Bolsa fecha em alta de 1,14% amparada por mineração e siderurgia; dólar cai 0,82% 

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Gráfico

São Paulo – A Bolsa fechou em alta de mais de 1%, pelo segundo dia consecutivo, sustentada pelo bom desempenho do setor de mineração e siderurgia, com peso importante no índice. Apesar de encerrar o pregão de hoje valorizado, o Ibovespa registrou perda de 2,00% na semana. 
As ações da Vale (VALE3) e Usiminas (USIM5) fecharam em alta de 5,82% e 4,78%. Os papéis da CSN Mineração (CMIN3) e CSN (CSNA3) subiram 2,34% e 4,23%. Os bancos se recuperaram e subiram, já os papeis das varejistas continuaram sofrendo. 
A sessão desta sexta-feira foi marcada por bastante volatilidade com a repercussão dos dados mistos do mercado de trabalho (payroll, sigla em inglês) nos Estados Unidos, principalmente na primeira metade do pregão. 
O principal índice da B3 avançou de 1,14%, aos 102.719,47 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro subiu de 0,86%, aos 103.375 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no negativo. 
Segundo Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, as commodities acabaram favorecendo a alta do Ibovespa na segunda metade do pregão. “As ações da Vale e siderúrgicas estão muito ligadas às questões relacionadas à China. Como o governo chinês ‘virou a chave’ e vai dar incentivos, injetar liquidez na economia, pontos que favorecem o minério de ferro”. 
Quanto ao petróleo, a commodity tem relação com a variante Ômicron. “Há um fluxo de notícias negativas em relação à nova cepa, mas por sua característica -bastante transmissível e não tão letal- na hora de baixar essa disseminação, será rápido e o mercado está tranquilo pela demanda da commodity”, destacou. 
Komura comentou que o resultado do payroll abaixo das expectativas “mostrou a dificuldade de contratar mão de obra e acredita que o Fed não vai mudar sua postura mais dura”. 
Se por um lado o número de vagas de trabalho foi frustrante- 199 mil em dezembro, enquanto o mercado previa a abertura de 450 mil postos – a taxa de desemprego caiu a 3,9% em dezembro e o salário médio por hora trabalhada subiu 0,61% no último mês de 2021 na comparação mensal. 
Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, comentou que os dados do payroll vieram mistos e em um primeiro momento causou um efeito negativo, mas posteriormente a Bolsa reagiu positivamente. “Se os números tivessem vindo como o mercado aguardava, seria a chancela para o Fed cortar os estímulos de forma mais brusca, com esse dado ainda há espaço para a geração de emprego”. 
O head de renda variável acredita em três altas de juros neste ano nos Estados Unidos “Seriam elevações de 0,25 ponto porcentual (pp), iniciando em março e o mercado já está precificando”. Na ata do banco central norte-americano divulgada na quarta-feira (5), os membros sinalizaram que o aperto monetário pode vir antes do esperado e de forma mais rápida. 
Um analista que não quis se identificar disse o que chamou a atenção foi a alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos passaram a subir ao ano (aa) após o payroll. “Se o yield de 10 anos está elevando, significa que os juros nos Estados Unidos vão subir e é ruim para a Bolsa”. Os T-Notes subiram a 1,772% ao ano (aa). 
O analista destacou que o salário da média trabalhada também teve aumento de 0,61% em dezembro na comparação mensal, “o que gera inflação porque as pessoas têm mais poder de compra”. 
O dólar comercial fechou em R$ 5,6320, com queda de 0,82%. A moeda norte-americana ensaiou uma alta após a divulgação dos dados do payroll (um dos principais indicadores de empregos nos Estados Unidos), mas tal tendência não se confirmou e o real passou a se valorizar, tal qual seus pares emergentes. 
De acordo com o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “o payroll foi forte. O mais relevante para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), em termos de riscos de inflação, é o aumento dos salários”. O economista explica que isso aconteceu devido à taxa de participação não aumentar, apesar do incremento nas ofertas de trabalho. Este movimento, portanto, aumenta os salários. 
Leal enxerga uma sintonia entre o real e seus pares: “No câmbio houve um movimento de realização, seguindo, seguindo lá fora o que está acontecendo com os pares emergentes”, pontua. 
Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “se a leitura se concentrar apenas na criação de vagas, o payroll foi decepcionante, mas a taxa de desemprego sugere o pleno emprego, assim como o ganho salarial indica pressão inflacionária”. Esta pressão, no caso norte-americano, é algo positivo, pontua a economista, que ainda acredita que os resultados de hoje não alteram a política do Fed. Mesmo em segundo plano, o cenário fiscal não ajuda a fortalecer o real: “Enquanto a questão da desoneração e dos servidores não for resolvida, dificilmente o câmbio terá um alívio”, analisa Abdelmalack. 
Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, “os mercados devem monitorar os dados de dezembro sobre a criação de postos de trabalho nos Estados Unidos. Estes dados podem oferecer pistas sobre os próximos passos do Fed, e com isso deixar as moedas pressionadas”. 
Apesar da queda de ontem do dólar comercial (0,57%), Consorte acredita que os problemas domésticos não deixaram de rondar o cenário: “Tivemos este ajuste, mas as preocupações com as contas públicas, neste ano eleitoral, continuam no radar”, contextualiza. 
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) de médio e longo prazos fecharam em alta, nesta quinta-feira, mas as de curto prazo registraram leve queda. O movimento dos DIs, segundo especialistas, reflete uma combinação de fatores externos e internos, como os indicadores de empregos nos Estados Unidos e as expectativas em torno das definição da taxa de juros pelo FED, além do risco fiscal no Brasil. 
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 11,950% de 11,970% do ajuste anterior e o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 11,685% de 11,605%. O DI para janeiro de 2025 ia a 11,435% de 11,325% do ajuste anterior e o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 11,310% de 11,215%. No mercado de câmbio o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,6340 para venda. 
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com o Nasdaq caindo mais de 5% no acumulado da semana, na pior semana para o índice desde fevereiro de 2021. 
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento: 
Dow Jones:  -0,01 %, 36.231,66 pontos 
Nasdaq Composto:  -0,96%, 14.935,9 pontos 
S&P 500: 0,40%, 4.677,03 pontos