Bolsa e dólar sobem com recuperação técnica e preocupação fiscal

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São Paulo – O Ibovespa interrompeu uma sequência de três fechamentos em queda hoje e terminou em alta pela primeira vez na semana em um pregão marcado por uma “recuperação técnica” do índice, que avançou de 0,72%, para 119.299,83 pontos.

Nos melhores momentos da sessão, o Ibovespa chegou a testar a faixa dos 120 mil pontos diante do bom desempenho do setor financeiro e da recuperação das ações das empresas de varejo depois da forte queda observada ontem, mas uma virada em Wall Street no início da tarde limitou o avanço.

“A agenda econômica hoje é fraca e as atenções ficam por conta de resultados corporativos”, observou Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, antes da abertura. A tendência, segundo ele, apontava para uma “recuperação técnica” do Ibovespa.

Diante dos persistentes riscos fiscais e políticos locais, o bom humor externo vinha contribuindo para uma recuperação dos preços dos ativos por aqui, mas uma aparente realização de lucros em Wall Street limitou os ganhos em meio a temores relacionados ao desemprego nos Estados Unidos e à reação a balanços aquém das expectativas dos analistas.

Mais cedo, os investidores repercutiram o primeiro contato telefônico entre o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o líder chinês, Xi Jinping. Em uma conversa protocolar, cada um deixou claros seus interesses e suas mensagens e um não aliviou para o outro.

A novidade, porém, é a atenuação do tom hostil de Washington em relação a Pequim, tão comum nos tempos de Donald Trump. Para analistas, a conversa pode marcar a retomada do diálogo entre as duas maiores economias contemporâneas.

Ao mesmo tempo, os balanços corporativos, o avanço da vacinação contra covid-19 nas principais economias do mundo e a liquidez sem precedentes nos mercados financeiros mantiveram o fluxo de compras.

O dólar comercial fechou em alta de 0,26% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3860 para venda, em mais uma sessão de intensa volatilidade com investidores locais calibrando o desempenho positivo das moedas de países emergentes e as incertezas em torno do risco fiscal enquanto se discute a retomada ou não do pagamento do auxílio emergencial.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, reforça a forte volatilidade ao longo da sessão, no qual o pano de fundo foi a “recorrente incerteza” em relação à “dramática” situação fiscal do país.

“Mesmo a despeito dos raros momentos de otimismo, [as incertezas] afugentam os investidores. À tarde, entretanto, a moeda firmou valorização, já no processo de alinhamento por proteção. É certo que qualquer novo pacote de auxílio emergencial precisa ter necessariamente uma contrapartida fiscal, o que significa que um novo imposto está a caminho e a passos largos”, avalia.

A equipe econômica do banco Fator reforça que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, “fez o dia” ao enfatizar a relevância do tema fiscal e da necessidade de contrapartida caso o pagamento do auxílio emergencial seja retomado. Já o presidente Jair Bolsonaro declarou que a volta do benefício pode ser “a partir de março” com pagamento por “três, quatro meses”.

O analista da Toro Investimentos, Lucas Carvalho, acrescenta que “divergências” nas falas de parlamentares e de membros da equipe econômica do governo federal ajudam a sustentar a volatilidade da moeda. Ele reforça que o assunto deverá ser o mote do mercado nas próximas semanas.

Amanhã, porém, ele aposta em um pregão “morno” em meio à menor liquidez sem operações na China e com a cautela local na véspera do feriado prolongado de carnaval na bolsa brasileira (B3), mesmo sem as festividades em razão da pandemia do novo coronavírus.

O destaque na agenda de indicadores fica para o IBC-Br – prévia do Produto Interno Bruto (PIB) – de dezembro. “Se vier fora do esperado, pode dar uma mexida na abertura dos negócios, já que ele traz uma leitura prévia do crescimento econômico”, diz o analista da Toro.

O mercado de juros futuros teve uma sessão volátil e encerrou o dia com leves oscilações, sem um rumo único. As taxas dos DIs oscilaram ao sabor de declarações de autoridades vindas de Brasília, tentando mensurar os riscos fiscais, ao mesmo tempo em que digeriram mais um indicador fraco sobre a atividade doméstica, calibrando as expectativas sobre o rumo da Selic. O leilão do Tesouro também influenciou os negócios.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,34%, de 3,36% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,875%, de 4,86% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,43%, de 6,39%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,12%, de 7,09%, na mesma comparação.

O S&P 500 e o Nasdaq terminaram o dia em níveis recordes, impulsionados pela compra de ações de tecnologia, enquanto o Dow Jones fechou em queda, após renovar máxima intradiária, limitado por uma retração nos setores de consumo e energia.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,02%, 31.430,70 pontos

Nasdaq Composto: +0,38%, 14.025,80 pontos

S&P 500: +0,16%, 3.916,38 pontos