Bolsa cai e dólar sobe em dia de ajuste e cautela por novo coronavírus

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São Paulo – Após três dias de alta, o Ibovespa fechou em queda de 5,50%, aos 73.428,78 pontos, com investidores aproveitando para embolsar lucros e mais cautelosos diante do aumento do número de casos de coronavírus antes do fim de semana. Porém, na semana, o índice subiu 9,48%, interrompendo uma sequência de cinco semanas seguidas de perdas em função da pandemia. O volume total negociado foi de R$ 23,6 bilhões.

“Investidores aproveitaram para realizar um pouco de lucros hoje, a volatilidade reduziu um pouco, mas não é porque subiu nos últimos dias que o problema foi resolvido”, disse o analista do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.

Para o analista, embora o cenário continue incerto, esta semana mostrou uma leve redução da volatilidade e sinais de que o mercado está buscando um equilíbrio, tentando se estabilizar em torno dos 70 mil pontos. Medidas de estímulos anunciadas por governos e bancos centrais esta semana ajudaram na melhora vista, assim como informações de novos medicamentos que estão sendo usados no tratamento do coronavírus.

Nos Estados Unidos, deputados aprovaram hoje o esperado pacote de ajuda de US$ 2 trilhões à economia do país. Já no Brasil, o Banco Central (BC) anunciou mais medidas, como uma linha de crédito para que pequenas e média empresas financiem o pagamento de salários.

No entanto, o número de infecções causadas pelo novo coronavírus no mundo segue crescendo e passou de 526 mil, segundo dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. As mortes por coronavírus totalizam 23,709 mil. A novidade do levantamento é que os dados mostram que os Estados Unidos superaram a China pela primeira vez em número de contaminados, somando 82,404 mil casos e 281 mortes apenas na cidade de Nova York. A China aparece em segundo lugar, com 81,782 mil casos e 3,169 mil mortes apenas na província de Hubei.

Na semana que vem, o noticiário em torno do coronavírus deve continuar no foco, mas investidores também acompanharão indicadores que serão divulgados na China, como dados de serviços e produção industrial, e dados de emprego nos Estados Unidos, que podem começar a mostrar os primeiros sinais de impactos negativos da pandemia nas economias dos países.

Porém, o analista do Daycoval acredita que em grande parte uma piora drástica de indicadores já foi precificada pelos mercados, que podem continuar buscando um equilíbrio.

O dólar comercial fechou em forte alta de 2,06% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1030 para venda, engatando a décima sessão seguida acima do patamar de R$ 5,00, em meio à aversão ao risco que prevaleceu no exterior por toda a sessão com o mercado global em busca de recuperação após três sessões seguidas de queda, além da “tradicional” cautela antes do fim de semana.

“A sessão apresentou novamente uma ‘montanha-russa’ de emoções e o investidor local se viu mais uma vez tendo que se adaptar à enorme volatilidade das cotações”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho.

Ele acrescenta que, ao longo da sessão, a moeda chegou a desacelerar ganhos após o anúncio do governo de um financiamento de salários para pequenas e médias empresas junto ao Banco Central (BC), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal em meio à  medidas contra o impacto do novo coronavírus na economia. Essas empresas não poderão demitir funcionários pelo período de dois meses. Além disso, o BNDES anunciou ainda uma linha emergencial para empresas de saúde de até R$ 2,0 bilhões.

Para o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, as medidas são “fundamentais” e vão na direção correta. “Preservar os empregos e a renda é o desafio agora. No entanto, o volume ainda é modesto se observada a medida isoladamente”, avalia.

Além disso, o Banco Central (BC) realizou dois leilões de venda de dólares no mercado à vista no qual foram ofertados US$ 1,0 bilhão em cada e foram aceitos US$ 1,020 bilhão. Nos Estados Unidos, a Câmara dos Deputados aprovou o pacote de estímulos econômicos de US$ 2,0 trilhões para enfrentamento dos impactos do novo coronavírus. A medida fiscal passou pelo Senado na quarta-feira e foi sancionado há pouco pelo presidente Donald Trump.

Na semana, marcada por forte aversão ao risco na segunda-feira e por alívio nos dias subsequentes, no qual a moeda engatou três sessões seguidas de queda – o que não acontecia desde o fim de dezembro do ano passado – a moeda fechou com valorização de 1,61%, na sexta semana consecutiva de alta. “Muitos países adotaram o isolamento da população e isso trouxe uma nova preocupação no radar”, acrescenta o analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi.

Em relatório com o panorama dos impactos do novo coronavírus na América Latina, a equipe econômica da Capital Economics ressalta que o mercado financeiro da região tem sido atingido com mais força do que os de outros países emergentes durante a “recente” turbulência. “Moedas e ações caíram abruptamente e as tensões estão aparecendo no mercado de títulos corporativos da região”, avaliam.

Na próxima semana, a agenda de indicadores dos Estados Unidos, da Europa e da China deve trazer novos números refletindo os impactos do avanço da doença e das medidas restritivas nos países. A equipe econômica do Bradesco reforça que o destaque será o relatório de emprego dos Estados Unidos, o payroll, após a disparada no número de pedidos de seguro-desemprego na semana passada que chegou, até o dia 21, a 3,2 milhões de pedidos, um recorde.

“Depois da forte elevação do número de pedidos de auxílio desemprego, teremos outra evidência do mercado de trabalho norte-americano. Enquanto na China, o resultado final dos índices dos gerentes de compras [PMI, na sigla em inglês] já deve refletir alguma retomada em relação a fevereiro”, reforçam os analistas do banco.