Bolsa fecha em alta e dólar em queda após discurso de Powell

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São Paulo – A bolsa fechou em alta de 1,64%, na máxima do dia – 120.677,60 pontos -, com os investidores animados seguindo o comportamento das bolsas nos Estados Unidos após o tom mais dovish (menos propenso a um aperto monetário) do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell, no importante simpósio de Jacson Hole.

Somado a isso, as empresas ligadas às commodities, com destaque para Petrobras, tiveram um desempenho favorável no pregão de hoje e encerraram em alta, impactando positivamente o índice.

As ações da petrolífera (PETR3 e PETR4) valorizaram 3,04% e 3,63%, respectivamente. A Vale e siderúrgicas também subiram devido à alta do minério de ferro. Os papéis da Usiminas (USIM5) surpreenderam positivamente por conta do anúncio de um dividendo no valor de mais de R$ 1 por parte da empresa e encerraram com alta de 6,81%.

Cristiane Fensterseifer, analista da Empiricus, disse que Jerome Powell informou que as expectativas de inflação estão em linha com o objetivo do Fed e é provável que algumas forças desinflacionárias mundiais impactem sobre a inflação. “Essa informação fez os mercados reduzirem o medo da inflação e a alta de juros”.

Ela ressaltou que “maioria dos membros da instituição concorda que caso a economia dos Estados Unidos continue evoluindo, é possível antecipar e reduzir as compras de ativos este ano. Na véspera três integrantes do Federal Reserve mencionaram que são favoráveis à redução dos estímulos monetários na economia dos Estados Unidos. Os comentários tiveram impacto negativo no mercado.

A analista da Empiricus destacou a alta do Banco Inter (BIDI 11) por conta da aquisição da Usend, uma fintech norte-americana, com mais de 150 mil clientes. As ações do banco subiram 7,06%.

Para Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, o discurso do Fed “acalmou o mercado, ao sinalizar que o Fed permanecerá paciente enquanto tenta levar a economia de volta ao nível de pleno emprego”.

A economista da Reag Investimentos também afirmou que Powell parece ter convencido os investidores de que “cortar gradativamente as compras mensais de US$ 120 bilhões em títulos não significa que a autoridade monetária elevará os juros antes do esperado”

Aldo Filho, analista da Aware Investments, afirmou que a fala de Powell foi acomodatícia “ao ratificar que não há uma data específica para começar a reduzir o programa de redução de ativos, apesar da progressão da economia norte-americana”.

O analista da Aware Investments ressaltou que as empresas ligadas às commodities, com peso no índice, “sustentam o dia positivo na Bolsa acompanhando o mercado internacional. Em relação ao cenário local, “houve uma certa trégua entre os poderes amenizando o ambiente político interno”.

Pela manhã, foram divulgados os dados de inflação nos Estados Unidos (PCE, sigla em inglês), que são acompanhados com mais atenção pelos membros do Fed.

O índice de preços para os gastos pessoais (PCE) subiu 0,4% em julho ante junho. Na base anual, cresceu 4,2%. O núcleo do PCE, que exclui alimentos e energia, apresentou alta de 0,3% em termos mensais e 3,6% na comparação anual. O índice é usado pelo Fed como referência para inflação.

O dólar comercial fechou em R$ 5,1970, com queda de 1,12%. Tal movimento foi reflexo da fala do presidente do Fed, ainda pela manhã, demonstrando preocupação com a inflação e indicando que a retirada de estímulos à economia deve começar ainda em 2021.

O economista da Nova Futura, Nicolas Borsoi, ressalta o pronunciamento do presidente do Fed: “Foi importante o Powell mostrar que ele é favorável ao tapering (remoção de estímulos), porém ele também se mostrou preocupado com o mercado de trabalho e não sinalizou o aumento dos juros em curto prazo”, analisa.

“Foi uma sinalização dovish (com menos propensão ao aumento de juros), o mercado recebeu isso muito bem”, pontua Borsoi, que também destacou que o cenário doméstico contribuiu com a falta de notícias.

De acordo com a analista de investimentos da Toro, Stefany Oliveira, “o desafio do Fed é retomar o pleno emprego e controlar a inflação. Já é possível enxergar alguma recuperação na economia dos Estados Unidos, mas ainda não atingiu os níveis pré-pandemia”. A analista acredita que isso já possa ocorrer na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em setembro.

Embora os problemas domésticos continuem, com a tensão entre os poderes e o temor pela quebra do teto de gastos, nesta sexta as atenções estão voltadas para os Estados Unidos: “O cenário doméstico, hoje, é coadjuvante”, ressalta Oliveira.

Para o analista de riscos da Ajax Capital, Rafael Passos, “hoje o mercado está mais leve, com viés positivo. É pouco provável que o Jerome Powell sinalize algum tipo de mudança brusca nos incentivos à economia, isso seria uma surpresa”.

Passos acredita que a situação doméstica melhorou: “Vimos a temperatura diminuir, principalmente no campo institucional, mas ainda temos muitos desafios”, pontua.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão de hoje em queda refletindo a fala do presidente do Fed no simpósio de banqueiros centrais de Jackson Hole, e seguem operando em queda.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 apresentava taxa de 6,76%, de 6,775% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,44%, de 8,52%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,35%, de 9,47% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,71%, de 9,84%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, com o S&P 500 acima dos 4.500 pontos pela primeira vez e o Nasdaq em nova máxima, depois que o presidente do Fed disse que pode reduzir as compras de ativos ainda este ano, além de sinalizar que o banco central não terá uma reação exagerada frente a disparada da inflação.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,69%, 35.455,80 pontos

Nasdaq Composto: +1,23%, 15.129,50 pontos

S&P 500: +0,88%, 4.129,37 pontos