Bolsa cai e dólar sobe com avanço nas taxas de juros das treasuries

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Foto: energepic.com / Pexels

São Paulo – Desde a abertura do pregão desta sexta-feira, o Ibovespa operou no negativo, chegando a cair mais de 1%. O principal indicador de desempenho de ações negociadas na B3 fechou em baixa de 0,71%, aos 114.160,40 pontos, na mesma direção da maioria das bolsas internacionais. As incertezas com o cenário externo fizeram os investidores ficarem atentos aos movimentos de alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, com vencimento em 10 anos.

Os juros futuros norte-americanos subiram devido ao temor do mercado de que a alta da inflação pudesse fazer com que os Bancos Centrais autorizassem a elevação dos juros e também promovesse uma redução dos estímulos para combater a pandemia, afirmaram os analistas da Mirae Asset. Esse movimento negativo do pregão de hoje ocorre após o bom humor nos últimos dias com o pacote trilionário de Biden.

No âmbito doméstico, a notícia sobre a Procuradoria Geral da República (PGR)ter entrado com um recurso no STF contra a decisão do ministro Edson Fachin que anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva freou o mercado à espera dos resultados, comentou uma fonte. “O investidor está receoso em continuar comprando e deve aguardar os próximos passos do governo sobre a economia e questões envolvendo a vacinação”, concluiu.

Outro fator que também pesou no movimento do mercado de ações foi a volta das medidas mais restritivas em alguns estados. No estado de São Paulo, por exemplo, a fase emergencial entra em vigor a partir de segunda-feira com regras mais rígidas para conter a pandemia da Covid-19. O objetivo é tentar barrar o avanço da doença e evitar o colapso no sistema de saúde do estado.

O dólar comercial fechou em alta de 0,36% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5600 para venda no mercado à vista, em sessão de poucas oscilações acompanhando o exterior onde a moeda operou pressionada ante as divisas pares e de países emergentes em meio à alta dos rendimentos das taxas de juros futuros dos títulos do governo norte-americano, as treasuries, com o vencimento de 10 anos (T-Note) operando a 1,63%, na máxima do mês. A alta ante a moeda local, porém, foi contida por mais uma operação do Banco Central (BC) no mercado futuro.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que a nova alta das treasuries, principalmente dos vencimentos de longo prazo como a T-Note, voltou a dar impulso ao dólar em escala global. “E nem mesmo a intervenção extraordinária do BC, que vendeu US$ 750,0 milhões em swap cambial tradicional [equivalente à venda de dólares no mercado futuro] conseguiu segurar o ímpeto da moeda”, comenta.

O analista da Toro Investimentos, Lucas Carvalho, pondera que a moeda norte-americana não avançou mais no mercado doméstico, ficando um “pouco mais comportado” na sessão, justamente por causa das atuações do Banco Central. Hoje, a autoridade monetária atuou pelo terceiro dia seguido no mercado cambial.

Na semana, marcada pela volta do nome do ex-presidente Lula ao cenário eleitoral após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, em anular as condenações envolvendo o petista na Operação Lava Jato, o que o torna elegível para cargos públicos, o dólar fechou em queda de 2,15%, interrompendo três semanas de alta.

“Foi uma semana de muito estresse com o Lula, mas um alívio maior com uma desidratação menor da PEC Emergencial. A volatilidade, que se faz presente desde o fim de fevereiro, seguiu nesta semana, agora com o fator Lula, já que algumas pesquisas eleitorais têm colocado um possível segundo turno em 2022 entre o ex-presidente e Jair Bolsonaro. Além disso, tivemos a votação da PEC Emergencial, o que abre possibilidade para o andamento da agenda de reformas”, avalia Carvalho.

Na semana que vem, a agenda de indicadores tem como destaque as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, no qual a expectativa é de um início de aperto monetário da Selic, com previsão de subir de 2,00% para 2,50%, após quase seis anos sem elevação da taxa básica de juros. As decisões pesarão nos mercados, destaca o analista da Toro.

“Os preços mais altos das commodities e um dólar mais forte levará o BC a aumentar a taxa de juros na semana que vem, após sete meses mantendo-as em baixas recordes”, comenta o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, acrescentando que os efeitos negativos da covid-19 e a política sugerem um panorama econômico mais desafiador para o país e para os ativos brasileiros. “Com isso, vemos um escopo limitado para o real recuperar terreno em relação ao dólar”, reforça Rostagno.

Por fim, os analistas da Tendências Consultoria reiteram que o esperado ajuste monetário, que terá prosseguimento nos próximos meses, tenta reduzir o estímulo extraordinário fornecido em 2020 no auge dos impactos econômicos da pandemia, como o auxílio emergencial, em um contexto atual de inflação bem superior à própria Selic.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) apresentaram abertura ao longo de toda a curva a termo nesta sexta-feira e fecharam em alta, com os investidores refletindo os temores com uma bateria de fatores negativos para os ativos de risco mesmo depois de o Banco Central (BC) ter promovido um leilão de contratos de swap cambial logo pela manhã.

Além da retomada da alta dos yields das Treasuries nos EUA, o fechamento em alta das taxas repercutiu a pandemia, a perspectiva de elevação da taxa básica de juro na semana que vem e as sucessivas ações do BC na taxa de câmbio com o objetivo de evitar um choque ainda maior na Selic.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou o dia com taxa de 4,205%, de 4,130% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 5,970%, de 5,905%; o DI para janeiro de 2025 ia a 7,44%, de 7,37% ontem; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,02%, de 7,90%, na mesma comparação.

Wall Street encerrou a semana em nota alta, embalada pelo otimismo com a recuperação econômica. A exceção foi o Nasdaq que, embora tenha consolidado fortes ganhos no acumulado semanal, encerrou o dia em queda ao passo que os juros dos títulos do Tesouro renovaram máximas, reacendendo os temores de que esse avanço retire o impulso das ações de tecnologia.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,90%, 32.778,64 pontos

Nasdaq Composto: -0,59%, 13.319,90 pontos

S&P 500: -0,10%, 3.943,34 pontos