estados Unidos, Europa e Ásia, a previsão é que o Brasil seja afetado em breve: “Como o ciclo demora de quatro a oito semanas para atingir o Brasil, podemos estar diante de uma ‘nova onda’ local. Não se descarta novas medidas de contenção nas próximas semanas”, projeta a Ajax, que destaca que esta incerteza pode afetar o câmbio.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta com riscos fiscais decorrentes da Ômicron.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,040% de 11,820% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa 11,470, de 11,135%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,175%, de 10,810% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,115% de 10,825%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,6860 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, à medida que iniciou-se uma fuga de investimentos do setor de tecnologia. O medo de que o aumento das taxas de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em reação à pressão inflacionária no país provocou a aversão ao setor.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,59%, 36.799,45 pontos
Nasdaq Composto: -1,33%, 15.622,7 pontos
S&P 500: -0,06%, 4.793,54 pontos