Bolsa e dólar sobem com otimismo externo e correção interna

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta de 2,24%, aos 98.937,16 pontos, registrando o quarto pregão seguido de ganhos e o maior patamar de encerramento desde o dia 5 de março (102.233,24 pontos), quando o índice começou a sentir maiores impactos da pandemia causada pelo coronavírus. O otimismo visto nas Bolsas chinesas em meio a sinais de que o governo do país deve apoiar o mercado e a percepção de uma recuperação mais rápida da economia global, após a divulgação de indicadores, impulsionaram os mercados acionários.

Na cena doméstica, investidores ainda ficaram animados com declarações do ministro da Economia, Paulo, Guedes, principalmente, sobre privatizações. Pela manhã, o índice chegou a atingir a máxima de 99.256,85 pontos, voltando a se a aproximar da marca de 100 mil pontos. O volume total negociado foi de R$ 26,8 bilhões.

A Bolsa de Xangai subiu mais de 5%, para seu nível mais alto desde 2018, após um editorial na primeira página do jornal estatal “China Securities Journal” afirmar que promover um “mercado em alta saudável” é importante, dada a complexidade das relações internacionais chinesas, a intensa competição financeira e tecnológica e o desafio de controlar riscos financeiros internos. Investidores também apostam uma recuperação mais rápida da China com a redução de casos de covid-19 na região.

“Isso trouxe a especulação de que o governo chinês irá incentivar mercados de ações relaxando algumas regras ou usar outros incentivos como a maior alavancagem para ver um rali, e impactou todos os mercados”, disse o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara.

Além das sinalizações vindas da China, há a percepção de que a economia global pode se recuperar mais depressa do que o previsto após a crise causada pela pandemia. Na semana passada, os dados de emprego nos Estados Unidos vieram mais fortes do que o esperado por analistas e o mesmo ocorreu com o ISM do setor de serviços norte-americano hoje.

No Brasil, chamou a atenção a entrevista do ministro da Economia, Paulo Guedes, à “CNN Brasil”, na qual afirmou que o governo anunciará quatro grandes privatizações ao longo dos próximos três meses, embora não tenha dito quais estatais serão as escolhidas. Ele também falou que a reforma tributária deve avançar e incluir imposto sobre dividendos.

Entre as ações, as maiores altas do Ibovespa foram da B2W (BTOW3 10,60%), da CVC (CVCB3 10,45%) e da Qualicorp (QUAL3 7,44%). As Lojas Americanas, controladora da B2W, anunciaram que farão uma oferta pública primária de 80 milhões de ações ordinárias e 100 milhões preferenciais, podendo levantar até cerca de R$ 7 bilhões.

Os papéis de bancos, que têm grande peso no índice, também tiveram um dia positivo, com destaque para o Bradesco (BBDC3 6,38%; BBDC4 5,52%), após a coluna do Lauro Jardim, no jornal “O Globo”, afirmar que o banco estaria na fase final de negociações para comprar parte do banco digital C6 por cerca de R$ 2 bilhões.

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar de olho no relatório Jolts sobre contratações nos Estados Unidos, além da produção industrial da Alemanha e das projeções econômicas da Comissão Europeia. Os casos de coronavírus também devem seguir no radar.

O dólar comercial fechou em alta de 0,52% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3520 para venda, em mais um dia de volatilidade no qual chegou a operar perto do nível de R$ 5,25 influenciado pelo otimismo que prevaleceu no exterior com apostas de que a recuperação da economia global será mais rápida do que o esperado. Porém, uma correção local levou a moeda a fechar em alta, na contramão do exterior.

Para o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, a alta da moeda reforçou o ambiente de “incertezas que permeia” o mercado doméstico, além do movimento de correção técnica. “Foi local, após as quedas da semana passada. Aqui, o dólar deverá manter a volatilidade vista nas últimas sessões até que surja algum fato novo capaz de devolver o equilíbrio na precificação dos ativos”, diz.

Ele acrescenta que, por outro lado, o mercado acionário demonstrou que os investidores continuam acreditando na recuperação dos negócios, comprando risco, em sintonia com o exterior. A equipe do Banco Fator chama a atenção para o “desprestígio” da pandemia do novo coronavírus lá fora.

“Nos Estados Unidos, os números [de casos de covid-19] seguem acelerando. Contudo, o risco de uma nova onda de avanço do vírus foi ignorado pelo mercado no exterior em dia de elevado otimismo e forte alta das bolsas, além da perda de força do dólar”, acrescentam os analistas do banco.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, com a agenda de indicadores esvaziada amanhã, o noticiário segue no radar dos investidores e deverá influenciar o preço dos ativos. “Novamente, temos que monitorar o noticiário, principalmente, em relação à covid-19 e em relação ao Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos] com as eleições se aproximando por lá”, avalia.