Bolsa cai e dólar sobe com cenários político e de reforma incertos

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São Paulo – A Bolsa fechou com leve queda de 0,11%, aos 122.056,34 pontos, depois de registrar forte recuo na sessão da manhã e se recuperar as perdas puxada pelas ações de bancos e Petrobras no início da segunda metade do pregão.

O Ibovespa vem sofrendo nas últimas semanas devido ao risco fiscal e político, com mais cautela por parte dos investidores estrangeiros. Na sessão de hoje, os investidores ficaram preocupados com o resultado dos dados de venda no varejo em junho podendo ter reflexos no Produto Interno Bruto (PIB).

Para André Ribeiro, chefe de renda variável da Wise Investimentos, a melhora no Ibovespa foi “embalada pelos papéis da Petrobras e dos grandes bancos brasileiros dada a proporção dessas ações no índice”.

Ribeiro comentou que a virada da Bolsa coincidiu com o anúncio da Petrobras sobre o aumento do preço da gasolina. “Esses sinais dando sequência na política de preços e na direção da atual gestão, que conseguiu entregar um resultado forte nesse último trimestre”.  Os estoques de petróleo também “ajudaram nas ações”. A petrolífera vai subir, a partir de amanhã, o preço médio da gasolina nas refinarias em 3,5%, para R$ 2,78 o litro.

Ribeiro comentou que a queda da manhã foi “reflexo da tensão no âmbito político e aos dados fracos do varejo, quando a Bolsa chegou ao patamar de mínima dos últimos dias de 120 mil pontos”.

Um gestor independente que não quis se identificar disse que a Bolsa tem sido impactada fortemente com a política equivocada do governo Jair Bolsonaro. “Temos um momento complicado da política e da questão fiscal com a pedalada dos precatórios, o Bolsa Família sendo utilizado como meio eleitoreiro, inflação subindo e alta de juros”.

A fonte que não quis se identificar comentou que as companhias “estão bem e mostrando  resultados sólidos, até mesmo as empresas de shopping centers que era de se esperar um  desempenho ruim, estão melhorando e a situação complicado aqui não deixa o mercado acionário alavancar”.

Mais cedo Luiz Henrique Wickert, analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul, comentou sobre a forte queda do Ibovespa. Ele afirmou que o ponto forte da queda foi atribuído ao resultado das vendas no varejo . “Os dados vieram bem abaixo do esperado e isso esfria um pouco o otimismo que o mercado vinha revisando de um PIB [Produto Interno Bruto] pra cima, esse é o grande receio”.

Outro fator que Wickert comentou foi em relação aos balanços “que vieram pior que o esperado como o da Droga Raia e acabou decepcionando o mercado”.

O analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul afimou que os dados de inflação nos Estados Unidos vieram em linha com a previsão dos analistas e “poderiam  favorecer os mercados emergentes, mas não foi o que aconteceu devido ao problema interno”.

As vendas no varejo divulgadas pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), excluindo veículos e material de construção, registraram queda de 1,7% em junho em relação a maio, e interromperam dois meses de alta. Os dados ficaram  pior que o esperado, segundo a mediana calculada pelo Termômetro CMA, alta de 1,2%. Em relação a junho de 2020, as vendas subiram 6,3%, no entanto ficaram abaixo da previsão de +8,10%.

O relator da proposta do Imposto de Renda (IR), Celso Sabino (PSDB-PA) apresentou seu relatório sobre a reforma do IR com mudanças, nessa madrugada, propondo a redução na Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e uma menor diminuição na alíquota do Imposto de Renda das empresas. Empresários, prefeitos e governadores tentaram fazer uma articulação para impedir a  votação da reforma tributária do Imposto de Renda no plenário da Câmara.

O dólar comercial fechou o dia cotado a R$ 5,2200, com alta de 0,46%. Com viés de alta desde o início da manhã, após o anúncio dos resultados positivos na inflação norte-americana medida em julho – além das já recorrentes incertezas fiscais e políticas que assolam o cenário doméstico -, o dólar seguiu um estável ritmo de crescimento durante a quarta-feira.

Segundo o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo, “o ruído político nos atrapalha, com o mercado se protegendo. Estávamos com o dólar abaixo dos R$ 4,90, mas na situação atual isso é inimaginável”.

Além disso, o mercado também fica apreensivo com as próximas movimentações dos Estados Unidos: “O mundo espera os dados americanos para dar andamento no dia a dia, com menor ajuda do governo e reaquecimento da economia”, pontua Galhardo.

“Havia uma maior expectativa entre Estados Unidos e China, com a eleição de Joe Biden. Mas continuou a mesma coisa, com a falta de entendimento entre os países”, destaca Galhardo, referindo-se à relação entre os dois países.

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “o comportamento volátil do dólar é causado por uma combinação de fatores, como a política de juros mais agressiva do Banco Central e a tensão interna, além dos resultados nos Estados Unidos”.

“Isso acaba sendo uma montanha russa e, a não ser que ocorra uma melhora no cenário interno ou piore a conjuntura externa – principalmente nos EUA -, isso não irá mudar tão cedo”, alerta Leal.

Os preços ao consumidor dos Estados Unidos subiram 0,5% em julho na comparação com o mês anterior, quando tinham avançado 0,9%. No acumulado em 12 meses, a inflação norte-americana atingiu 5,4%. Os investidores também reagem à aprovação de um pacote de infraestrutura de US$ 1 trilhão pelo Senado dos Estados Unidos, bem como à aprovação das linhas gerais do orçamento de US$ 3,5 trilhões pelos senadores do país.

Para o head de Análise da Top Gain, Leonardo Santana, “o mercado está olhando para muitas coisas nesse momento, como o pacote do Biden e o cumprimento do teto de gastos”. Além disso, os dados de inflação divulgados ontem, somados à postura mais rígida do Banco Central, favorecem o cenário nacional.

“A alta do Indice Nacional de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) somada ao aumento da taxa de juros tornam o Brasil mais atrativo ao investidor estrangeiro”, pontua Santana. “Para hoje, o mercado deve trabalhar na linha de ontem, sem altas ou quedas bruscas”, disse.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, acompanhando a apreciação do dólar em relação ao real, com os números fracos das vendas no varejo em junho e a permanência dos impasses políticos no radar.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,525%, de 6,490% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,130%, de 8,085; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,08%, de 9,01% antes; e o DI para janeiro de 2027tinha taxa de 9,48%, de 9,40%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram em alta, liderados por ganhos dos setores industrial e bancário, depois que dados mostraram que o comportamento da inflação não foi tão agressivo como o esperado. A exceção foi o Nasdaq, que fechou mais uma sessão em baixa.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,62%, 35.484,97 pontos

Nasdaq Composto: -0,16%, 14;765,10 pontos

S&P 500: +0,24%, 4.447,70 pontos