Bolsa e dólar caem seguindo o mercado externo

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa fechou em leve queda de 0,61%, aos 99.160,33 pontos, em linha com a maioria das Bolsas no exterior, que mostraram cautela em meio ao contínuo avanço de casos de coronavírus em estados norte-americanos.

Com a incerteza ainda trazida pela pandemia, o índice não sustentou os 100 mil pontos atingidos perto da abertura do pregão, patamar importante para o Ibovespa e o que não era visto desde o dia 6 de março (102.230,50 pontos), quando os mercados começaram a sentir os estragos causados pela pandemia. O volume total negociado foi de R$ 26,5 bilhões.

No exterior, a maioria dos índices norte-americanos mostrou volatilidade e aprofundou perdas depois de números como os da Flórida, que teve aumento de 8.948 casos de covid-19 nas últimas 24 horas. Os Estados Unidos alcançaram 3,1 milhões de casos de coronavírus, com mais de 134 mil mortos, o que fez cidades frearem processos de reaberturas.

“Os novos casos de covid-19 continuam elevados nos Estados Unidos impondo cautela aos investidores, já que não surgiram notícias positivas no radar”, disse o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi.

Mais cedo, porém, os pedidos de seguro-desemprego vieram levemente melhores do que o esperado pelo mercado, ao caírem em 99 mil para 1,314 milhão esta semana, sendo que o mercado previa 1,388 milhão.

No Brasil, não houve indicadores relevantes e também faltaram novidades, mas os dados de vendas no varejo divulgados ontem, que subiram mais do que o previsto pelo mercado, mantêm certo otimismo sobre a recuperação da economia doméstica, ajudando o Ibovespa a cair menos do que seus pares no exterior.

Para o índice se manter acima de 100 mil pontos, no entanto, o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, acredita que serão necessários ainda mais fundamentos e destaca que as ações de bancos têm pesado negativamente. “A Bolsa não vai muito mais adiante sem os bancos, eles correspondem a cerca de 30% do índice, e voltaram a cair”, disse. Nesta semana, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que projetos como os que propõem redução de juros sobre cheque especial ainda serão discutidos, o que pesou sobre ações como as do Bradesco (BBDC4 -2,22%).

Já as maiores quedas do índice foram da Braskem (BRKM 5 -6,82%), da CCR (CCRO3 -4,79%) e da Ecorodovias (ECOR3 -3,55%). A S&P Global Ratings rebaixou o rating da Braskem de ‘BBB-‘ para ‘BB+’, com perspectiva estável. Já a CCR e a Ecorodovias foram rebaixadas para classificação de “equal-weight” (equivalente à manutenção) pelo Morgan Stanley.

Na contramão, as maiores altas foram da Eletrobras (ELET3 7,65%; ELET6 8,12%) e das Lojas Americanas (LAM34 9,83%).

Na agenda de amanhã, investidores irão acompanhar os dados do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho e do setor de serviços em maio. Já nos Estados Unidos será observado o índice de preços ao produtor.

O gestor da RJI Gestão e Investimentos, Rafael Weber, concorda que é preciso novidades para o índice se consolidar em patamares mais elevados nos próximos dias. Entre elas, os sinais que serão trazidos pela temporada de balanços, que já começou no exterior.

“Até o início da temporada, o índice pode ficar mais em compasso de espera, mas depois oscilará também de acordo com os resultados. Em geral, os balanços vão ser mais fracos em função da pandemia, mas podem ter exceções, não será uma temporada homogênea”, disse.

O dólar comercial fechou em queda de 0,26% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3370 para venda, em sessão de forte volatilidade, com a moeda operando em sinais negativo e positivo, acompanhando o movimento externo no qual indicadores econômicos trouxeram alívio na abertura dos negócios, porém, números crescentes do novo coronavírus nos Estados Unidos elevaram a aversão ao risco no exterior.

“A notícia de que o estado [norte-americano] da Flórida teria batido o recorde diário de mortes e hospitalizações embutiu uma nova onda de aversão ao risco nos mercados globais”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho. O que levou a moeda à máxima de R$ 5,38.

Porém, pela manhã, a moeda chegou à mínima de R$ 5,25 – menor valor em duas semanas – reagindo aos números melhores do que o esperado dos pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos que caíram na semana encerrada em 4 de julho, somando 1,314 milhão de pedidos.

O analista da Correparti acrescenta, porém, o movimento “já tradicional” de volatilidade da taxa de câmbio por aqui ao longo da pandemia do novo coronavírus.

Amanhã, com a agenda de indicadores no exterior esvaziada, o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, acredita que o noticiário e os números de covid-19 nos Estados Unidos seguirão no radar, enquanto aqui, investidores ficarão atentos aos dados de serviços de maio e a inflação de junho. “Esses números de consumo entram no radar porque podem desenhar um caminho para a taxa [básica de juros] Selic na próxima reunião [em agosto]”, diz.