Bolsa cai e dólar sobe com tensão política interna e ata do Fed

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São Paulo – O Ibovespa operou todo o dia em queda acompanhando o movimento negativo das bolsas norte-americanas em dia de ata do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) e puxado pelas commodities. Após a divulgação do documento que reforçou que a alta da inflação é temporária e existe a possibilidade de redução de estímulos mais adiante, a Bolsa acelerou o recuo chegando a cair mais de 0,90%, no entanto fechou em baixa de 0,27%, aos 122.636,30 pontos.

O analista sênior, Luiz Henrique Wickert da plataforma de investimentos sim;paul afirmou que “a ata do Fed veio em linha com que o  mercado almejava, não sei se esperava”.

O analista da plataforma de investimento sim;paul comentou que a autoridade monetária traz com cautela alguma resposta para o temor inflacionário do mercado. “O Fed destaca que vários participantes ressaltaram que, se a economia continuar progredindo rapidamente, é apropriado em algum momento começar a reajustar o ritmo das compras de ativos.

No cenário local, as preocupações ficaram em torno do depoimento do general Eduardo Pazuello perante a CPI da pandemia e da operação, da Polícia Federal que investiga possíveis crimes cometidos por agentes públicos no Ministério do Ambiente e no Ibama.

O mercado aguarda a votação da medida provisória (MP) da privatização da Eletrobras ainda hoje na Câmara dos Deputados. O líder do PSB na Câmara, Danilo Cabral (PE), escreveu em sua rede social, que “os partidos de oposição estão entrando no STF [Supremo Tribunal Federal] contra a tramitação da MP da Eletrobras. As ações da estatal (ELET 3 e ELET6) subiram mais de 4%.

Em movimento contrário ao da véspera, as ações dos setores de mineração e siderurgia caíram em resposta à queda do minério de ferro na China. As ações da mineradora Vale (VALE3) baixaram 2,05%, das siderúrgicas Usiminas (USIM5) perderam 1,15%, CSN (CSNA3) desaceleraram 3,98 % e Gerdau (GGBR4) registram baixa de 1,08%.

O dólar comercial fechou em alta de 1,18% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3150 para venda, interrompendo a sequência de três quedas seguidas, com investidores digerindo a ata da reunião de política monetária do Fed, realizada no fim de abril. O receio do mercado com a alta da inflação global sustentou os ganhos da moeda norte-americana ante os pares e divisas de países emergentes por toda a sessão.

O economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, avalia que a ata do Fed não teve “grandes novidades” e destaca “uma espécie” de tolerância da autoridade monetária com uma inflação cheia – que considera a alta de energia – e que o banco central dos Estados Unidos insiste na tese da inflação transitória.

“Tem se tornando um mantra entre bancos centrais classificar a inflação corrente como transitória, uma vez que é derivada de uma alta relevante [do preço] de commodities e que esta, pode estacionar em dado momento retirando perigos inflacionários do radar”, comenta.

Perfeito acrescenta que a “maior preocupação” tem a ver com a perspectiva que, se de fato a economia dos Estados Unidos deve crescer forte, é “natural” esperar que haja uma migração de recursos das treasuries – rendimento das taxas futuras dos títulos do governo norte-americano – para outros ativos, refletindo em alta das taxas.

“Seja como for, está implícito que o Fed não quer ser o primeiro a gritar ‘fogo’. Eles sabem que isso seria desastroso em diversos níveis. O mercado já reagiu com a alta da taxa de 10 anos e os mercados se regulam a esta nova taxa de referência em patamar ligeiramente mais alto”, ressalta o economista, referindo-se ao vencimento de 10 anos (T-Note) que disparou após a divulgação do documento, renovando máximas na sessão acima de 1,69%.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli, diz que o dólar pode encontrar espaço para uma nova queda. Ele acrescenta que os números dos pedidos de seguro-desemprego até a semana passada nos Estados Unidos devem ficar no radar do mercado. “É sempre bom acompanhar esses dados de perto”, reforça.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em leve alta depois da divulgação da ata do Fed em meio a temores relacionados com a aceleração da inflação e o superaquecimento de economias centrais.

No documento, vários membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed sugeriram iniciar as discussões sobre a retirada gradual dos estímulos caso a economia dos Estados Unidos avance em direção às metas de pleno emprego e estabilidade de preços.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou o dia com taxa de 5,00%, de 4,98% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,835%, de 6,820%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,34%, de 8,30% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,92%, de 8,87%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram mais uma sessão em queda, embora tenham reduzido as perdas com a divulgação da ata da reunião de abril do Fed. O documento minimizou a aceleração da inflação, embora tenha mostrado a disposição dos membros do comitê de política monetária em começar as discussões para a retirada da acomodação.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,48%, 33.896,04 pontos

Nasdaq Composto: -0,03%, 13.299,70 pontos

S&P 500: -0,29%, 4.115,68 pontos