Bolsa e dólar sobem com PEC Emergencial e aumento de imposto

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São Paulo – Após iniciar e passar por toda a manhã de hoje em queda, o Ibovespa virou e encerrou em alta de 1,09% aos 111.539,80 pontos, acompanhando os desdobramentos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial com um texto bem similar ao que vinha propondo o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O motivo da queda foi o aumento na cobrança de imposto para o setr4o financeiros, no caso o Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), com a intenção de zerar os tributos sobre o óleo diesel, nos meses de março e abril, e o gás de cozinha, por tempo indeterminado. Essa medida foi anunciada ontem e pegou em cheio as ações do setor na Bolsa brasileira.

Já o lado positivo do dia, a PEC emergencial foi lida com muito otimismo pelos investidores. “Saíram alguns pontos da PEC Emergencial e mercado ficou muito volátil. Me parece que a PEC Emergencial pode ser definida nas condições que Paulo Guedes sugeriu, mercado gostou deste cenário”, explicou Régis Chinchila, analista de investimentos da Terra Investimentos.

Para um analista de renda variável de uma grande corretora, ainda é cedo para comemorar qualquer coisa sobre a PEC Emergencial. “O texto ainda deve sofrer muitas mudanças. É importante o governo demonstrar boa relação com a política para que o texto tenha poucas alterações, mas a ideia inicial do Guedes foi colocada lá”, afirmou o analista.

O dólar comercial fechou em alta de 1,19% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6670 para venda, no maior valor de fechamento desde 3 de novembro do ano passado, em sessão de forte oscilação com a moeda estrangeira chegando a operar a R$ 5,73 reagindo à medida do governo de Jair Bolsonaro em isentar o óleo diesel e o gás de cozinha (GLP) de impostos federais. O governo também editou uma medida provisória que eleva a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) aplicada às instituições financeiras, no qual o maior aumento recaiu sobre os bancos.

“Bolsonaro mandou trocar o Pis/Cofins sobre combustíveis por mais alíquota na CSLL dos bancos para atender caminhoneiros e donas de casa. Ele expande a sua área de atuação depois de intervir em um dos símbolos da disputa ‘liberais versus intervencionistas'”, comenta o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves.

O economista do banco ressalta que o real foi “o campeão de perdas” entre as moedas de países emergentes na sessão e nem as duas intervenções do Banco Central (BC) por meio dos leilões de venda de dólares no mercado à vista contiveram a disparada de mais de 2% no movimento intraday, renovando máximas a R$ 5,7350. Com as operações, o BC colocou no mercado US$ 2,095 bilhões.

Segundo o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, o pessimismo dos investidores em relação à PEC Emergencial corroborou para o estresse local. “Lembremos que, caso a proposta não contemple as contrapartidas defendidas pelo ministro da Economia [Paulo Guedes] como essenciais à preservação do teto de gastos, Bolsonaro terá que procurar outro ‘Posto Ipiranga’, já que estaria se afastando da proposta de uma agenda liberal. Essa possibilidade está no radar do mercado e é claramente demonstrada nos preços dos ativos”, avalia.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, o cenário doméstico não corrobora para uma previsão de alívio na taxa de câmbio, que já vem mostrando deterioração nas últimas semanas com a alta dos rendimentos das taxas de juros futuros dos títulos de dívida do governo norte-americanos, as treasuries.

“Isso vem provocando uma fuga do investidor estrangeiro. Agora, com as últimas da política, só corrobora”, diz acrescentando que os fundos têm desfeito as posições vendidas nos contratos futuros de dólar, enquanto investidores estrangeiros estão aumentando a posição comprada. “E no meio disso, os bancos estão menos comprados, mas pendendo a ficarem mais vendidos nos últimos dias. Mesmo que o BC suba a [taxa] Selic daqui duas semanas, o dólar não vai cair”, reforça.

Amanhã, com a agenda de indicadores carregada, Abdelmalack destaca que os números de fevereiro de atividade e de emprego dos Estados Unidos estão no “centro das atenções” com o mercado global atento à inflação e à recuperação econômica do país. “Se os dados de emprego da ADP vierem mais fortes, vai pressionar ainda mais as treasuries e, consequentemente, a taxa de câmbio”, ressalta.

Aqui, sai o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2020, com projeção de +2,80% na comparação com o terceiro trimestre. No acumulado do ano, o mercado prevê queda de 4,20%, segundo levantamento da Agência CMA.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) apagaram na reta final da sessão a forte alta observada durante quase todo o dia para encerrar o dia praticamente estáveis nos vencimentos mais curtos com rumores envolvendo a proposta da PEC Emergencial. Os vencimentos mais longos encerraram o dia em leves altas, mas muito longe das máximas da sessão.

O DI para janeiro de 2022 encerrou estável a 3,875%, de 4,015% na máxima do dia; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 5,79%, de 5,80% no ajuste anterior (de 6,01% na máxima); o DI para janeiro de 2025 ia a 7,49%, de 7,47% ontem (de 7,74% na máxima); e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,12%, de 8,07% na mesma comparação (de 8,38% na máxima).

Os investidores continuaram lutando contra a volatilidade tanto nas ações como no mercado de dívida em um movimento que interrompeu os fortes ganhos da sessão anterior e fez com que os principais índices de Wall Street fechassem o dia em baixa.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,46%, 31.391,52 pontos

Nasdaq Composto: -1,69%, 13.358,80 pontos

S&P 500: -0,80%, 3.870,29 pontos