Bolsa cai e dólar sobe impulsionados pela ata do Fed

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 1,06%, aos 116.642,62 pontos, após passar a segunda metade do pregão com volatilidade por conta do vencimento de opções sobre o índice futuro com a disputa entre comprados e vendidos. O movimento negativo nas bolsas em Nova York também impactou na B3, após a divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano).

O cenário político e fiscal no Brasil tem causado muito mau humor nos investidores nessas últimas semanas. Em um encontro hoje à tarde com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) pediu ao ministro para reestabelecer a reunião com os chefes dos três poderes.

Para José Costa Gonçalves, analista da Codepe Corretora, a volatilidade na Bolsa é atribuída ao vencimento de opções sobre o índice futuro. ” A briga é de exercício em 118 mil pontos” e acrescentou que “a Bolsa só não está melhor em pontos na sessão de hoje por conta da queda de Vale e siderúrgicas”.

Em relação à ata do Fed, os membros admitiram que a inflação está maior que se esperava e deve seguir elevada nos próximos meses. O documento mostrou que a redução de estímulos está preste a acontecer.  “Está claro que não vai passar do final do ano a diminuição dos estímulos na economia e há divergências entre os integrantes do Fed”, afirmou o analista da Codepe Corretora.

Segundo Thiago Loiola Reis, sócio-diretor do Prosperidade Investimentos, comentou que o ritmo de vacinação no Brasil tem contribuído para a retomada na nossa economia, mas “tudo que está acontecendo em Brasília tem pressionando mais a nossa Bolsa que o cenário internacional”.

O sócio-diretor do Prosperidade Investimentos explicou que o Ibovespa saiu da casa dos 129 mil pontos para baixo dos 117 mil por essa tensão no cenário político e fiscal.

Para o economista Nicolas Borsoi, da Nova Futura Investimentos, o grande impacto no pregão de hoje é setorial. “A China está tentando reduzir a produção de aço e está afetando as empresas como a Vale e siderúrgicas”. Vale ressaltar que o minério teve queda expressiva no mercado externo.

O economista chamou a atenção para a curva de juros. “A nossa bolsa está sendo penalizada pela curva de juros, é um fator restrito ao Brasil, quando olhamos para fora não vemos uma alta de juros tão forte”.

Borsoi comentou que o cenário político e fiscal prejudica a nossa Bolsa e o adiamento ontem da reforma tributária que altera o Imposto Renda (IR) “mostrou que o governo está com dificuldade de passar a pauta de reformas no Congresso”. Ele ressaltou que grande parte do movimento de alta do Ibovespa foi “pautada na expectativa de que as reformas passariam no Congresso”.

Os papéis da Vale (VALE3) fecharam em  queda de 3,35% com a queda do minério de ferro no exterior  devido ao recuo da demanda de chapa de aço e a produção de automóvel diminuiu em 17% em agosto deste ano comparando com o mesmo período do ano passado, comentou um analista que não quis se identificar.

O dólar comercial fechou o dia em R$ 5,3750, com alta de 2,05%. Esta expressiva alta se deve à ata da reunião do Fed, sinalizando que os estímulos à economia, por ora, estão inalterados e, principalmente, pelas incertezas no cenário interno, com o governo concentrando esforços na aprovação da reforma tributária e Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “o mercado está estressado com a incerteza das contas pública e coloca em dúvida a credibilidade da política fiscal do governo”. A economista é enfática ao dizer que o “ambiente político dificuldade qualquer aprovação”, referindo-se ao novo imposto de renda e PEC dos precatórios.

“Estamos aguardando estes desdobramentos ao longo do mês de agosto. Enquanto isso não terminar, vamos continuar vendo esse prêmio de risco na taxa de juros, o câmbio desvalorizado e o mercado patinando”, projeta Abdelmalack.

De acordo com o especialista em investimentos da Portofino, Thomás Gibertoni, “existe uma preocupação global com o crescimento e isso afeta os ativos de maior risco, que são os mercados emergentes”.

Não bastasse isso, os problemas domésticos parecem não arrefecer: “Temos sofrido mais que outros mercados emergentes. Com a implementação do novo auxílio, que não tem espaço para acontecer, vamos enfrentar um grande problema pela frente”, pontua Gibertoni. “Não se discute algo para solucionar o teto fiscal, mas sim para burlá-lo”, lamenta.

Para o estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o discurso do Fed não deve ter grandes surpresas, e os estímulos devem continuar por mais algum tempo”. Para Komura, a quarta-feira terá outro tom: “O começo de semana foi muito intenso, e agora a tendência é de menos volatilidade”, pontua.

Já no âmbito interno, o adiamento em uma semana da votação da reforma do imposto de renda na Câmara dos Deputados é mais um desdobramento da dificuldade do Planalto em dialogar com os demais Poderes. “Caso [a reforma] seja aprovada, será muito desidratada. O governo dá sinais de que não irá comprar essa briga”, disse. Komura, contudo, sublinha a questão política: “A briga entre os Poderes está muito mais latente do que a questão fiscal”.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, perto das máximas nos vencimentos mais longos, acompanhando a apreciação do dólar em relação ao real em um pregão no qual os ativos locais voltaram a ser castigados pela reação dos investidores à persistente tensão política em Brasília, aos riscos fiscais e à deterioração das expectativas para a economia nacional.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,72%, de 6,69% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,490%, de 8,425%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,87%, de 9,64% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,32%, de 10,09%, na mesma comparação.

A combinação das preocupações com a variante Delta do coronavírus com a ata do Fed, que sinalizou a retirada da política acomodatícia ainda este ano, foi fatal para os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos, que aceleraram as perdas no final da sessão e terminaram o dia em queda.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -1,08%, 34.960,69 pontos

Nasdaq Composto: -0,89%, 14.525,90 pontos

S&P 500: -1,07%, 4.400,27 pontos