Bolsa cai no segundo pregão do ano com desconfiança sobre a política fiscal; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou o segundo pregão do ano em queda com o mercado desconfortável em relação aos primeiros dias do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e preocupados com a condução da política fiscal.

Falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do secretário executivo da pasta, Gabriel Galípolo, tiveram repercussões distintas no mercado. Os analistas ficam na expectativa que o técnico se sobressaia ao político.

O principal índice da B3 caiu 2,12%, aos 104.165,74 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu 2,16%, aos 105.060 pontos. A mínima no interdiário foi de 103.852,22 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que “vemos uma variação grande na Fazenda [Ministério]. Uma hora eles aparecem com um discurso fiscalista que agrada o mercado, depois parece que predomina a pressão política para manter a desoneração dos combustíveis; o discurso do Lupi [Carlos Lupi, ministro da Previdência], foi na linha populista”.

Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa estende o movimento de queda por conta da repercussão ainda do discurso de posse do Lula. “[O discurso] Foi agressivo do ponto de vista fiscal, algumas medidas de responsabilidade; isso pegou de forma muito negativa no mercado, os DIs subindo em todos os vértices”.

Varejão ressaltou que “o mercado esqueceu um pouco o fundamento e está mais preocupado com definições políticas, acredito que vai ficar ‘tradeando’ assim por algum tempo até ficar mais claro de qual vai ser a política fiscal desse governo”.

O especialista da Valor Investimentos disse que a entrevista que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu hoje ao portal Brasil 247 foi mais favorável, mas ainda o mercado precisa ver como o governo vai agir de fato. “O Haddad [ministro da Fazenda] veio em um tom um pouco melhor mostrando alguma preocupação em ter uma âncora fiscal, mas é preciso ver algo prático para dar o benefício para esse governo, dado que todos os discursos até então foram negativos”.

Caio Henrique Soares Rodrigues, analista de investimentos independente, disse que a Bolsa repercute os movimentos políticos do cenário interno. “O mercado não gostou do primeiro discurso do Lula com revogação de desonerações dos impostos federais, críticas expressivas em cima dos tetos de gastos, retirada das estatais dos estudos de privatização; o próprio Haddad sendo visto como uma opção técnica pelo mercado, mas a ala política falando mais forte e o ministro ficando sem voz”.

Como a Bolsa está barata e passa por uma correção, “é preciso desenhar um cenário para saber até onde essa correção vai, tem muita empresa saudável na B3”. Os investidores estão em um momento de apreensão para ver qual situação se vai desenhar e a partir daí traçar um cenário interno. “Hoje o político se sobressai muito sobre o lado técnico/econômico”, ressaltou.

O dólar comercial fechou em alta de 1,77%, cotado a R$ 5,4520. O movimento refletiu o temor do mercado com a falta de responsabilidade fiscal do governo Lula (PT) nos próximos anos.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, o problema é majoritariamente fiscal, em especial as desonerações dadas aos combustíveis.

“O estresse ainda deve continuar. O investidor local ainda está muito receoso, enquanto o investidor estrangeiro está mais otimista”, avalia Komura, que ainda aponta que neste cenário a moeda brasileira dificilmente irá se valorizar.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, as ações se valorizam, enquanto juros dos Treasury Bonds (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) recuam. Por aqui, fluxo de notícias no front político é mais negativo, o que pode impulsionar DIs e dólar”.

A Ajax pontua que a desoneração dos combustíveis por mais 60 dias, o discurso de Lula que coloca em dúvida o Teto de Gastos e as recentes nomeações de para estatais e ministérios colocam um ponto de interrogação nos investidores, e que o dólar deve apresentar instabilidade ao longo de 2023.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, com o mercado ainda repercutindo falas de autoridades no início da semana. O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,700% de 13,520% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 13,180%, de 12,910%, o DI para janeiro de 2026 ia a 13,130%, de 12,680%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,165% de 12,890% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,4540 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, à medida que as principais empresas de tecnologias do país iniciam o ano de 2023 ainda com a sombra que afetou o setor no ano passado, sobretudo após um relatório fraco divulgado pela Tesla.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,41%, 33.016,04 pontos
Nasdaq 100: -0,84%, 10.378,5 pontos
S&P 500: -0,65%, 3.814,50 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.