Bolsa fecha em alta pelo 2º dia seguido com Petrobras e exterior; dólar cai

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São Paulo- A Bolsa fechou em alta pelo segundo dia consecutivo e retomou a marca dos 102 mil pontos puxada pelas ações da Petrobras (PETR3 e PETR4), com peso relevante no índice, em dia de anúncio de pagamentos de dividendos aos acionistas e de resultado, após o encerramento dos negócios.

Outro fator que contribuiu para o bom humor foi a alta dos índices em Nova York e os investidores ficam com expectativa para a safra de balanços. Além da Petrobras, sai o resultado da Vale (VALE3), peso-pesado do Ibovespa.

No pregão de hoje, as ações da Petrobras subiram fortemente refletindo o pagamento de dividendos de R$ 6,732003 por ação preferencial e ordinária em circulação em duas parcelas, no valor total de R$ 87,8 bilhões. “O anúncio aumenta as expectativas para o resultado do 2T22, que dará maior noção quanto a margem de manobra a disposta pela companhia ao longo dos próximos meses”, informou em relatório a Ativa Investimentos.

O principal índice da B3 subiu 1,14%, aos 102.596,66 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto subiu 0,84%, aos 103.335 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,5 bilhões. Em NY, os índices fecharam em alta.

Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, disse que a Bolsa sobe puxada pela Petrobras, que anunciou pagamento de dividendos. “Um belíssimo dividendo e as ações da B3 também avançam em um processo de recuperação após fortes quedas. Somado a uma forte criação de emprego divulgada pelo Caged-277,9 mil com carteira assinada- ajuda o índice”.

Petrokas afirmou que mais cedo o PIB dos Estados Unidos veio bem abaixo da expectativa e chegou a provocar queda no mercado de ações [no início dos negócios]. “Esse PIB reforça um eventual risco de recessão na economia americana”.

Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, disse que o mercado ainda está digerindo bem a decisão do Fed da véspera e a economia começa a dar os primeiros sinais de desaceleração, que é todo o objetivo de aperto monetário, mas na sessão de hoje os investidores estão mais cautelosos “segurando posições em caixa esperando uma maior definição e com as expectativas nos resultados corporativos. A maioria dos balanços veio em linha com as empresas conseguindo manter um desempenho saudável sem tanta perda de margem-prevista com a pressão inflacionária”.

Moura afirmou que os investidores estão com foco na divulgação de Petrobras e Vale [será hoje após o fechamento do mercado], que deve mexer com os ânimos e os agentes financeiros também devem ficar atentos à possibilidade de antecipação, por parte da estatal, dos dividendos. “Acredito em bons resultados para Petro e Vale porque tem muita margem de segurança nas duas companhias”.

As ações da Gol (GOLL4) ficaram entre as maiores queda do Ibovespa refletindo o balanço-. registrou prejuízo líquido de R$ 2,8 bilhões no 2T22. Segundo o analista da Finacap Investimentos, “já era esperado esse resultado porque os dois vetores que avaliam o setor é preço do câmbio e do petróleo. Com a commodity em alta pressiona muito a margem e como o leasing da aeronave é em dólar então tem aumento do passivo da empresa quando acontecem os picos de estresse na moeda norte-americana”.

Em relação aos bancos, a preocupação é com a inadimplência. O Santander (SANB11) reportou lucro líquido gerencial de R$ 4,084 bilhões no 2T22, 2,1% inferior ao apontado no mesmo período do ano passado. Os papéis chegaram a cair e passaram a subir.

Mais cedo, Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse não acreditar no otimismo do mercado. “Achamos que a inflação deve manter persistentemente acima da meta porque o mercado de trabalho não dá alívio. Os Estados Unidos entraram em recessão técnica”.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que o PIB nos EUA-caiu 0,9% no 2T22-, em tese traz alguns malefícios, na expectativa de que as empresas tenham algum tipo de queda em suas projeções, mas por outro lado dá espaço para o Fed reduzir o ritmo de alta de juros, melhorar no curto prazo a performance das ações, principalmente as mais sensíveis a juros, e hoje deve dar o tom do mercado”.

Farto lembrou que a próxima reunião do Fed ocorrerá só em setembro, com um grande intervalo, e vários indicadores serão divulgados e em meio ao simpósio de Jackson Hole. “A gente pode estar diante de uma mudança de cenário forte até o final de ano com a leitura de PIB agora e se a inflação se comportar melhor, desacelerar menos, pode reforçar a tese de juros um pouco menos agressivo daqui por diante”.

Uma fonte de uma grande corretora, que não quis se identificar, disse que o resultado do PIB nos Estados Unidos veio ruim, mas enxerga como uma notícia boa “porque mostra que o banco central norte-americano está na estratégia certa para conter a inflação e talvez não precise subir mais os juros em 0,75 pp na próxima reunião. Para o Fed foi um colírio para os olhos”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,164 para venda, com desvalorização de 1,6%. O sentimento de que a política monetária dos Estados Unidos deverá ser mais branda nos próximos meses determinou mais um dia de perdas para a moeda americana na comparação com o real.

A perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) irá adotar uma postura dovish começou a ganhar forma ontem, quando o juro básico subiu 0,75 ponto percentual, dentro do esperado, e após o mercado interpretar as declarações do presidente do banco, Jerome Powell.

Hoje, essa quase certeza dos investidores se consolidou após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre dos Estados Unidos. O PIB apresentou queda de 0,9%, ante projeção de alta de 0,3% do mercado.

Segundo o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, “o resultado do PIB reforça a perspectiva de que os juros não vão subir em uma velocidade extrema. A taxa terminal, contudo, deve ficar no intervalo de 3,75% a 4% no início de 2023”.

Sanchez entende que o mercado readequou a moeda brasileira para um patamar de equilíbrio. “A melhora do real ficou acima dos pares pois estávamos em um patamar mais elevado. A volatilidade a curto prazo, porém, é grande, com drivers como as eleições, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e a guerra na Ucrânia”.

Para o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o real está descolado da bolsa e de seus pares. O fluxo estrangeiro continua intenso”.

Nagem entende que um Fed menos duro é favorável ao real. “O dólar pode encostar em R$ 5,10 até amanhã. Só uma notícia muito ruim muda esta situação”, analisa.

De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o resultado foi péssimo, e mostra uma recessão técnica nos Estados Unidos, com o segundo trimestre seguido de queda”.

Vieira ainda observa que isso fortalece a percepção do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) diminuir o ritmo contracionista, e que, a princípio, é um fator que tende a enfraquecer o dólar.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda após dados do PIB nos EUA indicarem um quadro de recessão técnica.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,830% de 13,890% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,500%, de 13,690%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,840%, de 13,070% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,760% de 12,975%, na mesma comparação.

Os índices de ações dos Estados Unidos fecharam em alta apesar do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos para o segundo trimestre mostrar mais uma contração da economia. Os investidores seguem apostando que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) irá reduzir sua campanha de aperto monetário.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,03%, 32.529,63 pontos
Nasdaq Composto: +1,08%, 12.162,6 pontos
S&P 500: +1,21%, 4.072,43 pontos

 

Com Dylan Della Pasqua, Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA