Bolsa e dólar caem em pregão de forte volatilidade

321
Foto: Pexels

São Paulo – O último pregão do mês foi marcado por muita volatilidade com investidores revendo posições. O mercado aguardava a divulgação dos detalhes de um novo pacote de estímulo nos Estados Unidos, monitorava a situação da pandemia e os desdobramentos do ajuste no orçamento de 2021.

O Ibovespa fechou em baixa de 0,18%, aos 116.633 pontos. O índice da B3 acumula ganho de 6% em março, reduzindo as perdas do ano para 2%. O volume financeiro girou em torno de R$ 30 bilhões devido aos ajuste de carteiras.

O anúncio feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso emergencial da vacina da farmacêutica Janssen contra a covid-19 contribuiu para arrefecer um pouco a queda no índice, mas a preocupação continuou em relação ao Orçamento.

O relator-geral da proposta do Orçamento da União deste ano, senador Marcio Bittar (MDB-AC), anunciou que cancelará R$ 10 bilhões em emendas que apresentou tão logo o texto seja sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Para o analista Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimentos, esse movimento do relator “não foi suficiente”. Ele afirmou que os desdobramentos em relação ao orçamento seguem no radar do mercado. “Os investidores querem entender a parte fiscal do orçamento porque está confuso e pode causar crise de responsabilidade e em consequência abrir a possibilidade de impeachment do presidente”, completa

O orçamento de 2021 previa, até então, que as despesas obrigatórias neste ano superariam em R$ 31,9 bilhões o teto de gastos, o que significa que seria necessário cortar as despesas discricionárias na mesma magnitude para manter os gastos públicos dentro do limite, disse a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado.

Para o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, o mercado está à espera de notícias no âmbito setorial e está ajustando os preços. “Os investidores não estão assumindo posições nem para cima e nem para baixo em ativos de risco”, afirmou.

A retração dos papéis dos bancos ajudou no movimento de queda do Ibovespa. Os papéis do Itaú (ITUB4) caíram 1,92%, Bradesco (BBDC3 e BBDC4) perderam 1,95% e 2,15% e Banco do Brasil (BBAS3) recuaram 0,87%. Para o analista da Veedha investimentos, devido ao lockdown, os bancos estão com receio que a inadimplência aumente.

Houve também uma correção dos preços das ações que ontem tiveram alta atípica, como as ligadas ao turismo. O analista da Codepe Corretora ressaltou que os papéis do setor de turismo, como da Gol (GOLL4), CVC (CVCB3) e Azul (AZUL4), fecharam ontem em alta de 8,55%; 5,57% e 7,07% respectivamente.

O analista comentou que o mercado deve ficar de olho nas ações de empresas de varejo ligadas ao consumo, como lojas de departamentos que têm estabelecimentos em shopping centers e nas ruas. “Com o comércio fechado, esses papéis devem sofrer algum impacto”. As ações das Lojas Renner (LREN3) caíram 3,02%.

No exterior, o pacote de estímulos norte-americano deve ser anunciado ainda hoje pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a estimativa é de que ele girará em torno de US$ 3 trilhões. Os futuros de ações do país operam em alta à espera dos detalhes, assim como os juros dos títulos de dívida.

Segundo analistas da Ativa Investimentos, os investidores estão apreensivos com o impacto do pacote na atividade e na inflação americana. “Essa preocupação tem refletido no título de 10 anos do Tesouro dos Estados Unidos”.

No Brasil, a remoção dos comandantes das Forças Armadas ontem não teve repercussão no mercado. Os analistas entenderam que a saída dos chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica não tem impacto imediato na área econômica e acreditam que o presidente tem a prerrogativa de fazer a troca que quiser.

Outros pontos de atenção no Brasil são a pandemia de covid-19 – ontem o país teve novo recorde de mortes provocadas pela doença – e a queda levemente menor que a esperada na taxa de desemprego do trimestre encerrado em janeiro – o mercado previa redução a 14,1%, mas o indicador recuou a 14,2%.

O dólar comercial fechou com forte queda de 2,24% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6290 para venda, em sessão de forte amplitude, acompanhando o movimento externo onde prevaleceu a busca por risco e levou as moedas de países emergentes a se valorizarem, respingando no real. No mês, a divisa norte-americana subiu 0,48%.

No início da tarde, o relator-geral da proposta do Orçamento da União deste ano, senador Marcio Bittar, anunciou que cancelará R$ 10,0 bilhões em emendas que apresentou na proposta, o que corroborou para a moeda renovar mínimas sucessivas ao longo da tarde, chegando a R$ 5,62.

“Contribuiu, porém, o Orçamento tem outros pontos sensíveis. Mas mesmo que façam esse corte, o valor das emendas gira em torno de R$ 20,0 bilhões”, comenta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, reforçando que foi dia de disputa pela formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) – de fim de mês e refletiu em “uma pressão técnica”.

O texto do Orçamento aprovado na semana passada vinha recebendo várias críticas de parlamentares. Os principais questionamentos envolvem o corte de R$ 13,5 bilhões em despesas obrigatórias e outros gastos subestimados.

Para analistas, o dia a dia da administração pública poderá ser afetado pela falta de dinheiro, enquanto o grande receio dos investidores é com o estouro do teto de gastos, elevando ainda mais o risco fiscal.

O estrategista macroeconômico da XP, Victor Scalet, avalia que as preocupações em torno do cenário fiscal foram um dos assuntos que deixou o primeiro trimestre do ano “turbulento”, levando o dólar a ter avanço de 8,48%, maior alta trimestral desde os primeiros três meses de 2020 (+29,53%), quando a taxa de câmbio sentiu os efeitos do início da pandemia do novo coronavírus no mundo.

“O ano começou com uma perspectiva de risco melhor, com apreciação do real. Depois, entramos em uma dinâmica em cima da discussão fiscal e veio a piora da pandemia no Brasil. O combo pandemia e fiscal elevaram o risco-país”, avalia, acrescentando que a mudança na perspectiva global com a recuperação econômica dos Estados Unidos, além da alta das commodities, ajudaram na valorização global do dólar.

“A alta das commodities pressiona a inflação doméstica, o que levou o BC a elevar a taxa Selic acima do esperado [em 0,75 ponto percentual, a 2,75% ao ano]. Foram muitas mudanças em um curto espaço de tempo. O risco fiscal e o risco-país subiram nesse período”, reforça.

Amanhã, véspera de feriado em boa parte do mundo, o destaque na agenda de indicadores fica para os dados da atividade industrial nos Estados Unidos, na China e na Europa, em março, com investidores atentos aos efeitos das novas medidas de restrição por conta da covid-19. Aqui, a economista da Veedha diz que, além de depender do cenário externo, os ativos domésticos estão “muito vulneráveis” ao cenário político e ao risco fiscal, o que tem gerado cautela local.

“Temos o feriado na sexta-feira, mas esse cenário de volatilidade deixa pouco espaço para uma recuperação. São muitos fatores para monitorar”, diz. Analistas lembram que a sessão pode ser de baixa liquidez.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em queda em um dia de extrema volatilidade no qual analistas se debruçaram sobre a crise entre o governo Jair Bolsonaro e a cúpula militar enquanto aguardavam mais detalhes sobre o multitrilionário pacote de investimentos em infraestrutura prometido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Na reta final, entretanto, o mercado passou por um ajuste e as taxas encerraram o dia com leves oscilações. Com isso, o DI para janeiro de 2022 chegou ao fim de março com taxa de 4,595%, de 4,660% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,39%, de 6,46%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,06%, de 8,12% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,70%, de 8,73%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos deram um salto nas negociações de hoje, encerrando o mês e o primeiro trimestre em alta, com os investidores voltando aos papéis tecnologia de alto crescimento enquanto avaliam o grande plano de gastos em infraestrutura do presidente norte-americano, Joe Biden. A exceção foi o Dow Jones, que encerrou o dia sem queda sentindo o peso dos setores bancário e de energia.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,26%, 32.981,55 pontos

Nasdaq Composto: +1,54%,54 13.246,90 pontos

S&P 500: +0,36%, 3.972,89 pontos