Bolsa cai puxada por Vale e bancos; dólar sobe por preocupação política

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Gráfico

São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 0,13%, aos 121.632,92 pontos, em um dia em que o balanço da Petrobras acima do esperado pelo mercado impulsionou o índice chegando a subir mais de 1% e na segunda metade do pregão as ações da Vale, siderúrgicas e bancos empurraram o Ibovespa para baixo.

Os investidores também digeriram o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em que sinaliza que a taxa de juros básica (Selic) pode chegar a mais de 7% até o final do ano.

Na visão de Alexandre Brito, sócio da Finacap, essa virada na Bolsa foi “atribuída aos bancos, siderúrgicas e mineradoras, como Vale, que possui peso relevante no índice”.

Brito comentou sobre a Bolsa ter reagido positivamente ao balanço da Petrobras e os papéis devem entrar no radar dos investidores estrangeiros. “A companhia divulgou um resultado fantástico e está muito próxima de bater a meta de US$ 60 milhões de dívida bruta, o que mostra que ela implanta uma nova política de dividendos mais voltada para geração de caixa e é um trigger para investidor estrangeiro”.

Por outro lado, as empresas de mineração e siderurgias estão sofrendo “por conta da variante delta na China e como isso vai impactar na recuperação econômica do país” e acabam pressionando as ações por aqui.

Outro fator destacado por Brito foi o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que veio mais duro e acaba “abrindo espaço para, se for necessário, elevar a taxa de juros para um nível acima da taxa neutra, dependendo muito da inflação”.

Mais cedo o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, comentou sobre o resultado da Petrobrás “surpreendeu porque ninguém acertou o lucro e principalmente a distribuição de dividendos” e ressaltou que a “Bolsa não sobe mais devido a queda das ações da Vale”. A mineradora tem peso de 12,4% na composição da carteira teórica do índice. Os papéis caíram 3,17%.

Gonçalves afirmou que as compras de Petrobras chamaram sua atenção. Até 17h, o JP Morgan comprou 25,3 milhões de ações ou R$ 720 milhões e o Merry Lynch 8,5 milhões de papéis ou R$ 243 milhões. “Essas compras vão impulsionar os negócios na Bolsa e o volume deve ser mais de R$ 35 bilhões”.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 9,58% e 7,76%, mas chegaram a subir mais de 11%, foram consideradas de maior destaque no pregão de hoje e a PETR4 foi a mais negociada. Os papéis do Bradesco (BBDC 3 BBDC4) fecharam em queda de 1,68% e 1,06%, respectivamente e do Itaú (ITUB4) subiram 0,30%. No início do pregão tiveram forte ganho.

O analista da Codepe Corretora comentou que as empresas vão distribuir “gordos dividendos para não  pagarem impostos. Ele afirmou ainda que “não seria surpresa se a Vale acrescentar uma distribuição extraordinária de dividendos”. Para setembro está projetado um pagamento de US$ 5 bilhões.

A Petrobras registrou lucro líquido de R$ 42,86 bilhões no  segundo trimestre. A receita líquida foi de R$ 110,71 bilhões e ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de R$ 62,9 bilhões. A empresa aprovou pagamento de R$ 31,6 bilhões em dividendos e juros sobre o capital próprio.

Após uma manhã de queda, na sessão desta tarde a moeda norte-americana guinou para uma trajetória de alta e seguiu assim até o final, cotada a R$ 5,2170, subindo 0,55%. A postura mais enérgica do Comitê de Política Monetária (Copom) não foi suficiente para arrefecer o mercado diante das incertezas políticas e fiscais brasileiras.

Segundo o economista da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o atrito entre Bolsonaro e Barroso não é saudável”. Borsoi também alerta sobre a deterioração da política fiscal: “Com a avaliação em queda, o governo tende a gastar mais, como no aumento do Bolsa Família, fazendo com que a política fiscal tenha caráter de suporte político”.

Borsoi fala sobre as dificuldades que isso acarreta: “Se fosse apenas pelo Copom, o câmbio deveria estar em queda, já que o Banco Central foi bastante hawkish”.

Para o economista e CEO da Veedha Investimentos, Rodrigo Tonon Marcatti, “a gente estava com um diferencial de juros muito baixo e o comunicado de ontem, em um tom mais hawkish, contribui para a valorização do real”.

Além da Selic, outros fatores ajudam nessa valorização: “O balanço da Petrobras veio muito forte, além da temporada de IPOs”, destaca Marcatti. O economista ressalta, porém, que frente a outras moedas emergentes, como o peso mexicano, o real ainda está muito desvalorizado.

Segundo o Rabobank, o fato de o Copom ter avisado que em setembro haverá um novo aumento de 1 ponto porcentual na Selic e descartar, ao menos por enquanto, a hipótese de terminar o ciclo de alta quando a taxa básica de juros atingir um nível neutro “deve trazer força no curto prazo para o real”.

“Com o ritmo atual de vacinação no Brasil e as pressões e riscos inflacionárias recentes, continuamos vendo a Selic chegar a 7,00% até o final de 2021 e [ficar neste nível] até o final de 2022.”

Em boletim matinal da Correparti, Jefferson Rugik disse que a decisão do Copom “deixou claro que vem outro ajuste da mesma magnitude na próxima reunião” e que isso ajuda a valorizar o real.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em forte alta, perto das máximas do pregão com os investidores reagindo à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter o ritmo de aperto monetário em 100 pontos-base, elevando a taxa Selic em 5,25%.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,47%, de 6,37% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,17%, de 7,93; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,08%, de 8,82% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,39%, de 9,11%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam o dia em alta, com o S&P 500 em recorde, embalados pela redução do número de solicitações de pedido de seguro-desemprego. O dado precede a divulgação do relatório de emprego – payroll – de amanhã e alimentou a confiança dos investidores na recuperação da economia.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,78%, 35.064,25 pontos

Nasdaq Composto: +0,78%, 14.895,10 pontos

S&P 500: +0,60%, 4.429,10 pontos