Bolsa cai e dólar sobe com tensão entre EUA e China

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São Paulo – Após mostrar volatilidade, o mau humor prevaleceu nesta sexta-feira e o Ibovespa fechou em queda de 1,29%, aos 102.775,55 pontos. O índice refletiu a crescente tensão entre China e Estados Unidos, a demora para a aprovação do pacote de estímulos norte-americano e a aprovação no Senado do projeto de lei que limita juros sobre cartões de crédito e cheque especial. O projeto pode afetar resultados de bancos, que têm grande peso no Ibovespa. O volume total negociado foi de R$ 29,1 bilhões.

Na semana, o índice ficou praticamente no zero a zero, com queda de apenas 0,13%.

O presidente norte-americano, Donald Trump, decretou um veto a transações com os aplicativos chineses TikTok e WeChat por 45 dias, destacando riscos à segurança nacional. O governo norte-americano ainda acusou a China de acabar com autonomia de Hong Kong, sancionando oficiais locais.

Não bastasse o crescimento da tensão entre as duas potências, republicanos e democratas seguem em um impasse sobre o pacote de ajuda à economia norte-americana. A dificuldade de se chegar a um acordo fez o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, afirmar que recomendará a Trump que promova estímulos via decreto.

Apesar das notícias negativas, os índices Dow Jones e S&P 500 melhoraram no final do pregão e fecharam em leve alta, com exceção do Nasdaq. Dados melhores do que o esperado de emprego no país ajudaram a aliviar a tensão.

Já no Brasil, investidores não viram com bons olhos a aprovação de projeto, ontem no Senado, que limita em 30% ao ano, a cobrança de juros sobre cartões e cheque especial. Para o estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilcqua, além de pode impactar os resultados de bancos a decisão mostra que “o Legislativo ainda não está totalmente imune às tentações de realizar intervenções populistas no campo da economia”. No entanto, o projeto ainda pode ser barrado na Câmara dos Deputados.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, sinalizou que pode engavetar o texto ao defender que a solução para os altos juros venha dos próprios bancos, que têm que que entender que precisam abrir mão de parte de sua receita, e não de intervenções no mercado financeiro. No momento das declarações, as ações chegaram a ensaiar uma alta, mas ainda fecharam em queda, caso do Bradesco (BBDC4 -0,77%) e do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,11%).

Outros papéis de peso para o índice, como os da Vale (VALE3 -2,19%) e da Petrobras (PETR3 -1,93%; PETR4 -1,89%), fecharam em quedas expressivas em meio a desvalorizações de preços de commodities.

As maiores quedas do Ibovespa, por sua vez, foram da Cielo (CIEL3 -6,25%), do BrMalls (BRML3 -4,15%) e da Gol (GOLL4 -3,81%). Já as maiores altas são da Hering (HGTX3 6,83%), da BRF (BRFS3 2,46%) e da Rumo (RAIL3 2,23%).

Na agenda da segunda-feira, investidores devem ficar atentos a dados da China como o índice de preços ao consumidor, além do relatório Jolts nos Estados Unidos sobre contratações e demissões de junho.

O dólar comercial passou o dia reagindo ao clima de cautela no mercado internacional diante de conflitos na maior economia do mundo. A tensão entre Estados Unidos e China, além do impasse dos legisladores norte-americanos sobre a aprovação de um pacote de US$ 1,0 trilhão para estimular a economia diante da pandemia, fizeram o dólar comercial fechar em alta de 1,25%, sendo negociado a R$ 5,4120 para venda. Na semana, a moeda registrou avanço de 3,76%.

“Sexta-feira já um dia conhecido pelos investidores como de cautela. É um dia em que o investidor não gosta de se expor porque não sabe como será o final de semana. Pra ajudar, ainda estamos passando por essa questão das empresas de tecnologia chinas nos Estados Unidos e a discussão entre democratas e republicanos sobre a aprovação do pacote de estímulo que pode ajudar a economia norte-americana a retomar seu ritmo normal mais rapidamente”, explicou um operador de câmbio de uma corretora.

“O último dia da primeira semana de agosto traz consigo cautela nos mercados internacionais. A escalada das tensões entre Estados Unidos e China se sobrepõe a outros eventuais indicadores econômicos”, afirmou, em relatório, Pedro Molizani – Trader Mesa de Câmbio Travelex Bank.

Molizani acrescentou ainda que “o fator principal para o predomínio das perdas está na escalada das tensões entre as duas maiores superpotências do mundo: Estados Unidos e China. No dia de ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, emitiu ordens executivas exigindo que transações dos EUA com os aplicativos TikTok e WeChat – ambos chineses – sejam interrompidas em 45 dias. Agentes econômicos e investidores também acompanham negociações entre democratas e republicanos no que se refere ao pacote fiscal a fim de se combater crise do novo coronavírus”, concluiu.

“As moedas latino-americanas iniciaram a sessão de sexta-feira negativas em relação ao dólar, com as crescentes tensões sino-americanas envolvendo empresas de tecnologia e a falta de um acordo entre os legisladores dos Estados Unidos em torno de um novo pacote de estímulos, mantendo os investidores na defensiva”, explicou, em relatório, Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, mantendo a trajetória desde a abertura do pregão, em dia de ajustes após a forte queda ontem, quando reagiram às sinalizações do Comitê de Política Monetária (Copom). O movimento também foi influenciado pela alta do dólar e pelo ambiente externo mais avesso ao risco, relegando os dados do dia sobre inflação oficial no Brasil (IPCA) e emprego nos Estados Unidos (payroll).

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2021 ficou com taxa de 1,870%, de 1,865% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2022 encerrou em 2,65%, de 2,57%; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 3,76%, de 3,64% após o ajuste anterior; e o DI para janeiro de 2025 ficou com taxa de 5,40%, de 5,25%, na mesma base de comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam em alta, com exceção do Nasdaq, impulsionados por dados de emprego melhores do que o esperado, que ajudaram a compensar preocupações com o impasse sobre uma nova rodada de estímulos e também com a escalada de tensões entre Estados Unidos e China.

Dow Jones: +0,17%, 27.433,48 pontos

Nasdaq Composto: -0,87%, 11.010,98 pontos

S&P 500: -0,06%, 3.351,28 pontos