Bolsa e dólar caem em dia volátil com decisão do Fed

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Foto: Krzysztof Baranski/ freeimages.com

São Paulo – Após oscilar entre leves perdas e ganhos ao longo do pregão, o Ibovespa fechou em queda de 0,62%, aos 99.675,68 pontos, acelerando perdas no fim do pregão, reagindo a sinalizações dadas pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell. Embora tenha indicado que a taxa de juros pode permanecer baixa por um bom tempo, Powell reforçou que o apoio fiscal do governo também é necessário para a retomada da economia.

Além disso, as ações de empresas exportadoras e ligadas a commodities, como as da Vale, pesaram negativamente sobre o índice, após fortes altas ontem e em dia de queda do dólar. O volume total negociado foi de R$ 23,2 bilhões.

“O Ibovespa subiu um pouco na hora da decisão e com a inclusão de 2023 nas previsões e expectativas, parece que o Fed não está preocupado com a inflação. Mas, em seguida, o índice já devolveu a alta e as ações de exportadoras estão pesando, já que tendem a ter um desempenho pior com o dólar caindo”, disse o fundador e CIO da Chess Capital, Vicente Matheus Zuffo.

Para o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti Guglielmi, o Fed reiterou que terá “uma postura acomodatícia por mais tempo”, sinalizando que não prevê ajustes no nível da taxa de juro até 2023. Mas destacou a importância da aprovação de um novo pacote de estímulos econômicos no Congresso em conjunto com a sua postura.

“Tendo isso em vista, este impasse [entre republicano e democratas em torno do pacote de estímulos] e a chegada das eleições presidenciais nos Estados Unidos passam a tomar a frente como fortes fontes de incerteza com relação ao rumo da maior economia do mundo”, disse o economista, em relatório.

O Fed manteve a taxa de juros inalterada como o esperado pelo mercado e disse que as expectativas da economia devem se manter estáveis até 2023, reforlçando a mudança já anunciada de que passará a trabalhar com uma meta de inflação média de 2% e não mais uma meta fixa. Porém, destacou que uma parte da população precisa de ajuda adicional do governo, na forma de transferências diretas para lidar com os efeitos da crise causada pelo o coronavírus, como o desemprego.

Entre as ações, as da Vale (VALE3 -2,33%), que têm grande peso no índice, devolveram ganhos de ontem acompanhando os preços do minério de ferro, que caíram mais de 3% na Bolsa chinesa de Dalian. Já as maiores perdas do índice foram de outros papéis ligados a commodities e de exportadoras que também subiram bastante ontem, caso da Usiminas (USIM5 -3,38%), da JBS (JBSS3 -3,02%) e da Minerva (BEEF3 -3,02%).

Na contramão, as maiores altas foram da CVC (CVCB3 4,57%), da Azul (AZUL4 3,63%) e da Gol (GOLL4 3,59%).

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos a novas decisões de política monetária, como a do Banco do Japão e do Banco da Inglaterra, além de indicadores norte-americanos como os pedidos de seguro-desemprego.

O dólar comercial fechou em queda de 0,92% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2400 para venda – no menor valor de fechamento desde 31 de julho (quando encerrou a R$ 5,2160) – reagindo ao comunicado da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e às sinalizações do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, sobre os próximos passos do banco central.

Durante a coletiva de imprensa de Powell, a moeda renovou mínimas sucessivas a R$ 5,2130, no menor valor intraday desde 3 de agosto. Para o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, o mercado respondeu ao “discurso esperançoso” Powell, ao ressaltar que a atividade econômica dos Estados Unidos tem se recuperado dos impactos provocados pela pandemia do novo coronavírus. “Além de prometer usar todos os instrumentos necessários para manter o apoiar à economia norte-americana”, comenta.

O economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, avalia que o Fed teve posição “extremamente ‘dovish'” (suave) nesta reunião, e que a narrativa de que a autoridade monetária vai continuar suportando a economia dos Estados Unidos cria um terreno fértil para continuar “inflando” o preço dos ativos.

Ortiz pondera que há riscos nessa narrativa, sendo um deles a ausência de mais suporte fiscal por parte do governo e do Congresso norte-americano já que Fed reitera que a trajetória da economia dependerá da evolução do coronavírus por lá. “A gente percebe uma queda bastante expressiva no último mês quanto aos números de casos [de covid-19]. Se o número de casos está caindo, a economia vai bem. Isso vai auxiliar ainda mais a retomada econômica”, diz.

O comunicado da autoridade monetária ressaltou que o juro básico continuará baixo por um longo período, conforme a mediana das projeções com expectativa que fique em 0,1% até 2023. “Essa postura fortemente ‘dovish’ de manter juro baixo por muito tempo tende a enfraquecer o dólar globalmente”, diz o economista da Guide justificando o movimento de queda acelerada durante a divulgação do comunicado.

Amanhã, o mercado deverá seguir reagindo à decisão do Fed, enquanto investidores locais deverão digerir o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que divulgará a decisão de política monetária daqui a pouco, às 18 horas.

Na agenda, tem ainda as decisões dos Bancos da Inglaterra (BoE) e do Japão (BoJ). “Esses dois não fazem preço como o Fed, mas o mercado poderá ter uma sessão de ‘ressaca’. Mas vejo espaço para valorização do real”, aposta Ortiz.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta firme, apesar da queda acelerada do dólar, que reagiu à previsão do Federal Reserve, de que a taxa de juros nos Estados Unidos deve seguir perto de zero até 2023. O movimento de recomposição de prêmios na curva a termo local antecedeu o tradicional leilão de títulos públicos, amanhã, e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), logo mais.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,89%, de 2,87% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,25%, de 4,15% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,12%, de 6,03%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,12%, de 7,02%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações fecharam em campo misto depois que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) divulgou sua decisão de manter a taxa básica de juros na faixa de zero a 0,25% até que haja condição de pleno emprego no mercado de trabalho norte-americano e a inflação “suba para 2% e esteja a caminho de superar 2% por algum tempo”.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,13%, 28.032,38 pontos

Nasdaq Composto: -1,25%, 11.050,46 pontos

S&P 500: -0,46%, 3.385,49 pontos