Bolsa fecha em queda acima de 2% puxada por cenário político

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo – A Bolsa acelerou mais a queda perto do fechamento e encerrou em baixa de 2,27%, aos 116.677,08 pontos, por conta da decepção e surpresa dos investidores com a votação a reforma tributária do Imposto de Renda (IR) realizada ontem na Câmara e finalizada hoje com a votação de destaques. O mercado entende que o texto é populista.
Somado a isso, a minirreforma trabalhista negada pelos senadores em uma derrota para o governo e o dado fraco da produção industrial contribuíram para a queda.
Os deputados aprovaram, nesta tarde, o destaque do texto-base da reforma tributária que reduz a taxação dos lucros e dividendos de 20% para 15%. A proposta ainda segue para o Senado.
Para Flávio Aragão, sócio da 051 Capital, a Bolsa está sendo muito impactada com a reforma tributária que desagradou o mercado, apesar do exterior apresentar mais tranquilidade. “O que acabou pesando foi a reforma tributária que veio acelerada e confusa”.
Aragão ressaltou que outros fatores de estresse são a crise hídrica e o evento de 7 de setembro. “Há especialistas dizendo que a situação pode piorar e se piora impacta muito o mercado, além disso, os investidores estão comprando a tese do 7 de setembro e vemos as taxas de juros subirem”. O dado fraco da produção industrial também preocupa. “Fica a dúvida se é a falta de componentes para a indústria ou uma desaceleração geral na economia; não tem notícia para alegrar o mercado”.
Para o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, os investidores não gostaram da aprovação do IR com a vitória do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “O mercado foi pego de surpresa e os bancos devem ser os mais impactados”. Após as altas dos últimos dias, os bancos apresentam queda expressiva.
Para Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos, vários fatores internos desfavoráveis contribuem para essa queda no índice, hoje particularmente, reforma da Imposto de Renda, rejeições da minirreforma trabalhista e a questão que envolve os planos de saúde. “Acredito que pesa o teto de gastos dos planos de saúde e coloca uma incerteza muito grande na condução das estatais e vemos aversão a risco nos ativos da Petrobras e Banco do Brasil”.
Bertotti salientou que “enfrentamos um cenário complexo no Brasil com ruídos políticos que começaram a pesar mais,  toda a agenda reformista do governo perdeu cada vez mais força, preocupação com a inflação, expectativa de PIB vem caindo, redução das expectativas de investimentos e crise hídrica”.
Bertotti comentou que parte da queda dos bancos vem da  taxação dos dividendos, mas “principalmente da aprovação de um imposto menor para Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). As instituições financeiras têm um peso relevante no índice e fazem correção em bloco”.
Por outro lado, o economista-chefe da Messem Investimentos ressaltou que o fluxo estrangeiro foi positivo na Bolsa, de R$ 7,3 bilhões. “O estrangeiro está vendo que o Brasil ainda é um mercado promissor e atrativo, apesar do cenário conturbado por aqui”. Existem muitos ativos baratos, com defasagem grande e troca de posições.
Segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial  caiu 1,3% em julho em comparação com junho, ficando abaixo do esperado. Os analistas previam recuo de 0,78%, segundo estimativas coletadas pelo Termômetro CMA.
O dólar fechou o dia estável, cotado a R$ 5,1820. As incertezas fiscais e políticas que continuam rondando o espectro doméstico, além da divulgação do payroll (principal índice que mede o desempenho do mercado de trabalho), que acontece amanhã nos Estados Unidos, refletiram diretamente no câmbio.
Para o analista de riscos da Ajax Capital, Rafael Passos, “o dólar está indo na contramão do mercado, em um dia de desvalorização global da moeda norte-americana frente, principalmente, às emergentes”.
Passos é enfático quanto à tensão doméstica: “Ontem o afastamento entre os três poderes ficou claro com o Senado barrando a minirreforma trabalhista. Além disso, o mercado está apreensivo com os ruídos políticos, inflação, precatórios e curvas de juros”, pontua. Na sua visão, caso o mercado trabalhe com a Selic (taxa básica de juros) mais alta, “o dólar tende a se acomodar”.
Segundo o especialista de investimentos da Toro, Helder Wakabayashi, “o ponto principal do câmbio de hoje é a espera pelo payroll. O dólar vai trabalhar contido, não creio em variações”. Ele crê em um dólar “travado”.
Segundo o economista da Aware Investments, Aldo Filho, “o Jerome Powell (presidente do Federal Reserve – Fed, o banco central norte-americano) não deixou claro quando começa o tapering (remoção de estímulos). Eu acredito que seja em dezembro”. E complementa: “O mercado está menos temerário com a inflação nos Estado Unidos. Creio em um cenário otimista global no último trimestre deste ano”.
Já no cenário doméstico, Filho vê com bons olhos a aprovação do novo imposto de renda: “Acho que seria uma vitória do governo, estou otimista”, pontua. Ele ainda acredita que o dólar comercial deve terminar o ano em um patamar entre R$ 5 e R$ 5,20.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta com os investidores repercutindo o resultado das votações ocorridas ontem no Congresso, que evidenciam o enfraquecimento do governo entre os deputados e senadores, e os dados ruins sobre a atividade econômica no Brasil. No entanto, o leilão de títulos públicos realizado no fim da manhã limitou a pressão sobre a curva a termo. A alta foi mais perceptível nos vencimentos longos, mas o movimento intensificou-se nos minutos finais de sessão, fazendo com que a curva incorporasse mais prêmio também nos vértices mais curtos.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,86, de 6,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,665%, de 8,585%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,78%, de 9,63% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,20%, de 10,02%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano encerraram o dia em alta, com o S&P 500 e Nasdaq renovando máximas no fechamento, embalados pelos números de pedidos de seguro-desemprego, que atingiram o menor nível desde o início da pandemia de covid-19 e reforçaram a expectativa de um forte relatório de emprego – o chamado payroll – previsto para amanhã.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,37%, 35.443,82 pontos
Nasdaq Composto: +0,14%, 15.331,20 pontos
S&P 500: +0,28%, 4.536,95 pontos