Bolsa fecha em queda, abaixo dos 100 mil pontos e com liquidez reduzida; dólar cai mais de 1%

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo- A Bolsa fechou em queda, abaixo dos 100 mil pontos, em um pregão de liquidez bem reduzida e puxada pelo mau desempenho do setor financeiro e commodities, que nos últimos dois dias ampararam o Ibovespa.

Por aqui, os riscos fiscais preocupam os investidores com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos auxílios sociais, ademais do cenário externo com inflação alta e possível recessão global.

A Vale (VALE3) caiu 0,83%; Bradesco (BBDC3 e BBDC4) perdia 1,47% e 1,73% e Itaú (ITUB4) baixou 1,02%.

O principal índice da B3 caiu 0,96%, aos 99.621,58 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto registrava perdeu de 1,16%, aos 100.910 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Victor Paganini, analista CNPI Quantzed, disse que “a incerteza fiscal no Brasil e o cenário de recessão global colaboraram para a Bolsa performar de forma negativa”.

Para Paganini, a fala de Powell com um tom mais calmo, mais cedo, tranquilizou o mercado porque “avaliou que a conjuntura atual é desafiadora, mas que a economia está bem posicionada para enfrentar o que vem pela frente em termos de inflação”.

Um outro analista de uma grande gestora de investimentos afirmou que a Bolsa “está com baixíssima liquidez para uma sessão normal e quem precisa vender deve estar sofrendo; os bancos estão com desempenho ruim devido ao temor da inadimplência”.

Gustavo Bocuzzi, head de renda variável da Ethimos, comentou que o investidor fica cauteloso diante do cenário global de inflação e a perspectiva de manutenção do ritmo de alta de juros e aqui os gastos acima do teto também impõem atenção do mercado.

“Apesar de o IGP-M ter vindo abaixo do esperado-subiu 0,59% em junho, dando uma folga, a gente tem o nervosismo por conta da PEC dos Combustíveis que piora a perspectiva do risco fiscal e, também, tem a intenção do governo de aumentar os gastos sociais além do teto que pode ser tornar permanente, piorando ainda mais o fiscal”.

Mas Bocuzzi ressaltou que a volatilidade vista nas sessões recentes se deve ao fato da Bolsa está bem barata, “o que acaba ficando a dicotomia; de um lado estão as questões da política, fiscal atrapalhando, inflação, mas quando a gente olha múltiplos, Preço sobre Lucro (PL) e várias métricas estão melhores”.

Um outro analista que não quis se identificar comentou que ademais da apreensão com o cenário externo, “as commodities e o setor financeiro empurram o índice; o mercado está muito sensível”.

O dólar comercial fechou em R$ 5,1900, com queda de 1,46%. Sem um driver específico durante a sessão, a moeda novamente foi beneficiada pela flexibilização do lockdown na China, além da formação Ptax – taxa de referência para operações em moeda estrangeira que são praticadas no Brasil que ocorre amanhã, culminando em um movimento de correção, descolado do exterior.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o real está totalmente descolado do exterior. Hoje somos a melhor moeda de todas, e agora estamos tentando quebrar a barreira dos R$ 5,20”.

Nagem ressalta a importância da Ptax: “Pode ser um preparo para uma Ptax mais baixa amanhã, com a entrega dos balanços semestrais das empresas”, pontua.

De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o Produto Interno Bruto (PIB) americano acelerou o ritmo de queda (do dólar), com a percepção, a curtíssimo prazo, de que os juros não sejam tão elevados”. O PIB dos Estados Unidos do primeiro trimestre de 2022 recuou 1,6% na comparação com o quarto trimestre de 2021.

Vieira entende que a China continua impactando positivamente o real, que é estreitamente ligado às commodities, além de um movimento de ajustes que está sendo observado hoje.

Para o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, “as commodities subindo novamente, com a reabertura da China, podem segurar o real”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam sem direção definida nesta tarde, em dia de muitas falas de bancos centrais pelo mundo e dados de inflação.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,800% de 13,790% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,610% de 13,580%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,905%, de 12,875% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,835% de 12,820%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, apesar de flutuarem entre aumentos e quedas ao longo do dia, em meio ao pessimismo renovado sobre o impacto da inflação nas perspectivas de crescimento na economia dos Estados Unidos.

Os índices se encaminham para encerrar o semestre com o pior desempenho desde a metade de 1970. Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,27%, 31.029,31 pontos
Nasdaq Composto: -0,03%, 11.177,9 pontos
S&P 500: -0,07%, 3.818,83 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA