Bolsa cai e dólar sobe com baixa liquidez por feriado nos EUA

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Foto: Myles Davidson / freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa operou todo o pregão no negativo oscilando entre 126 mil e 127 mil pontos devido ao feriado do Dia da Independência, nos Estados Unidos, em que as bolsas não abriram. Com grande representatividade dos estrangeiros nos negócios da B3, o volume financeiro ficou reduzido. Os investidores ficaram com as atenções voltadas para o cenário político envolvendo o presidente Jair Bolsonaro. Com isso, o principal índice da B3 fechou em queda de 0,54%, aos 126.920,05 pontos.

O analista Victor Lima, da Toro Investimentos, comenta que a Bolsa está em um movimento de ajuste devido à alta de sexta-feira, quando o Ibovespa fechou com ganho de 1,56%. Além disso, os investidores repercutem “a piora da avaliação do presidente Jair Bolsonaro na pesquisa CNT/MDA e o reajuste dos combustíveis”.

A Petrobras vai aumentar a partir de amanhã o preço médio da gasolina nas refinarias, do diesel e da venda do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de cozinha para as distribuidoras.

Para os analistas da Ativa Investimentos, “o cenário político pesa no apetite dos investidores, com a pesquisa feita pela CNT/MDA apontando aumento da avaliação negativa do governo Bolsonaro”.

O operador de renda variável Alisson Ramos, da Commor, comenta que a bolsa fica “sem força devido ao feriado nos Estados Unidos e os investidores mantêm cautela em relação à política porque está cada vez mais perigoso para o Bolsonaro e isso pode travar as possíveis reformas “, afirma

As ações dos bancos e da Petrobras, que têm forte peso no índice, pressionaram o índice.  Ramos comenta que o setor financeiro ainda é impactado pela mudança na reforma tributária.

Os papéis do Bradesco (BBDC3) e BBDC4) caíram 1,53% e 2,07%, respectivamente. Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) baixaram 1,33% e 0,85%, nessa ordem. As duas ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) desvalorizaram 1,13%.  Os papéis da Vale e Petrobras foram os mais negociados no pregão de hoje.

A equipe da Ajax Capital acredita que o pregão de hoje será de “cautela com o feriado nos Estados Unidos e liquidez reduzida nos mercados globais”.

Por aqui, o cenário político segue conturbado. Hoje foi divulgada a pesquisa da Confederação Nacional de Transporte (CNT)/MDA mostrando a taxa de reprovação do presidente Jair Bolsonaro, de 63% em julho contra 51% em fevereiro. Foi a maior desaprovação desde o início do governo em 2019.

Na sexta-feira, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, autorizou a abertura de inquérito para investigar o presidente Jair Bolsonaro no suposto crime de prevaricação envolvendo as negociações para a compra da vacina indiana Covaxin. O Tribunal de Contas da União (TCU) pediu explicações para o governo sobre o preço da vacina Covaxin subir de U$10 para US$15 durante a negociação.

Amanhã a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que apura as ações e omissões do governo federal no combate à pandemia, ouve a servidora Regina Célia de Oliveira, suspeita de envolvimento nas irregularidades nas compras de vacinas.

O dólar comercial fechou em alta de 0,65% no mercado à vista, cotado a R$ 5,0870 para venda, engatando o quinto pregão seguido de sinal positivo, refletindo a cautela com a política doméstica em sessão de liquidez reduzida em meio ao feriado nos Estados Unidos e exterior mais negativo para as moedas de países emergentes.

O gerente da mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, ressalta que a moeda renovou máximas sucessivas no início da tarde, a R$ 5,09, com investidores locais precificando o risco político, em meio ao “escândalo” de compras superfaturadas de vacinas contra a covid-19, com a suspeita do envolvimento do presidente Jair Bolsonaro em esquemas de “rachadinhas”. Além do aumento da rejeição ao atual governo, conforme pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pela MDA.”Em um dia de poucos negócios e liquidez reduzida”, reforça.

Na pesquisa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera as intenções de voto para presidente em 2022, enquanto Bolsonaro tem a maior taxa de rejeição entre os eleitores. Na pesquisa espontânea – em que não são apresentados nomes aos entrevistados -, os votos favoráveis a Lula somaram 27,8% do total, enquanto aqueles favoráveis a Bolsonaro foram 21,6%. Já os indecisos somaram 38,9%.

Na pesquisa estimulada – em que os entrevistados recebem uma lista de nomes para escolher -, o ex-presidente Lula aparece com 41,3% das intenções de voto, enquanto Jair Bolsonaro aparece em segundo lugar, com 26,6%. Os indecisos caem a 7,8%. A pesquisa também mostrou que o percentual de eleitores que reprovam o desempenho pessoal do atual governo aumentou para 63% em julho, de 51% em fevereiro. É a maior taxa de reprovação dele ao longo do governo, que começou em 2019, segundo dados históricos do levantamento.

“O cenário econômico é bom e o otimismo prossegue, mas o cenário político é ruim e agora, a cautela é com esse ambiente e no que vai virar”, comenta o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, acrescentando que a “pressão” na política está “vindo por todos os lados”.

Amanhã, Nagem aposta que a tendência é de dólar pressionado diante da cautela política no cenário doméstico mesmo com o retorno dos Estados Unidos ao mercado e com a volta da liquidez. Na agenda de indicadores, o destaque fica para a leitura revisada do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços norte-americano, em junho, com previsão de que vá a 65,2 pontos. Além dos números de maio do varejo na zona do euro.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, pouco abaixo das máximas da sessão, acompanhando a apreciação do dólar em relação ao real em um dia no qual o feriado de Dia da Independência dos Estados Unidos manteve os mercados financeiros norte-americanos fechados, drenando grande parte da liquidez, e o risco político ganhou força com a novas denúncias de corrupção no governo e uma nova pesquisa mostrando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva bem à frente de Jair Bolsonaro nas intenções de voto para 2022.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 5,740%, de 5,665% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,17%, de 7,05% o DI para janeiro de 2025 ia a 8,23%, de 8,13% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,67%, de 8,59%, na mesma comparação.